White House'04
Bush mais quatro anos

Valores morais e conservadorismo

George W. Bush será o Presidente dos EUA até 20 de Janeiro de 2009, cumprindo assim um segundo mandato na Casa Branca. O candidato republicano conquistou a maior massa de votos que alguma vez o eleitorado americano concedeu a um candidato presidencial.

Bush teve quase 60 milhões de votos, batendo John Kerry por mais de três milhões de sufrágios. O senador democrata atingiu, também ele, um número recorde: passou os 55 milhões e meio de votos, mais cinco milhões do que tinha obtido Al Gore há quatro anos. Kerry passou a ser o candidato democrata com mais votos expressos da história, mas tal pecúlio de nada lhe valeu: falhou uma eleição que, até ao fecho das urnas, lhe parecia muito provável.

Na última previsão antes do fecho das urnas, a Grande Loja havia lançado a vitória de Kerry por 280-258 no Colégio Eleitoral. O resultado final será nesta ordem de diferença, embora, claro, com o vencedor oposto. Nessa mesma previsão, havíamos ressalvado que se algum — apenas um — dos estados decisivos que colocámos no campo de Kerry fossem para o republicano, a vitória seria de Bush.

E foi precisamente isso que aconteceu.
Bush venceu no Ohio e esse triunfo valeu-lhe a Casa Branca. Kerry perdeu esse estado decisivo por 130 mil votos. No caso de ter obtido aquele campo eleitoral, tinha ganho a eleição, mesmo que no voto popular ficasse com menos três milhões de votos do que Bush.

Em função da nossa última previsão, falhámos só dois estados: pusemos o Wisconsin no campo de Bush e o vencedor foi Kerry; demos a vitória ao democrata no Ohio, mas foi Bush o vencedor. No Iowa, apostámos em Kerry, mas este estado ainda não fechou. Bush vai à frente por uma pequena margem.

Em todos os outros estados, apostámos no cavalo certo. Só que numa eleição tão renhida como esta, a vitória foi mesmo decidida por apenas um estado.

No voto popular, falhámos no vencedor: previmos uma vitória de Kerry na ordem dos 2,5 milhóes de votos. Acabou por ser um triunfo de Bush por uma margem um pouco superior.
Admitindo, obviamente, esse falhanço, gostaríamos, no entanto, de ressalvar alguns dados interessantes:

acertámos em cheio no voto popular (previmos entre 105 e 125 milhões de votos expressos, houve cerca de 115 milhões)

acertámos em cheio na massa de votos de John Kerry (vaticinámos entre 55 a 60 milhões, acabou por ter quase 56 milhões)

o erro da nossa previsão acabou por ser uma subavaliação da capacidade Bush atrair os votos dos eleitores mobilizados à última hora. Ao contrário do que previmos, a maior taxa de participação decidiu a eleição a favor do republicano. Tudo apontava no sentido contrário.

Bush teve mais de 59 milhões de votos, dois milhões acima da margem superior da nossa previsão (tínhamos lançado entre 52 e 57 milhões).

RESULTADOS TOTAIS NACIONAIS
1.º George W. Bush 59 milhões 142 mil 314 votos
2.º John F. Kerry 55 milhões 587 mil 179 votos
3.º Ralph Nader 396 mil 177 votos

COLÉGIO ELEITORAL
Bush 279
Kerry 252
* o estado do Iowa, com sete votos eleitorais, está ainda em aberto, sendo que Bush dispõe de um avanço de 11 mil votos sobre Kerry

SENADO
— Republicanos 55
— Democratas 44
— Independentes 1

CÂMARA DOS REPRESENTANTES
— Republicanos 230
— Democratas 201
— Independentes 1

GOVERNADORES
— Republicanos 28
— Democratas 21

ESTADOS DECISIVOS:

OHIO
— Bush 2 milhões 796 mil votos
— Kerry 2 milhões 659 mil

FLORIDA
— Bush 3 milhões 838 mil
— Kerry 3 milhões 460 mil

PENNSYLVANIA
— Kerry 2 milhões 883 mil
— Bush 2 milhões 755 mil

IOWA (Resultados ainda não fecharam)
— Bush 745 mil
— Kerry 732 mil

WISCONSIN
— Kerry 1 milhão 488 mil
— Bush 1 milhão 477 mil

NOVO MÉXICO
— Bush 364 mil
— Kerry 353 mil

MICHIGAN
— Kerry 2 milhões 471 mil
— Bush 2 milhões 306 mil

MINNESOTA
— Kerry 1 milhão 443 mil
— Bush 1 milhão 345 mil

COLORADO
— Bush 1 milhão 18 mil
— Kerry 899 mil

VIRGÍNIA OCIDENTAL
— Bush 418 mil
— Kerry 321 mil

Como se vê, os republicanos, além de terem assegurado o segundo mandato do seu candidato na Casa Branca, reforçaram as maiorias de que já dispunham na Câmara dos Representantes e no Senado.

