"Não votam?", por Pedro Strecht
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
Não votam os menores de 18 anos.
Não votam as crianças nem os adolescentes.
Não votam os bebés.
Não votam os que não chegam a nascer porque as mães precisam de fazer do aborto um meio de contracepção que, acima de tudo, é de alto risco e sempre traumático para quem o pratica.
Não votam os que nunca chegam a nascer porque os pais não podem, sobretudo economicamente, tentar outras formas de fertilização.
Não votam os que nascem em famílias que vivem abaixo do limiar de pobreza e não têm direito à dignidade de uma casa, de comida, conforto e até de cuidados regulares de saúde que sejam dignos desse nome.
(...)
Não votam os que são vítimas de repetidos crimes, como os maus-tratos, a negligência e todas as formas de abuso, emocional, físico e sexual. E aqueles que esperam indefinidamente, sem qualquer sentido nesse tempo, por uma qualquer decisão da justiça que, pelo menos, lhes dê um sentido de protecção e reparação.
Não votam.
Sabemos que não votam porque simplesmente não é possível.
Porque se votassem, os resultados seriam sempre diferentes e, para muitos, isso seria, acima de tudo, uma ameaça. Mas não é isso que aqui está realmente em causa... Não votam mas é porque as suas vidas não se inscrevem na vida daqueles que os deveriam proteger.
Mas quem deles cuida, quem para eles olha, quem neles repara, quem os ouve, quem com eles fala, quem os valoriza ou ama, sabe o que eles esperam de nós: que alguém os defenda nos seus interesses e os coloque, apenas, a existir na cabeça de quem decide uma série de coisas que lhes são fundamentais.
E é esta ignorância sobre o papel e a importância do bem-estar dos mais novos para o funcionamento saudável de qualquer sociedade que constitui, hoje e num futuro próximo, uma vergonhosa lacuna para todos os que agora fazem parte da geração de adultos e que, um dia, a história julgará.
Não votam? Era só para lembrar...
in Público
Publicado por Nino 19:17:00
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