Sérgio Figueiredo
"O Mergulho da Semana"
quarta-feira, janeiro 12, 2005
A cada dia que passa, a dúvida que se instala no espírito dos portugueses já não é se devem ou não apear o PSD do Governo, se devem ou não fazê-lo com uma humilhante maioria absoluta. A grande questão começa a ser outra, bastante mais simples: conseguirá Pedro Santana Lopes sobreviver até lá? Será capaz de resistir até ao dia das eleições? Está a descobrir-se, nestes tempos de pré-campanha, que o homem não é afinal um trapalhão a governar. É um autêntico pirómano à solta, um homem-bomba pronto a implodir a qualquer momento, sob qualquer pretexto e a qualquer grau de importância.
Francamente, a viagem-turismo, mascarada de oficial, do ministro Morais Sarmento assume uma dimensão de verdadeira tontaria diante daquilo que está em jogo nestas eleições legislativas. Só uma sociedade com indícios preocupantes de senilidade ou no limiar da irresponsabilidade colectiva se entrega a uma polémica deste calibre.
A economia está quase estagnada, não se vê no horizonte o fim deste período de crescimentos medíocres, temos de fazer opções drásticas e urgentes para preservar o essencial do sistema de segurança social que temos, estamos à beira de escolher o Governo que imprime – ou não – o ritmo das reformas necessárias. Portanto, não faltam temas relevantes para tirar a nação do buraco. E qual deles ocupa horas de emissão, nas rádios e têves? O mergulho do doutor Sarmento!
Alimentado por uma oposição hipócrita, que não há muito tempo viu os seus ilustres deputados apanhados no esquema das viagens-fantasma, já para não falar das «deslocações oficiais» aos jogos do FCP no estrangeiro. Mas é assim mesmo... ao povo que pede mais pão que não lhe falte pelo menos o circo.
Estadista, o primeiro-ministro está em Paris e reage à porta do Eliseu, manda o seu gabinete em Lisboa emitir um comunicado incompreensível e, em vez de esvaziar uma polémica cretina, amplifica-a ao confessar que a escapadela do seu ministro de Estado o deixou incomodado.
No mesmo dia, e não por acaso, não faltavam assuntos nos jornais. Eduardo Catroga dizia ao DN coisas absolutamente decisivas sobre a competitividade fiscal do país. Miguel Cadilhe acrescentava ao JN mais argumentos à discussão em torno do «trade off» entre peso do Estado e impostos. Este jornal avançava, entretanto, com ideias que o PSD está a ponderar no seu programa eleitoral. Propostas que justificam um amplo debate nacional, tocam problemas de fundo e, no concreto, respondem a diagnósticos somente teorizados.
Na segurança social, aumentar as pensões para quem aceite trabalhar mais anos. O início, e apenas só isso, de um caminho, tão doloroso quanto inevitável, que irá tornar a nossa vida contributiva mais longa, reaproximando idade de reforma e esperança média de vida. Ou colocar ponto final nessa absurda discriminação, onde só os trabalhadores de uma única entidade patronal, o Estado, podem reformar-se aos 60.
Santana prefere, porém, outros temas. O mergulho é do outro. Mas ele é quem se afunda.
in Jornal de Negócios
Publicado por Manuel 09:48:00
1 Comment:
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- Joaquim said...
5:33 da tarde, janeiro 12, 2005Alguém me disse ser inevitável, e mais justo, que os reformados passem a fazer descontos!
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