Vasco Pulido Valente
"Como sair disto"


Anteontem, e não inteiramente de surpresa, o dr. Mário Soares resolveu fazer uma descrição apocalíptica do país. Disse que a democracia estava "em crise" e o regime "em degenerescência". Disse que a "corrupção" era agora pior do que durante a ditadura e que a polícia se guiava por "critérios" duvidosos. Disse que havia um risco próximo de uma "revolta incontrolável" e que só a UE impedia uma "aventura militar". E disse que tínhamos chegado à "situação mais deprimente e mais crispada" desde o "25 de Abril". Com outra brandura, Cavaco Silva declarou em Madrid que achava a política actual muito, muito pouco "atraente" e "estimulante" e até Guterres, com estranha desvergonha, a comparou a um "reality show". Por toda a parte toda a gente quer resposta a uma pergunta simples: "Como é possível que Santana e Portas governem Portugal?" E quer saber como saímos "disto". Bom ponto, esse: como saímos "disto"? Não com certeza através de Sampaio, um dos primeiros responsáveis por "isto" e hoje sem sombra de autoridade ou de prestígio. Implicitamente, Soares pede eleições e, claro, a dissolução que as deve preceder. Erro dele. Já não contando com a reviravolta de Sampaio, fatalmente favorável ao governo, seria dar a Santana o papel de vítima, em que ele exulta, e a oportunidade a Portas para levantar o fantasma da esquerda tirânica e perversa. A coligação precisa de ferver até ao fim no molho da sua própria miséria. Não vale a pena que ela acabe, se não for arrasada e, com ela, o impensável bando que a imaginou e a seguiu. Ou se limpa a casa, ou não se limpa. Ora limpar a casa exige método. Começar pelas câmaras. Pôr a seguir o prof. Cavaco em Belém (e nunca o desastroso Guterres), para devolver alguma dignidade à Presidência e para que exista uma voz superior e respeitada, e que o PSD ouça, contra a intriga e demagogia. E, no fim votar para uma maioria PS, que não é com certeza a salvação, mas que talvez traga um módico de normalidade e decência. Santana e Portas gostariam imenso de ser o centro de um melodrama nacional. Sempre viveram no melodrama e do melodrama. Mas para sairmos "disto" convém evitar qualquer espécie de messianismo à portuguesa. Basta uma oposição persistente e sólida, conduzida com inteligência e um firme desprezo. Eles tratam do resto.

Vasco Pulido Valente in Público

Publicado por Manuel 10:46:00  

12 Comments:

  1. Arrebenta said...
    Há uma forma simples de sair disto:
    quando se fala de Asco Falido Poluente vem-me sempre ao nariz um dos cheiros da decomposição do Regime.
    É interessante que esse ser já esteja outra vez na fase da pregação da ascensão do P.S. ao Poder:
    assim,
    como metáfora,
    é quase como que atravessar a Vasco da Gama e sentir aquelas mudanças de vento da conveniência,
    mas que trazem sempre,
    de todos os quadrantes,
    o mesmo cheiro a mijo de porco.
    Sempre que esse ser se lembre de limpar o Regime, faça uma coisa:
    pratique o
    auto-autoclismo,
    e carregue no botão da descarga,
    Portugal agradece e a atmosfera sempre fica mais limpa.
    Anónimo said...
    Não liguem ao Arrebenta, essa bicha desaustinada que costuma passear-se pelo online do Expresso (quando não anda no Parque Eduardo VII, claro).
    Anónimo said...
    Estas lógicas são tão estranhas!! Vasco P. Valente escreve como se Paulo Portas e Pedro S. Lopes já não soubessem disso há muito tempo! Claro que sabem! E sabem que aquilo que os atormenta neste momento é encontrar uma fórmula inteligente para dissolver a coligação governamental sem danos colaterais de maior. No PP e no PSD sabe-se há alguns meses, desde o nobre gesto de Sampaio, pelo menos, que a única possibilidade que existe para repetir a coligação´é arrancar a ferros eleições antecipadas sem desmanchar o ramalhete. Foi por isso que Nobre Guedes foi para o governo, foi por isso que Bagão se viu forçado a aceitar continuar, para o PP poder bradar competência em campanha eleitoral, criando um problema sério, muito sério ao PSD. SE Santana desfaz a coligação, deixa de se poder vitimizar, passando esse trunfo a Portas de mão suavemente beijada. Ora, perante isto, cheira-me que, no máximo, dentro de três(3) meses, PP e PSD vão apertar o cerco a Sampaio para ele, antes do Verão, fazer aquilo que eles não conseguiram fazer dentro dos requisitos mínimos. Dissolver! Mais: textos como os de VPV são uma bolachinha neste estratégia, não porque sirvam no imediato, mas para preparar os eleitorados do PP e do PSD para o que está para chegar, porque o que ele diz, as cabeças dos partidos da coligação sabem-no demasiado bem. Para já, sabe-se apenas uma coisa: Pedro e Paulo só conseguiram(até ver) plena concordância numa coisa; é preciso acabar com a coligação e o governo para forçar eleições antecipadas sem que transpareça para o exterior qualquer mal estar entre ambos e os seus respectivos partidos e que a culpa passe, por baixo ou por cima, para o outro lado da barricada!!. O que é pouco para tamanho desafio!!!!
    E SÓ MAIS UMA COISA: ACHAM MESMO QUE PAULO PORTAS É UM TONTO PARA IR À MADEIRA BATER NO JARDIM ASSIM, SEM MAIS NEM MENOS???? Claro que não, faz parte da "coisa". Tal como o episódio do congresso do PSD, parte do mesmo puzzle. Mas cheira-me que VPV sabe disto tudo. E mais, claro está!!!
    primo Sousa
    Anónimo said...
    Seria bom que Nicodemos explique em que consiste uma natural alternância democrática, quando os partidos que tem em mente representam federações de interesses raramente divergentes, que deixaram de pautar a sua praxis política por princípios e convicções , alienaram cidadãos voluntaristas e empenhados da causa pública, causam o estado esquizofrénico em que a sociedade mergulhou e hipotecam o presente e o futuro das novas gerações!
    Prévia à alternância democrática, com certeza, há que cuidar das alternativas (opções políticas de fundo)que traduzam a vontade de estabelecer um novo paradigma político, centrado nas pessoas e nos cidadãos e com metas para lá dos ciclos eleitorais e das crises conjunturais.
    Questionar por exemplo: Pode Portugal produzir mais e melhor riqueza? Pode ou não distribuir-se a actual com mais equidade? Deve ou não exigir-se mais de cada um, consoante o que tem ou dispôe?
    Por fim: O que é que falta ou é preciso fazer para tornar os portugueses contentes consigo próprios e com os demais?
    Em suma: Terão os portugueses direito a serem felizes, trabalhando, lutando, inovando, discutindo, participando?
    Claramente que sim. Não só têm esse direito, como é sua obrigação fazê-lo sem ninguém ser excluido, ou se auto-excluir.

