sobre o pinto dourado
quarta-feira, dezembro 08, 2004
PAÍS DAS BESTAS: O dragão-mor televisivo, Miguel Sousa Tavares, que cospe fogo regularmente também na imprensa ( "A Bola" e "Público"), já anunciou o caminho: a segunda fase da operação "Apito Dourado" é uma tramóia de águias e leões lisboetas que por acaso puseram a PJ, o Ministério Público e os Tribunais a trabalharem para alimentar os seus nefandos intentos.
É este mesmo dragão-mor que passa a vida a chorar-se nas páginas dos jornais contra a inexistência de investigações à corrupção. Eu não sabia era que essas investigações, para não irritar o cospe-fogo, tinham de ser criteriosamente escolhidas. Está-se sempre a aprender com estes corajosos e polemistas opinadores.
FNV in Mar Salgado
Ser portista não é ser "Dragão"
Ontem o Estádio do Dragão aplaudiu Mourinho à sua entrada em campo. Aplaudiu de pé, de forma civilizada e inteiramente merecida. Mourinho agradeceu e acenou para o público que, com ele e com os jogadores do Futebol Clube do Porto, ajudou um clube português a sagrar-se campeão da Europa.
Custa a crer que isto que estou a relatar não seja da mais elementar normalidade.
Infelizmente, não é.
Ou melhor. Infelizmente, esta atitude de cerce de 40 mil portistas é a atitude civilizada e curial de uma cidade evoluída e ocidental. Grata ao trabalho de alguém que ajudou a que todos tivessem um pouco mais de alegria e orgulho.
Só surpreende e é notícia este bonito momento, porque não corresponde à face pública do clube.
Os adeptos do FC Porto, graças a incompreensíveis e impunes atitudes de meia-dúzia de arruaceiros de bancada e dirigentes, levam por tabela com rótulos que não merecem.
Ficou assim mais uma vez provado, que ser portuense e ser portista, não significa ser "dragão", no pior dos sentidos que a expressão contem. Ou seja, significa que nem todos (ou quase nenhuns) dos que se sentam semanalmente no estádio do Dragão estão dispostos a aceitar pacificamente a atitude pouco civilizada e as opiniões idiotas de alguns outros, em nome de todos.
Se pensarmos que naquele momento Pinto da Costa continuava detido no Tribunal (e tendo em conta a sua relação e declarações recentes sobre Mourinho) os aplausos ganham ainda outro significado e mostram que o Futebol Clube do Porto é de todos os portistas e muito mais da cidade do que do senhor Pinto da Costa ou dos SuperDragões.
O Futebol Clube do Porto é, por isso, uma "pessoa de bem", na minha perspectiva, eventualmente lesada (e pode vir a sê-lo ainda muito mais) por um corrupto e meia-dúzia de amigos seus, oriundos do sub-mundo da prostituição e da corrupção mais básica e reles de que há memória na Europa do Futebol.
O exemplo dado pelos adeptos do Futebol Clube do Porto (sem que a veja como uma censura ao seu actual presidente) é, na minha perspectiva, um bom indício de que o FCP tem pulmões para respirar muito além de Pinto da Costa, de Mourinho, de uma má época ou de um mau treinador.
Quanto à carreira de Pinto da Costa fica também provado que nem todos engolirão sempre tudo o que provém da sua deformada mente. Nem todos aceitarão pacificamente sempre o que dele provém.
É também a prova de que o povo sabe muito bem distinguir as coisas. Que sabe premiar e penalisar independentemente do que querem que faça. E se Mourinho foi aplaudido, muito mais poderemos pensar que a influência política de Pinto da Costa nos adeptos do Futebol Clube do Porto é abaixo de zero.
O aplauso a Mourinho, na ausência de Pinto da Costa, é um sério aviso à navegação e, a mim (além de me remeter, naquele momento, para a cabeça de Fernandez, quase ingratamente esquecido na sua entrada em campo) é também uma prova de que o que escrevi em tempos se começa a cumprir. Lentamente, é certo, mas haverá já alguns dos que aplaudiram que colocarão intimamente a questão de se não será melhor começar a pensar em vasculhar os bolsos de Pinto da Costa... antes de males piores.
Publicado por Manuel 22:40:00
3 Comments:
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Hoje mesmo, mais uma vez, M.S.Tavares voltou a perder o tino, normalmente apurado,quando chegou ao tema do futebol.
Nunca percebi porque tanta gente do Porto alimenta esta sanha anti-lisboeta, esta mania persecutória, que os leva a transformar todos os triunfos do FCP em afrontas aos de Lisboa, «aos Mouros» e outras idiotices do género, que em nada abonam a reputação da cidade e do clube.
Justamente, por ter o FCP ganho já tantas provas prestigiadas não deveriam os seus adeptos proceder com tanta sanha regionalista, mas procurar incluir outros nos seus triunfos.
Talvez esta atitude inconsequente explique como, apesar de tantos êxitos, a sua expansão no país e no mundo é ainda escassa, nada consentânea com o palmarés já alcançado.
Oxalá estejamos em presença de uma significativa mudança, com o episódio aqui excelentemente relatado.
Sempre gostei do Porto, das suas gentes e do seu acolhimento e não confundo os portuenses com aquela turbamulta que vemos eternamente aos saltos e aos urros na televisão, sempre a insultar os adversários, principalmente quando estes são de Lisboa.
Infelizmente, Pinto da Costa, ao longo dos muitos anos da sua direcção, nunca nada fez para contrariar ou atenuar aquele estúpido comportamento. Pelo contrário, inúmeras vezes o acicatou, com os seus permanentes remoques, discursos inflamados e perigosamente regionalistas.
Claro que também temos disto por aqui, mas em menor escala e, sobretudo, com muito mais gente a demarcar-se de semelhantes atitudes, mesmo quando assumidas pelos seus correligionários.
Só os povos terceiro-mundistas por deficiente formação moral e intelectual e as massas caídas em profunda alienação aqui na Europa exaltam desta forma extrema o seu amor clubista no futebol.
É tempo de nos darmos conta de que o fenómeno futebolístico não merece tamanha devoção, apesar de todo o dinheiro que ele movimenta e da bajulação de que é alvo por certos políticos menores.
Peço desculpa, se me alonguei no comentário.
Botas
Quanto ao Nónio, gosto especialmente de um texto com o título "Inocente ou 'não culpado?'". Parece-me deveras uma interpretação curiosa, porque uma pessoa inocente (na verdeira definição da palavra) passaria a presumível inocente, visto o tribunal não conseguir provar a sua culpa (que poderia nunca ter existido). Segundo este raciocínio, qualquer pessoa ficará sempre com uma pequena mácula de pecado, porque segundo o ditado popular (do bom senso comum) "onde há fumo há fogo". Deveras interessante!