[n]o dia seguinte...


Num país normal a carreira política de Pedro Santana Lopes tinha acabado ontem. Todavia não acabou, nem vai acabar em breve. É não conhecer a criatura, Pedro Santana Lopes, e muitos dos que o rodeiam não sabem fazer mais nada, rigorosamente mais nada, que não seja viver daquilo, ou seja, da política. Não desistirão nem capitularão sem luta, sem fazer uso de todos os meios legítimos e ilegítimos para se manterem à tona. É dramático, mas é um facto. Não há, de um ponto de vista interno do PSD, condições objectivas para agora se tentar um abalroamento de Pedro Santana Lopes; este controla o aparelho, que ninguém sério, em seu perfeito juízo, quer recauchutar, e sobretudo precisa, e merece, ir a votos para que de uma vez por todas se exorcize o (pseudo)mito.

Com eleições em Fevereiro, na primeira semana ao que parece, não há pura e simplesmente tempo para reinventar o PSD e acabar com o divórcio deste com o País. Não há, e se Pacheco Pereira não sabe isso, e sabe, então temos mais um problema.

Sócrates é mau ? É sim, senhor, e dali não se augura nada de genial, e de facto se a maioria dos portugueses, dos que ainda tinham dúvidas, não queria Santana (alguem viu uma manif que fosse de protesto contra Sampaio? até o Alberto João está calado que nem um rato) isso não significa um endorsement automático ou eufórico a José Sócrates e à sua troupe Coelhonista. Mas também é verdade que pior, mais destrambelhado, que esta seita santanista nem Barroso nem Guterres.

Num país normal, nas próximas legislativas o PSD seria uma alternativa séria e credível, no país real vamos ter Santana Lopes candidato a primeiro ministro, porque, à falta de melhor prova, é a única maneira de não o vermos todos por perto nos próximos 20 anos, a ele e à sua entourage. É - em bom rigor e em bom Português - a única maneira de "matar o bicho".

Fala-se agora muito do Professor Cavaco, que é indubitavelmente uma referência para o País e para o PSD, mas omitem-se vários dados óbvios, já que não consta que o homem, que nunca teve pachorra para a politiquice, logo para o Partido, queira, ou tenha sequer um mínimo de condições para tomar conta do Partido com este aparelho onde ululam nulidades como Isaltino, António Preto, Marco António ou Fernando Ruas, ou sequer que, mesmo eleito, com esta Constituição, pudesse governar à revelia ou à margem do sistema, que não é presidencialista. As coisas são o que são, e é com elas que tem que se contar, e não consta que Pacheco defenda a criação de um novo Partido à margem deste PSD, para sustentar Cavaco...

E não se trata de qualquer incoerência ou cobardia do Professor Cavaco, trata-se de um vício do nosso sistema, tal como está desenhado; o mesmo sistema que achava, e ainda acha, que não era altura ideal de chutar com Santana.

Ironicamente, no imediato, o grande beneficiário de tudo isto é Paulo Portas e o seu PP. Não foi ele, de facto, quem estourou com esta legislatura; bem ou mal, cultivou com eficácia (quem se lembra hoje de Cardona?) a imagem de que os seus ministros eram mais competentes e trabalhadores que os dos PSD e vai pescar votos a um eleitorado PSD, puro e duro, que não se vai abster, não vai votar branco ou nulo, ou engolir um crocodilo chamado Santana, preferindo votar no PP. Não precisam de ser muitos votos, mas vão ser os suficientes para manter o PP na linha da frente, por mais uns anos.

Não se pense, porém, que está tudo definido ou que já são tudo favas contadas para Sócrates, porque isso, mais uma vez, é não conhecer o Dr. Lopes e os seus acólitos. Farão tudo, rigorosamente tudo, para lançar a confusão.

Aquilo que compete agora à Sociedade Civil é garantir, exigir mesmo, que nas próximas legislativas os Partidos, nomeadamente o PS e o PSD, falem verdade. Verdade sobre a situação das contas públicas, verdade sobre a necessidade imperiosa das reformas, verdade sobre o estado real do País.

