Ao mesmo tempo que a ópera bufa penosamente se arrasta, há um homem que ri. Ele chama-se Aníbal Cavaco Silva e espera vir a ser eleito Presidente da República em 2006. E espera vir a sê-lo num país incapaz de formar maiorias parlamentares estáveis. Isso sim, seria bonito: um Presidente cheio de vontade de intervir e cheio de motivos para o fazer. Ainda para mais reforçado pela decomposição simbólica do parlamento e do governo, e pela jurisprudência sampaísta.

Sempre me disseram que não há ninguém mais parecido com o General Eanes do que o Prof. Cavaco. O mesmo estilo, o mesmo arqui-inimigo (Mário Soares), os mesmos votantes (os que saíram do PS para o PRD e depois deram duas maiorias absolutas a Cavaco). Um Presidente Cavaco, com o país a implorar estabilidade, seria a grande derrota histórica de Mário Soares. Cavaco faria, afinal, o que ele (o presumível Pai da democracia portuguesa) nunca teria conseguido fazer: governar durante dez anos a partir do governo e, depois, mais dez a partir da Presidência (coisa que Soares nunca conseguiu porque Cavaco - ele mesmo - se apoiava em maiorias absolutas).

há uma maneira de evitar esta perversão institucional: uma maioria clara no próximo parlamento. De direita? De esquerda? Já pouco me importa. E de uma vez por todas, uma maioria que se decida a fazer aquilo que há muito tempo já deveria ter sido feito: a criação de um sistema eleitoral maioritário que garanta vitórias claras e decisivas.

Luciano Amaral


O ódio (?) tem destas coisas - Cega. É certo que não veremos o Dr. Lopes , ou alguém por ele, a gritar que se não votarem nele, que ao menos deêm uma maioria absoluta ao Eng. Sócrates mas, fica sempre o mas...

Luciano Amaral não percebe que o problema não é Cavaco, nem é crível que o natural de Boliqueime seja assim tão cínico quanto o pinta. O problema, com reforma do sistema eleitoral, ou sem reforma do sistema eleitoral, são os partidos tal como se apresentam de momento. Se chegar a PR, e se chegar chegará com um resultado esmagador, porque concorrendo o Eng. Guterres não será candidato, tomem nota, Cavaco sê-lo-á porque teve a confiança esmagadora dos Portugueses. E a palavra chave aqui é confiança. E agora ninguém confia nem no PS nem no PSD. Ainda ontem gúrus económicos próximos da área socialista (Vitor Bento e João Ferreira do Amaral) defendiam a criação de uma agência independente (leia-se fora da órbita dos partidos) para tratar de questões orçamentais de fundo. É este, e não o prof. Cavaco, o problema de fundo da política portuguesa - Credibilidade. E como não se confia na oferta do poder político, que é má, de refugo e incompetente, há a tentação dos independentes, dos treinadores de bancada, de grupelhos como o Compromisso Portugal. Ora se a transparência dos partidos políticos é pouca, não há rigorosamente qualquer accountability de quem se posiciona de fora do jogo tentando-o condicionar. O problema não é novo mas tem solução.

E depois há algo que escapa ao bom do Luciano - se Sócrates não tiver maioria, e aquando da regeneração do PSD, há um excelente antidoto aos alegados intervencionismos do Prof. Cavaco em Belém - um Bloco Central que se entenda com vista a fazer todas as reformas e mais alguma, doa a quem doer, a não ser que o problema do Luciano seja mesmo esse - que seja afinal Cavaco a impor esse mesmo acordo de Bloco Central...

Publicado por Manuel 14:45:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Muita coisa escapa ao bom do Luciano, como voce perspicazmente observa Irmao Manuel... Agora a si, nao lhe escapa nenhuma ingenuidade, pois nao?
    Anónimo said...
    Que se lixe a política; quero é o Pinto Nogueira de volta!!

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