Cavaco e a regeneração do PSD...
quarta-feira, janeiro 05, 2005
A recusa óbvia do Prof. Cavaco em se associar ao imbecil cartaz de campanha proposto pelos marketeiros do Dr. Lopes está a provocar as reações mais curiosas. Desde o texto do comissário Luis Delgado, ao editorial de Miguel Coutinho, ambos no DN, passando pelo editorial de José Manuel Fernandes no Público, e terminando pela divertidas posições de dois líderes distritais do PSD (quem?), Coimbra e Setúbal, que já sonham com sanções partidárias a Cavaco. Isto para não falar dos que criticaram o eufemismo usado por Cavaco, a já célebre "perturbação da vida académica".
Começando pela última questão, sejamos claros: ressalta evidente que o Prof. Cavaco é uma pessoa vertical, leal e bem educada. Queriam que ele dissesse o quê ? Que mais explicitamente ainda dissesse que o Dr. Lopes é um inapto funcional e orgânico ? Fizeram-lhe uma pergunta, e ele delicada e polidamente respondeu. Ponto final. E como bem notou, em post abaixo, o Rodrigo Moita de Deus, a resposta não é tão exótica quanto isso.
Quanto a questões substantivas, é uma peninha ver cabeças inteligentes, como os editorialistas do Público e do DN, a debitarem disparates. Ao contrário do que escreve José Manuel Fernandes no Público, o problema não é o PSD já não existir, muito pelo contrário. Ontem, de uma penada, o Prof. Cavaco deu um contributo inestimável não só para a credibilização do sistema político, mas sobretudo para a regeneração e re-credibilização do PSD.
Inequivocamente, e sem eufemismos, o que o Prof. Cavaco fez não foi mais do que recordar aos mais distraídos que o objectivo supremo de um partido, mormente o PSD, não é conquistar, ou manter, o poder.
O que o Prof. Cavaco fez tão pura e simplesmente foi recordar que um partido político não pode pensar e agir como um mero clube de futebol. Já Sá Carneiro, que muitos citam, mas que muito poucos imitam, dizia que antes do Partido estava o interesse do País. E é justamente o interesse supremo do país que está em causa. O Prof. Cavaco mais não fez do que pôr um travão numa lógica de lealdade e solidariedade orgânica proto-social-fascista típica de organizações totalitárias à la PCP. Nem mais nem menos.
Do PSD tem que se esperar sempre, repito, sempre, as melhores soluções e as melhores ideias.
O pior que um militante responsável e coerente, ainda por cima com as responsabilidades do Prof. Cavaco, poderia fazer ao PSD seria permitir que este se transformasse numa espécie de Sport Lisboa e Benfica do sistema político, vivendo não à sombra dos triunfos actuais, mas de glórias passadas.
A outra questão que veio à baila foi a inevitável questão presidencial, sendo que implicitamente se alega que o Prof. Cavaco não poderia dizer que não, mesmo que tivesse razões para tal, porque precisará do apoio do PSD/aparelho para as Presidenciais. Uma absoluta falácia. Para começar, o Prof. Cavaco não precisa do apoio do PSD/aparelho para rigorosamente nada. O grande drama do Prof. Cavaco sempre foram, aliás, os apoios, inconvenientes demasiadas vezes, provenientes dessas bandas, e depois, se há aspecto perversamente positivo da guerrilha, cobardemente não assumida, movida desde há muito tempo pelas milícias do Dr. Lopes ao Prof. Cavaco, é o facto de essa acção de guerrilha só reforçar objectivamente o ex Primeiro-Ministro como património, não do PSD mas do País, ao lado e bem acima de tricas partidárias. Quanto à campanha propriamente dita, e embora eu espere sinceramente que o PSD recupere mais rapidamente, alguém consegue imaginar maior regeneração do sistema político do que se ter uma campanha presidencial, potencialmente vencedora, a ser desenvolvida, do primeiro ao último dia, à margem do aparelho do PSD ? Eu não consigo, e por isso é que já em 2003 (pois é) por aqui escrevia que o melhor que podia acontecer ao Prof. Cavaco, que não ao certo PSD, era o Dr. Lopes ser ele também candidato presidencial...
Já quanto aos dois liliputeanos personagens que sugeriram sanções disciplinares (!) no âmbito do PSD ao Prof. Cavaco, só uma notazinha - ninguém sabe quem são, nem nunca saberá. Valem, politicamente, ZERO.
Vivemos tempos interessantes, sem dúvida. Há coisas que são simplesmente imparáveis, o Futuro regressa a partir de 20 de Fevereiro.
Publicado por Manuel 17:37:00
Mas qual será a vastidão dos estragos?
Custe o que custar (e vai ser custoso e gostoso)é inevitável a recomposição do espectro partidário, quer nas Direitas quer nas Esquerdas. Um modelo de trinta anos, com boas e más experiências (AD's,PRD,P.Solid,FRS,Op.Inad.,APU´s, etc.etc.)ainda não esgotou o figurino, mas com os novos tempos e novas gerações, alterações demográficas e migratórias, exige perguntas para respostas que ainda não são problema.
Um deles é a correspondência entre realidades e grupos sociológic@s e correlativas identidades político-partidárias.
Outro é que o passado, enquanto memória, não é suficiente como referente político: faltará sempre o "up grade" ideológico caldeado pela experiência do passado mais recente.
Grave é que na Direita e nalguma Esquerda tal actualização é dada como impossível: as "aplicações" do presente já não reconhecem o "sistema operativo" fundador inicial - criaram um sistema pirata autónomo à revelia do operador.
Significativo é o facto de os "Pais Fundadores" alertarem para descontinuidades, esquecimentos e outros lamentos em que os "Filhos" são pródigos.
Ass. Maria da Fonte II