João Miranda, blasfemo residente, é um dos expoentes máximos da demagogia blogosférica, ombreia mesmo com a malta do barnabé, com quem partilha a mesma cegueira, geralmente de sinal contrário. Por detrás de uma arreigada ideologia liberal (?) esconde-se um conservadorismo, primário e básico, arreigado que o impede de pensar com clareza e ver para além de maniqueísmos e dicotomias já com barbas. Hoje, outra vez, julga ele que descobriu mais um barril de pólvora. Escreveu...

Caça ao autarca

Não é surpreendente que os centralistas digam que os autarcas são corruptos. Seria surpreendente se eles dissessem que os serviços do estado central são corruptos.

Não sei porquê, lembrei-me agora da Junta Autónoma das Estradas, da Expo, do fisco, da colocação de professores por decisão arbitrária dos serviços, do ministro que meteu uma cunha para a filha, do Freeport, da Fundação Vara, de Macau, do financiamento partidário e de muitos outros casos.


para logo a seguir, com a modéstia e presunção useiras, rematar que...

All your mind are belong to us

Alguns leitores irritam-se com as críticas ao centralismo que aqui se fazem. É falta de hábito. Num país em que as elites dependem do estado central e em que a comunicação social mantém relações promíscuas com os políticos da capital, é natural que as raras críticas ao centralismo que chegam ao espaço público sejam vistas com estranheza. Mas, como com tudo o resto, é apenas uma questão de hábito.

Eu não sei em que mundo habita João Miranda mas, não deve ser no mesmo que o nosso, meros e indigentes mortais que não nos curvamos babados para a sua alegada e propalada sabedoria. A questão da corrupção existe, ponto final, e não é mais ou menos grave se praticada pelo Governo Central ou pelo "poder local". O facto de existirem prevaricações num lado não serve de desculpa para justificar desvios no outro, pelo que vir com o exemplo da corrupção para criticar o centralismo é pura desonestidade intelectual digna porventura de uma Fátima Felgueiras, à espera da qual estarão em Pedras Rubas os Mirandas deste mundo quando ela regressar que o vai, e muito em breve, agora que está em passo acelarado o processo da sua reabilitação. Por outro lado, a escolha não tem que ser feita imperativamente entre o presente poder central, tal como se encontra definido e instituído, e o presente poder local. Não é díficil engendrar modelos evolutivos mais sensatos e sustentáveis. Mas falemos de élites, só um cego, um cego autêntico, é que ainda não percebeu que um dos grandes problemas do nosso sistema político, um dos problemas, quiçá o maior, que impede a renovação do tecido político é a forma como o sistema autárquico português está instituído. Na mente simplista de João Miranda temos um Estado Central pérfido e mau e o filme acaba aí. Só que não acaba. Antigamente acabava, agora não. Antigamente ou se tinha o poder central ou não se tinha nada, daí que líder de partido que perdesse umas legislativas pouco tempo sobrevivesse porque deixava de ter lugares e mordomias para distribuir. Hoje a música é outra, há muito mais lugares e mordomias, e dinheiro, para distribuir nas autarquias, pelo que a travessia no deserto de um grande partido é muito menos penosa já que o poder local funciona como uma bolsa de ar que permite a lideranças e aparelhos fracos e derrotados nas urnas em eleições de carácter nacional aguentarem-se à espera que o ciclo volte a ser deles. O facto, é que o poder local, este modelo de poder local, impede um verdadeiro darwinismo nos aparelhos políticos, mormente nos dois maiores, já que mesmo nos piores momentos as suas lideranças tem sempre, muito, poder para distribuir. É, em suma, um modelo anti-liberal. Não admira pois que não haja grandes, e substantivas, renovações, por exemplo, no PSD pós 95. Pior, as novas "élites" provem das autarquias, não são escrutinadas, e com elas trazem todos os vícios. Mas o actual modelo tem ainda muitas outras perversões. Há municipios a mais, orgãos, e entidades, não eleitas a mais e a mais completa falta de racionalidade em todo o modelo presente. Não há qualquer conceito de escala. Se em vez de, demagogicamente, se pregar contra o poder central se pensasse, coisa que às vezes faz bem, e sem constrangimento de atingir os poderes instalados, não seria díficil chegar-se a um novo modelo, um modelo que passaria por ter menos munícipios, menos duplicação de meios e estruturas, que passaria por ter um estado central com menos competências, a tratar essencialmente do planeamento e concertação, que delegaria num layer intermédio (se não quiserem, porque provoca alergias, não lhe chamem regiões), e onde tudo, e todos, fossem eleitos, directamente. Junte-se a isto, sem prejuízo do princípio da subsideriedade, a implementação de impostos locais (as então, circa 1980, tão contestadas poll taxes da Sr.a Thatcher que são hoje um sucesso no Reino Unido) e temos um novo sistema que no seu total emprega menos gente que o actual, que é mais leve, mais dinâmico e funcional. Hoje compensa a qualquer Marco António, autarca, construir, por muito irracional que seja, uma piscina por freguesia, e os eleitores até votam para isso, com o actual sistema o crime compensa porque o gastador é o estado central já que é a estes que se pagam os impostos. No momento em que uma parte substantiva destes impostos forem locais, em que houver competitividade entre regiões/meta-municípios o dislate acaba, e acaba porque o contribuinte-eleitor rapidamente percebe para vai o seu rico dinheirinho e deixa de tolerar extravagâncias. Isto, João Miranda, mais que reformas liberais, que também são, são reformas sensatas, o seu discurso jardinista não é nem uma coisa nem outra.
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Publicado por Manuel 19:49:00  

4 Comments:

  1. Anónimo said...
    amigo "manuel".não gaste oseu latim com o jm. eu passei o dia todo tambem a enviar comentários para o blasfémias dizendo tambem o mesmo que voçe aqui disse(mas melhor do que eu),mas o tipo pura e simplesmente cabou de sair de dentro de um ovo com um paraquedas atrás e não atina nem por mais uma - pedro silva
    Anónimo said...
    O negrito, em geral, é utilizado para salientar certas passagens, ou palavras-chave, que o mereçam. O Manuel torna este recurso inútil, pois realçar metade do texto apenas contribui para torná-lo ilegível.
    Anónimo said...
    Que nunca lhe doam os dedos (concordo com tudo o que escreveu).Embora talvez saia um pouco do âmbito do "blog" que tal colocar na web um manual de instruções sobre aquilo que é necessário para formar uma lista de cidadãos que concorra por exemplo a uma junta de freguesia?
    Salvador said...
    a sua abençoada sensatez face ao radicalismo do JM convence-me pouco. A questão prende-se com o adoptar de um sistema que reduza os efeitos da corrupção. Se você se limitasse o seu discurso à argumentação e se este fosse mais curto talvez eu tivesse acabado de ler. Como não o li não o posso comentar, mas posso dizer-lhe o seguinte: você não sabe utilizar o negrito.

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