Ninguém se indignou, porque quem pode pode, mas Patrick Monteiro de Barros, apresentado como o maior accionista privado da Portugal Telecom, falou feio e grosso ao Expresso deste fim de semana. A vítima, numa primeira análise, foi Abel Mateus e a Autoridade da Concorrência, mas em última instância quem Patrick Monteiro de Barros insultou foi todo um país. Do alto da sua arrogância o amigo americano do BES veio dizer que não respeita o Estado, que não respeita o titular da golden-share, esse mesmo Estado, e dá-se ao luxo de dar conselhos e palpites ao Órgão, desse mesmo Estado, que deveria regular o Mercado, e garantir garantias mínimas de normalidade, lealdade, transparência e livre concorrência no mesmo - a Autoridade da Concorrência. Monteiro de Barros poderia até ter razão na substância, não tem. A PT que ele defende é a mesma que tem uma contabilidade tão má, tão má (é só um eufemismo) que não "consegue" calcular a rentabilidade da sua rede de cobre abstraindo-se assim de baixar os preços dos circuitos de cobre aos restantes operadores porque (!) não sabe ao certo quanto lhe custam a ela (foi esse o motivo da rusga ordenada por Abel Mateus)... A PT que ele defender pode ser dos maiores e mais rentáveis gigantes económicos portugueses mas, quanto dinheiro, e tempo, já perdeu o país por ter um monopólio de facto na área das telecomunicações ? Quanto já perderam os consumidores ? A PT que ele defende só existe tal como existe porque não há coragem, nem vontade, de a desmembrar, de a tornar mais competitiva e ao mercado, de separar o retalho do ramo grossista e o cobre do cabo, etc, etc, etc... Monteiro de Barros falou assim porque temos um Estado fraco, pesado e que não se dá ao respeito, e uma classe política mediocre e tibuteante perante os capitalistas do Olimpo, Monteiro de Barros, que não é parvo, não falou apenas para recordar que há valores acima do Estado, falou essencialmente com um e um só destinatário - José Sócrates. Não fosse o lider do PS ter ideias. É que está uma campanha à porta que vai custar muito dinheiro. Portugal também é assim.

Publicado por Manuel 14:18:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Confesso que do artigo ou entrevista só li as gordas. houve, no entanto, algo que me pareceu estranho - o teor do recado, invertendo a mais lógica ordem de valores, mais parecia uma reprimenda do Senhor ao Criado.
    Eu sei que o mundo é cada vez um lugar mais estranho, tornado o que é anormal cada vez mais normal.
    Agradeço-lhe pois que tenha o tenha assinalado, que eu a seguir vou voltar a lê-lo, sem duvidar da minha sanidade mental.
    Qunto ao Socrates, não se admire, o rapaz só faz barulho se o tirarem do negócio.
    António Viriato said...
    Está muito bem visto. Este é um tema delicado. Os financeiros falam como se donos fossem do país.

    Muitos são mesmo entidades empregadoras dos governantes, antes e depois dos cargos assumidos por estes, que cada vez revelem menos autonomia na tomada de decisões, sobretudo, quando os interesses dos ditos financeiros estão presentes.

    Com tanto quadro recrutado da banca privada e das consultoras a promiscuidade entre o Governo, o Estado e aquelas não pode senão aumentar.

    Por outro lado, o Estado vai-se desfazendo de todos os meios, de todos os instrumentos, que poderia utilizar para conter a sanha dos interesses privados ilegítimos e exercer um papel regulador.

    Como conseguirá assim agir em nome do interesse público, geral ou da Nação, ainda que o queira, o que cada vez parece menos evidente ?

    Está aqui um problema bicudo desta depauperada democracia.

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