"Uns e não Outros"
quinta-feira, março 10, 2005
Aqui fica o mais recente postal de Olho Crítico...
Tudo se cozinha na sombra que o país não sente drama, antes intriga e trama.
Em tempos, escrevi sobre os "eleitos", aqueles que, não se distinguindo em nada de outras tantas dezenas, eram os escolhidos dos deuses da terra. Informaram-me que era preciso usar certas vestes, frequentar certos ritos dominicais, ser sócio de agremiações desportivas, ou estar filiado, sem dar nas vistas, em certo ou certos ajuntamentos políticos. A escolha para aqui ou ali tem tudo a ver com isso. Trama. Bajulice, Espinal medula quebrada. Falta de opiniões próprias. Espírito burocrata e tacanho. Ausência de sentido de cidadania.
É tudo assim neste sonho de país. Na política, nas empresas, nas magistraturas. Poderes ocultos que decidem. Poderes ocultos que tramam e intrigam e lançam os incompetentes.
Os chefes, prenhes de poderes paranóicos, como se atribuem como próprios os poderes que exercem, fazem-no como lhes apetece. Escolhem por encomenda das "vestes", por pressão dos "rituais dominicais", das competições do "desporto rei", da bandeira partidária do bairro de S. João de Deus ou da freguesia de Cedofeita.
Fazem-no, desvergonhadamente às escuras, às ocultas, como se fazem todas as malandrices "made in Portugal". Tramam. Estão de saída e já encomendaram ao poder o sucessor. Não porque seja melhor ou pior do que outras tantas dezenas, mas porque, assim, se perpetua o poder do marasmo, do era, do que vai continuar a ser. Os chefes e subchefes permanecem, mesmo quando se vão, felizmente, embora. Permanecem por interposta pessoa. Deixam os rastos de uma burocracia feita de tudo anotar e regulamentar, como se a cidadania e as funções se conciliassem com praxes maníacas de controlar a liberdade e pensamentos dos outros.
Quem manda supõe que a indigitação é arbitrária, que lhe assiste legitimidade para a cozinhadela com os súbditos mais próximos, sempre prontos, ao longo de anos e anos, à curvadela de pescoço, ao beija-mão. Aferem a competência e sentido de funções pelo "amen" dos graxistas, pelos agradecimentos sabujos dos protegidos e perseguem, muitas vezes sem pudor, os que pensam, sobretudo de modo contrário. Para essa gente, que pulula em tudo quanto é Estado, deter uma minúscula parcela de poder, é ser soberano medieval, não ouvem ninguém, mandam, ou pensam que mandam, desconhecem o furor que suscitam nas mentes caladas da maioria que os "serve" (???). Rodeiam-se de oportunistas.
São esses chefetes a prazo que deixam outros chefestes a prazo e vão perpetuando a incompetência, o aproveitamento dos lugarzinhos para fins imorais , para a protecçãozinha de outros futuros chefetes a prazo, por aí fora de ano para ano de dezenas de anos para dezenas de anos. Repercutem-se sempre, eles são "uns" e os restantes são "outros".
AMEN.
Olho Crítico
Publicado por josé 13:57:00
4 Comments:
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O que o Olho Crítico escreveu e me enviou para colocação no blog – como sempre acontece por opção daquele – acaba por me vincular à posição desagradável de mensageiro de más novas. Devo por isso demarcar-me quanto à autoria do que está escrito, porque o postal é da exclusiva responsabilidade de quem o escreve, como sempre acontece por aqui.
Mesmo assim, para não figurar numa galeria de hipocrisias ou de putativos pilatos, arrisco por alguma estopa no assunto e até dar uma ou outra martelada em pregos que lá estão.
Estou de acordo com o escrito do Olho Crítico no que se refere à influência perniciosa da Maçonaria; da Opus Dei e das Associações secretas ou não e que permitem convícios espúrios e amizades sem fronteiras, com intuitos de exercícios de influência, em jogos de poder.
