"fulminante", ou de como o "choque tecnológico" se transforma afinal num mero frete aos grandes empreiteiros de obras públicas...

Sócrates foi fulminante na Assembleia. Há anos que não via um primeiro-ministro tão afirmativo, esclarecido, seguro do caminho, disposto a trabalhar.

João Morgado Fernandes

Quanto à parte do "como vai ele convencer privados nacionais e estrangeiros a investir 20 mil milhões em auto-estradas, aeroportos e coisas do género" é simples. Impostos. Porque quando se fala em privados, se fala em vinte mil milhões de €uros, ou se está a falar de coisas como portagens ou de miragens como SCUTS. Um primeiro ministro a sério diria simplesmente que não havia dinheiro para tudo e que portanto seriam definidas verdadeiras prioridades, faria a triagem entre o essencial e o assessório, entre o necessário e imperioso e o desejável, mas como até estamos em ano de autárquicas, como certos lobbies adoram grandes e faraónicas obras públicas, como estas são uma forma de manter o desemprego artificialmente não muito alto e injectar - algum - dinheiro na economia tivemos o anúncio de hoje. Não se aprendeu com a Expo/98 (que iria dar lucro lembram-se), com o Euro/2004 (cadê os resultados) e continua sem se apreender. Afinal é infinitamente muito mais díficil dizer que não, estes anúncios fulminantes - a expressão não é sequer minha - soam melhor. E depois convinha olhar para a Irlanda. Eu sei que é um chavão, mas lá eles reformaram primeiro o Estado, e sobretudo a Educação, arrumando a casa, e só depois fizeram as grandes obras públicas. Por cá, as grandes obras públicas já estão feitas, foram-no no tempo do cavaquismo, serão precisas mais, são, mas não servirão rigorosamente de nada, repito, de nada, se o resto não for feito. E só se arranja dinheiro para as pagar, só se arranja uma economia capaz de as sustentar, uma sociedade capaz de as usufruir se antes tudo o resto for reformado. Por cá fulminantemente vai-se começar, outra vez, a casa pelo telhado, infelizmente ninguém explicou ao Eng. Sócrates que a ordem dos factores não é arbitrária e que nem Deus fez o mundo todo ao mesmo tempo...
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Publicado por Manuel 20:56:00  

1 Comment:

  1. Agnelo Figueiredo said...
    Numa só palavra: Excelente.

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