O estado da (des)graça

Se havia ilusões estas já se perderam, todas. Temos de facto um governo mais discreto, mais sóbrio, mas da mais pura gestão corrente. Reformas, a sério, o Eng. Sócrates só as fará se for obrigado. Por estes dias aquilo a que temos assistido é do mais puro profissionalismo, é um facto, mas, é só cosmética.

Atente-se no caso do anúncio da a liberalização da venda dos medicamentos que actualmente não precisam de receita médica. Um governo forte, e que quisesse ser levado a sério, numa matéria destas que é eminentemente política, deliberava, decidia e legislava, sem hesitações Por cá anunciou-se, lançaram-se para o ar umas ambiguidades para segurarar a Associação Nacional de Farmácias, e desespera-se. O que vai acabar por ser feito sobre a capa de liberalização (e adorava podre estar enganado) vai ser permitir - apenas - a criação de farmácias puras e duras em grandes superficies e similares, mas só com um farmacêutico por perto (!) isto para vender aspirinas e afins... Esta até pode ser uma excelente medida para combater o desemprego de desempregados liicenciados em farmácia mas, e essa é que é a questão, não é uma liberalização da venda de medicamentos (os tais que não tem receita médica), é simplesmente uma extensão do cartel das farmácias às grandes superfícies. Uma liberalização a sério seria permitir a qualquer entidade criar a sua própria farmácia, onde lhe desse na gana, desde que cumprisse os requisitos legais (farmacêutico, etc) sendo que o mercado se encarregaria de decidir do número, e localização, ideal de farmácias acrescida da possibilidade de vender em cada loja da esquina os tais medicamentos que não necessitam de receita. Até prova em contrário nada disto vai acontecer.

O que está a acontecer é que o PS não precisou de anunciar a intenção de criar uma qualquer central de informação, porque já tem uma a funcionar, e muito bem.

Quem manda neste governo não são os ministros, são os spinners ... Os ministros mandam-se calar pura e simplesmente. As notícias i.e. as medidas caem a conta gotas, cuidadosamente, sem overlappings para não se perderem, e são todas estudadas, muito bem estudadas. Eu não tenho nada contra que um governo trate e bem da sua imagem, acho-o aliás fundamental, mas para mim isso passa por explicar as coisas bem, e não vender banha da cobra.

Se este governo acha que é preciso um aumento de impostos que o diga, e já ! O povo português não é parvo e já percebeu que está a ser sondado, testado. Todos os dias saem notícias, fugas cirúgicas e anónimas, é o IVA que pode subir, é o preço do Imposto Automóvel ou do Imposto sobre os combustíveis, é do raio que o parta, nunca se confirmam, até ver. Eles, os polsters, estão a ver o que provoca menos irritação, o que passa melhor, com mais "serenidade". Em suma estamos a ser governados às apalpadelas, enquanto cobaias.

As coisas podem ser assim ou assado, dependendo das sondagens do dia, e nunca se fizeram tantas sondagens como agora. Ironicamente, ou se calhar não, nada disto é original ou exclusivo do Dr. Sócrates, o Sr. Bush, e o Sr. Clinton antes dele, governaram e governam grandemente assim, cá na europa o Sr. Berlusconni faz o mesmo. É a esquerda, a nossa puritana esquerda, nas melhores companhias.

Quer isto dizer que não vai ser feito o que tem que ser feito mas simplesmente o que "puder" ser feito sendo que quem decide são as sondagens.

Isto, meus caros, não é ouvir as pessoas, isto é manipular as pessoas e, invariavelmente, vai acabar mal. E vai acabar mal porque se o producto for bom uma boa publicidade só ajuda, se não for... Tanta eficácia comunicativa só pode acabar mal. Porque mais dia menos dia um dos sabonetes (i.e. ministro ou afim) vai escorregar e escorregando quando maior for a distância entre o public(it)ado e a realidade pior vai ser, porque os amigos não vão conseguir abafar todas as notícias, todo o tempo... E vai também acabar mal porque numa medida intrinsecamente de esquerda este governo começa a dar mostras de ser incapaz de assumir rupturas, e assumir rupturas implica que alguns terão de fazer mais sacríficios para que no futuro todos possam viver melhor.

A discussão que se vive por estes dias sobre a carga fiscal demonstra e é indiciadora da cobardia deste governo . Entre fazer as reformas, e assumir os tais sacríficios, com cortes reais na despesa, com despedimentos - na função pública, com fim da manutenção artificial através de subsídios de subsectores sem qualquer viabilidade, etc - e não as fazer e diluir os custos por todos (aumentando a carga fiscal) o caminho está a ser traçado, continuando assim a hipotecar-se o futuro e perpetuando com novas vestes a estratégia da avestruza, o que é feito desde o tempo do Eng. Guterres...

O Eng. Sócrates é de facto, e até ver, bem menos trapalhão que o Dr.Lopes, mas fora isso, fora a embalagem, está a demonstrar ser igual... É a vida.

Publicado por Manuel 16:15:00  

1 Comment:

  1. Qtolomeu said...
    Não estará na hora de reavaliar esta questão das Farmácias?

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