Prevêem-se quatro anos ainda mais conservadores do que os últimos, apesar de discurso de conciliação com os democratas que Bush fingiu ter feito na declaração de vitória.

A verdade é que o texano terá, agora, o caminho aberto para a aprovação de leis que travam cada vez mais temas como o aborto e a livre escolha em questões comportamentais; no Supremo Tribunal Federal, é muito provável que até 2009 Bush possa nomear entre dois a quatro juízes. E o republicano não deixará de aproveitar a oportunidade para reforçar o cairz conservador do órgão que está no topo da pirâmide do equilíbrio de poderes nos EUA.

Preocupante. Muito preocupante...

Mas como nos states estas coisas se preparam com anos de antecedência, já se antecipa o duelo eleitoral de 2008.

No campo democrata, há três candidatos com fortes hipóteses:

Hillary Clinton, senadora por Nova Iorque e ex-Primeira Dama nos anos dourados do clintonismo, altura em que tentou reformar o sistema de Saúde, como o seu programa «Medicare». Poderá ficar na história como a primeira mulher a chegar à Casa Branca.

Barack Obama, senador pelo Illinois, jovem estrela em ascensão no Partido Democrata. Confirmou os talentos que muito lhe apontam — foi um dos oradores mais aplaudidos da Convenção Democrata — e esmagou nestas eleições, obtendo 77 por cento dos votos (num total de 3 milhões e 524 mil votos). Poderá ficar na história como o primeiro presidente negro da história da América.

John Edwards, candidato derrotado a vice-presidente. Terá perdido élan com este fracasso democrata, mas o segundo lugar nas primárias e as escolha para número dois de Kerry conferem-lhe algum espaço para voltar a tentar daqui a quatro anos. Será, no entanto, o menos forte destes três candidatos.

Se nenhum destes três avançar, haverá outros dois nomes que poderão aproveitar o espaço que estes três possíveis candidatos ocuparão: Al Gore e John Kerry não serão cartas a deitar fora, mas como candidatos derrotados em 2000 e 2004, dificilmente arriscarão novo insucesso. Mas os mais de 50 milhões de votos que cada um conseguiu arrancar — e que numa situação normal lhes daria a eleição — constituem uma boa base de partida.

Do lado republicano, há um nome que se destaca como muito, muito forte:

John McCain, senador pelo Arizona. Foi o segundo nas primárias em 2000, quase tirando a nomeação a Bush. Tem uma popularidade impressionante (talvez superior à de George Bush). Consegue chegar ao eleitorado democrata e voltou a provar que é um fenómeno nas urnas, ao arrasar o democrata Stuart Starsky por 70-30.

Mas até lá será Bush a mandar. É mesmo preciso pedir... god bless America

Publicado por André 17:51:00  

3 Comments:

  1. nuno mendes said...
    "god bless the world"!
    Fernando Martins said...
    Um aspecto que me apoquenta neste conservadorismo balofo que os americanos apoiaram e referendaram por mais quatro anos é o apoio dado pela Administração Bush ao Criacionismo (v.g. teoria pseudocientífica que nega a evolução biológica e que diz que a Bíblia tem a estória correcta da origem da vida, por criação directa de Deus, no máximo há 6.500 anos atrás).
    Um exemplo: no Parque Natural do Grande Canyon há à venda um livro que explica esta maravilha natural à luz do Criacionismo, num churrilho de inverdades e fantasia.
    Esperemos que, também nos curriculla, não imponham o estudo do Criacionismo, pois perder-se-ão 70 anos de vitórias legais sobre esta aldrabice do Criacionismo...
    Luís Bonifácio said...
    Acho que esta é a primeira vez na História dos EUA, que um único Partido domina tão claramente todas as instituições do Estado.

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