    Ass. Maria da Fonte II
    zazie said...
    há coisas que nunca entenderei. Uma delas é esta militante embirração com o VPV que se limita a ser um grande iconoclasta. Se há ideia mais disparatada é a de que ele represente qualquer forma de carreirismo. É preciso não perceber nada de nada.
    Arrebenta said...
    Este tipo de "iconoclastia" tem um nome próprio,
    em Sociologia,
    chama-se "A Mulher-Alibi":
    aquela que finge e pratica o estardalhaço,
    como se estivesse na Oposição,
    quando o seu único papel é o de ir provocando pequenas catarses locais,
    que impeçam a grande sublevação,
    que levasse à subversão da Ordem Vigente,
    de qualquer ordem,
    de qualquer vigência,
    da qual "ela",
    profunda e eternamente sanguessuga,
    vive
    e se alimenta.
    josé said...
    Pois eu gosto de ler o VPV. Mesmo quando se engana é em grande! Desmesuras nas análises é com ele! Desmesuras, no sentido de sem mesuras.
    Parece-me errado apontar ao VPV como faz o ilustre Arrebenta, um propósito de aconchego ao futuro ganhador. Não faz sentido em VPV. Se fosse um qualquer Delgado de trazer por casa, rasteirinho e obediente ao poder instituido, ainda se compreendia. Mas com o Pulido não se deve esperar tal coisa.
    Antes pelo contrário.
    zazie said...
    “que impeçam a grande sublevação,
    que levasse à subversão da Ordem Vigente”
    mas de que falamos à seu Arrebenta? A insurreição operária, a revolução proletária? “:O)))))
    Arrebenta said...
    Não,
    a aurora da maturidade da Opinião Pública da Aldeia Global.
    que tantos grilhões e poeira nos olhos impedem de amanhecer.
    Arrebenta said...
    Os amanhãs que cantam
    (não são do meu tempo)
    tranformaram-se nos amanhojes que choram:
    prefiro esperar sentado.
    E quanto às "elites", tenho por elas o mesmo vómito que me desperta o Asco Falido:
    não me euforizo com Coca, Pedofilia, Tráfico de Armas, Futebol, Construções Civis ou Prostituição,
    e se as elites são outras,
    grandes elites,
    que se deixam governar pelas prateleiras atrás enunciadas...
    Para quem consuma o Asco Falido, apenas um conselho: é como os cogumelos,
    por detrás de cores,
    que sejam prosa,
    aliciantes,
    reina, na maioria,
    o fatal veneno típico de todos os fungos.
    Ide, e comei,
    este é o meu corpo,
    o vosso sangue fará o resto.
    Anónimo said...
    Vexas esquecem-se de pequenos grandes detalhes. A saber:
    - O dr. Portas é muito mais esperto (e inteligente) que a esmagadora maioria dos PPD-PSD's;
    - Mantem-se em primeiro plano há vários anos, ao contrário da esmagadora maioria dos PPD-PSD's;
    - Tem muitos "postos de observação" nos PPD-PSD's.
    - O VPV sabe muito bem disto tudo, mas se o admitisse...
    Arrebenta said...
    O Doutor (?) Portas deixou a inteligência na esquina dos semáforos do Parque,
    naquele dia aziago em que,
    pela primeira vez,
    optou por ir de louro-deneuve,
    em vez da habitual cara destapada.
    Que teria lucrado em não o ter feito,
    escassa coisa:
    dele hoje se diria,
    em vez de "olha, aquele que atacava aqui de Catherine já é agora ministro!..."
    ouvir-se-ia "olha, aquele que atacava aqui já é agora Ministro".
    Asco Falido Poluente está apenas separado dele umas quantas quadras,
    ou quarteirões.
    Para quem queira saber um pouco mais,
    sente-se umas quantas horas a ouvir a Lola e a sua "troupe" de travestis,
    do Conde Redondo.
    Dasse!...

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