Vasco Pulido Valente
"Mentira"


A certa altura, Santana Lopes resolveu dizer que a "imprensa não o levava ao colo" (como levava Sócrates, suponho). Muito mais tarde, incluí essa queixinha numa longa lista, que tentava ilustrar o desequilíbrio do homem. Calhou que nesse mesmo dia (ou na véspera à noite), no fim do famoso "comício das mil mulheres", Santana voltou a falar em "colos": os que ele preferia e os que ele insinuava que Sócrates preferia. Só soube do caso na manhã seguinte pelo PÚBLICO, que trazia a minha coluna (escrita como de costume na tarde anterior) com a história do "colo da imprensa". Para quem a lesse, não havia confusão possível entre "colos". De resto, até para quem não a tivesse lido, misturar o "colo da imprensa" com o "colos" do comício era um acto de má-fé. Mas nada disso impediu Santana de me citar no debate com Sócrates, para fingir que se referira ao "colo da imprensa" no "comício das mulheres". Surpreendentemente, apareceu logo quem acreditasse nesta habilidade pueril. E não é a primeira vez que isto acontece. Em balanço, a mentira cria a dúvida ou a confusão e acaba por favorecer Santana. Existe no mundo político português, e também nos "media", uma certa relutância a chamar os bois pelos nomes, que nunca se viu tão claramente como hoje. A pretexto de que não se deve discutir a vida privada de cada um, não se discute a vida pública de ninguém. Além disso, a vida pública e a privada não são inteiramente separáveis. Não se muda de carácter porque de repente se entrou num partido ou no governo (ou numa televisão ou num jornal). Um aventureiro, um arrivista, um falsário, um irresponsável e um mentiroso contumaz não deixa de o ser quando atravessa a linha (de resto, indefinida e convencional) para o domínio público. Fica ele próprio - e cedo ou tarde mostra o que verdadeiramente é. As pessoas de Santana e Sócrates podem e devem ser discutidas. Não discutir a sexualidade de cada um, não significa conceder um privilégio de silêncio para tudo o resto. Se, por exemplo, Santana mente, convém escrever letra a letra que m-e-n-t-i-u e não disfarçar a coisa com um eufemismo qualquer. Permitir que a "moral" política (ou a latitude "moral" concedida aos políticos) se afaste excessivamente da "moral" comum equivale a declarar a política uma actividade meio criminosa, a que alguns malandros se dedicam por inconfessáveis razões. Claro que o país já não anda longe dessa ideia, mas talvez seja bom não a confirmar.

in Público


Entretanto, hoje, temos, depois de ontem ter sido a vez do filho de Francisco Sá Carneiro, também David Justino a barafustar contra as verdades do Dr. Lopes. Minudências. Para quê deixar que a Verdade estrague uma "boa" história. Para finalizar, e depois de muitas insistências fui ver, ao site oficial do PSD, o video-clip do Dr. Lopes, ao som do "menino-guerreiro". Inenarrável.

Publicado por Manuel 10:29:00  

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