Explico melhor: se as escolhas de responsáveis pelos órgãos superiores do Estado ( e a magistratura, particularmente a do MP, é um deles) passam pelas afinidades ideológicas, compatibilidades de cultos capelas ou lojas, estou contra e fico à espera que me demonstrem a utilidade na escolha por essas vias travessas. Parece-me indesmentível a atracção fatal que esses clubes exercem sobre figuras publicamente reconhecíveis como agregadoras de outras amizades e afinidades de razões que a razão desconhece.
A ideia básica, nestas coisas, filia-se na inexistência da transparência que é apanágio da democracia e que contraria por isso os nepotismos de todo o tipo, os amiguismos e corrupções morais que misturam as instituições com a vidinha particular e o porreirismo. Parece-me uma ideia basicamente consensual.
Estou ainda de acordo quanto à mediocridade das chefias ser um cancro social que mina a coesão e a possibilidade de se atingir a excelência nas organizações que delas dependem. O bom é inimigo do óptimo e a objectividade da análise das competências não deve ceder perante a subjectividade da proximidade e do amiguismo. Amigos, amigos, “negócios” à parte, poderia ser o mote.
Continuo de acordo com a denúncia de tramóias hipócritas e escondidas, sempre inexplicadas porque jesuíticas, mas que deixam rabos de fora maiores que os da raposa que vai às uvas. Sem eufemismos literários, estou de acordo na denúncia de que quem faz mal a outrém, profissionalemnte, deveria ter coragem de o assumir perante esse outrém e não esconder-se em subterfúgios legalizantes e escapatórias processuais.
Continuo a acordar em que as escolhas de representantes de instituições corporativas do Estado que não dependem directamente do Governo, devem fazer-se às clara; sem nomes soprados e ventilados por quem tem poder e influência para tal, na sombra da opinião pública.
A escolha de alguém que responda perante uma hierarquia que não é sufragada democraticamente deve ser rodeada dos maiores cuidados e cautelas, preferencialmente através de um processo informalmente eleitoral. Evitar-se-ia, nesse caso, a escolha por indigitação do tipo eclesiástico, onde os bispáveis vão preparando a carreira à medida das aparências da virtude.
Como isso não é assim, perfilam-se os candidatos sem o ser; aparecem os interessados sem o merecerem; surgem os caçadores de oportunidade de ocasião que muito natural e humanamente aproveitam o processo de escolha para ascenderem a posição de relevo social. É humano e razoável pensar que as coisas assim acontecem e esquecê-lo ou submergi-lo em vituperações não afugenta o mal que isso representa.
Tudo isto me parece meridianamente compreensível e inevitável perante o processo de escolha que existe.
A denúncia de Olho Crítico, neste contexto, não me parece despropositada nem desajustada, mas lúcida, frontal, corajosa e ...talvez ingénua, pois luta contra um moinho que tem muito vento e que é o do conformismo.
Não atender a este vento, porém, significa poder ser levado por ele, para lugares infrequentáveis.
O que se pergunta, muito directamente, é:
estaremos sujeitos irremediavelmente a estes jogos de poder palaciano em coisas que nos dizem respeito e para as quais temos legitimidade em perceber e saber?!
Devem, os que estáo de fora do jogo "rachar lenha" , como se dizia no meu tempo de rapaz de escola para quem estava de fora a ver jogar cartas?!
Não me parece que tenha de ser assim e que a discordãncia frontal quanto a estes métodos, configure crime de lesa majestado- porque não há majestade!
Assim, ao contrário do que escreve o caro LC, que neste caso me parece estar a ver mosquitos por cordas, passe a expressão que não quero ofensiva, não me parece também que pelo escrito se transpira o despeito, ódio, vingança e vileza, pela medida grande. Parece-me mais um estilo que como todos sabem é o homem!
Esta fervura precisa de água e é nesse sentido que vai este balde.
Atendendo ao conteúdo literal do texto, por outro lado não deixa de ser curioso que se queira ver nele um ataque pessoal a alguém. É que das duas uma, ou isto é um país de santos e a carapuça só serve a um, e um só (!), ou, à custa de se fazerem passar por anjinhos, há por aí outros olhos que à custa da sua alegada indignação mais não fazem do que tentar chamar a atenção para um qualquer pecador em particular, à custa dos outros claro...
a propósito da con cochecol rosa-choque, defendia a "contextualização".