Aquilo que PS e PSD devem, ou deveriam, pedir é um mandato claro e inequívoco para reformar de facto o que precisa de ser reformado, numa lógica de médio/longo prazo que extravaze o tradicional imediatismo. Aquilo que quem quer ser Governo deve pedir claramente aos Portugueses é uma licença clara e objectiva para impor sacrifícios na premissa de que esse é o único meio para que Portugal regresse ao caminho certo. O resto é conversa de chacha.

[to be continued]

Publicado por Manuel 17:43:00  

5 Comments:

  1. Alexandre said...
    boa. quem escreve assim não tem parkinson.
    António Viriato said...
    Poderia subscrever, quase de olhos fechados, o presente texto, se não fora uma certa falta de objectivação de propósitos que lhe encontro, ao não apontar ou não exigir responsalidades do descalabro e ao não apelar para uma verdadeira regeneração, em torno de sãos princípios e claros objectivos da governação do País, sem olhar a pertenças ideológicas, hoje fictícias, para que não voltem a ser beneficiados antigos e conhecidos infractores. É preciso «desviciar» o jogo e não procurar soluções dentro da desacreditada família, qualquer que seja o rótulo com que levianamente ela se adorne.
    Anónimo said...
    Mais uma vez o "Irmão" Manuel volta a pedir o impossível: que o PSD e o PS aceitem falar olhos-nos-olhos com o País.
    Impossível porque ambas as agremiações deixaram de contar com os cidadãos de carne e osso, preferindo o Zé ou o Tino imaginários que vibram com encenações musicais introdutórias dos líderes entronizados.
    Impossível porque ambos deixaram de ter programa e linha políticas claras e convincentes, preferindo o apelo dramático a maiorias absolutas que lhes permitam aplicar políticas ao sabor de conjunturas.
    Impossível porque os sectores modernos e inovadores da sociedade não querem, ou não podem, gastar tempo em demonstrar o óbvio: se o País não nos reconhece valor e não nos quer e não nos percebe, procuremos lá fora o reconhecimento que cá dentro nos negam.
    Do condicionamento industrial ao condicionamento afectivo e lúdico.
    Impossível porque ambos funcionam como gestores de influências a quem procure bons parceiros de negócio, cobrando a respectiva comissão.
    Impossivel porque as poucas vozes que pregam no deserto só servem para mostrar que ainda há alguma discussão de Ideias na turbulência do dia-a-dia.
    Soluções: Refundações ideológico-programáticas ou reajustamentos inter-partidários. Já estivemos mais longe da Itália que agora. O refrescamento geracional também há-de dar frutos (malgré Jerónimo de Sousa).
    Quanto aos "pequenos" partidos: O PP prova que a dimensão eleitoral e orgânica não são determinantes, mas sim as ideias(boas e más),a linha de conduta e a direcção política. No PCP refugiam-se nas "origens".
    No BE ou consolidam, ou perdem o pé.
    Conclusão: Face à alteração de Valores e a novos (e velhos) desafios os ditos decidem reganhar raízes nas relações sociais comunitárias, ou não será o marketing político descartável, que lhes trará ( ao PS e PSD) a confiança duradoura necessária para que Portugal mereça ser um país e uma nação recomendável.
    Adenda:Não se imagine a publicidade negativa que os últimos cinco meses deram a Portugal, fora de portas.
    Vão ser precisos 5 Jogos Olímpicos em Portugal para limpar a fachada!!

    Ass. Maria da Fonte II
    Anónimo said...
    "Mas também é verdade que pior, mais destrambelhado, que esta seita santanista nem Barroso nem Guterres."
    Isso só pode ser uma análise mais preocupada com os formalismos, do que em contacto com a realidade dos resultados...

    O que é que pensas do facto do Presidente demitir o Governo e não fazer uma declaração oficial ao País?
    Fernando Martins said...
    Se a data for a indicada neste texto, quero meu dinheiro de volta... Marquei uma actividade para 50 pessoas (quase Veneráveis Irmãos) aproveitando a paragem do Carnaval (vulgo férias :-) ) e vamos ter de faltar à chamada nas mesas de voto. Ó Dr. Sampaio, Grande e Venerável Inspector Geral da RP, faça sair uma prancha a dizer que estamos enganados...! E rápido, as Lojas estão inquietas...

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