"Desejar o Temido"
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Quando Santana Lopes chegou ao poder, por cooptação, houve quem vaticinasse que ele não mais largaria o poder: largou o lugar!
Quando Santana Lopes entrou aos tombos na sua errática governação, com ministros do seu próprio governo a dizerem publicamente que ele não era credível, houve quem garantisse que ele não seria demitido: foi demitido!
Quando Santana Lopes entrou em campanha eleitoral houve quem augurasse que o animal político que ele era não podia ser subestimado e que o candidato em acção tinha largas hipóteses: a campanha eleitoral foi um desastre!
Agora que Santana Lopes, enxovalhado e ridicularizado, é obrigado a abrir o problema da sua saída como Presidente do PSD, há, entre os analistas, quem avise que o homem ainda se pode candidatar e ganhar o partido!
É espantoso como há pessoas que desejam precisamente aquilo que receiam.
Estava na cara que o homem era uma desgraça, que ia afundar o PSD num naufrágio, e que sairia, enfim, pela porta baixa. E, no entanto, foi graças a esse pensamento de desejar o temido que no PSD se permitiu que ele chegasse à situação de presidente do que era o maior partido português e a primeiro-ministro de Portugal: referendado mesmo em Congresso como única alternativa política possível que o partido tinha para oferecer. Uma vergonha!
Em relação a Sócrates, ainda está tudo para se conhecer: não é apenas o saber-se quem vão ser os ministros, o que já faz alguma diferença, nem saber-se quais são as ideias que, agora que a campanha acabou, vão ser, de facto, aplicadas: o que importa apurar é quem serão os Antónios Vitorinos que, disfarçados de números dois, só se sentiriam bem como números uns.
No mais, imaginar que Mário Soares, Almeida Santos e António Guterres estão exultantes por verem este «parvenu» chegar a uma maioria que eles nunca alcançaram quando a ela se candidataram, é não conhecer da natureza humana o pior de que ela é capaz.
«I know not what tomorrow will bring», escreveu Fernando Pessoa, num papelinho a lápis, pouco antes de morrer. E morreu.
José António Barreiros
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Publicado por Manuel 18:53:00
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