White House'04
Bush vs Kerry (XXII)

A corrida eleitoral norte-americana entrou na sua recta final: já só faltam 13 dias para fecharem as urnas e já se vota em 31 dos 51 campos eleitorais. São os chamados «early votes» e embora sejam uma percentagem muito pequena, a verdade é que numa disputa tão apertada, pode ser que estes votos venham a ser decisivos.

Depois de um mês de Setembro muito favorável a Bush, John Kerry precisava de ter um Outubro em grande nível para sonhar com a eleição. O senador democrata fez o pleno dos debates —venceu claramente o primeiro e o último e obteve uma vitória à tangente no segundo.

No entanto, não é totalmente líquido que os debates venham a ter um papel tão decisivo nesta eleição - é que apesar de os números favorecerem Kerry no que toca aos debates, as sondagens que surgiram imediatamente a seguir ao segundo e ao terceiro debates não mostraram grandes melhorias para o senador pelo Massachussets.

O primeiro, sim, interferiu na corrida: deu um bounce a Kerry de seis/sete pontos, colocando a eleição ao nível em que esta se encontrava no final de Julho, quando da Convenção Democrata - empate técnico.

As últimas sondagens a nível nacional dão resultados tão próximos entre Bush e Kerry que não é possível falar num favorito neste momento.

Vejamos…

  • RASMUSSEN REPORTS
    • Bush 48,3
    • Kerry 46,9
    • Outros 2,1
    • Indecisos 2,8
  • ZOGBY
    • Kerry 46
    • Bush 46
    • Indecisos 6
  • HARRIS
    • Bush 48
    • Kerry 46
    • Nader 1
  • NBC
    • Bush 48
    • Kerry 48
    • Nader 1
  • CBS
    • Bush 47
    • Kerry 45
    • Nader 2
  • TIME
    • Bush 48
    • Kerry 47
    • Nader 3
  • ABC
    • Bush 50
    • Kerry 47
    • Nader 1
  • PEW RESEARCH CENTER
    • Kerry 47
    • Bush 47
    • Nader 1
  • TIPP
    • Bush 47
    • Kerry 46
    • Outros 2
  • DEMOCRATIC CORPS
    • Kerry 50
    • Bush 47
    • Outros 1
  • NEWSWEEK
    • Bush 50
    • Kerry 44
    • Nader 1

Resumo - Bush lidera oito estudos, Kerry surge à frente em três, mas só num deles tem uma vantagem superior a um por cento. No entanto, as diferenças de todas as sondagens são tão pequenas que se situam sempre dentro da margem de erro, com a única excepção do estudo da Newsweek (que dá seis pontos de avanço ao Presidente).

A evolução dos números a nível nacional tem sido tão constante desde os debates que é muito provável que esta tendência se mantenha até 2 de Novembro: um empate técnico, com uma ligeiríssima vantagem — de 1 a 2 pontos — para Bush, se fizermos a média de todas as sondagens.

Ora, as características muito especiais da eleição presidencial norte-americana faz com que uma diferença de um, dois ou mesmo três por cento nas sondagens não seja significativa.

Há quatro anos, as sondagens davam um avanço a Bush de dez pontos sobre Gore, até ao dia da eleição, e foi o candidato democrata o mais votado. A campanha de Kerry tem pegado neste exemplo para subir o moral das tropas.

Mary Beth Cahill, directora de campanha de John Kerry, afirmou ao «Washington Post»: «Se as sondagens mostrarem um avanço de Bush de dois pontos até à eleição, Kerry vencerá com quase toda a certeza».

Como é que isto se explica? Há várias formas de o fazer - parece que estas sondagens, por muito estratificadas que sejam, nunca conseguem amostras que contemplem os novos eleitores (teoricamente mais inclinados para Kerry); não conseguem prever a afluência de minorias que têm níveis de participação muito variáveis (numa eleição tão renhida, é possível que haja uma maior participação dos negros, das mulheres de classe social desfavorecida e dos hispânicos, sendo que estes três grupos darão uma vantagem a Kerry na ordem dos 70/30 no somatório destes três segmentos).

A grande audiência dos três debates televisivos (63 milhões o primeiro, perto de 45 milhões cada um dos restantes) faz indicar uma maior participação eleitoral do que é costume. A taxa de abstenção nas presidenciais norte-americanas costuma flutuar entre os 55 e os 60 por cento, mas há quatro anos foi só de 50 por cento, um reflexo do grande equilíbrio nos resultados.

A maior participação não estava contemplada nas sondagens e daí se explica que Al Gore tenha tido um resultado bem melhor do que os números mostravam as sondagens não lhe davam mais do que 43/45 por cento, acabou por ter 48,38 por cento.

A propósito, aqui vão os resultados totais da eleição de 2000..
  • VOTO POPULAR
    • Al Gore 48,38% (50.999.837 votos)
    • George Bush 47,87% (50.456.002 votos)
  • COLÉGIO ELEITORAL
    • George Bush 271 Grandes Eleitores
    • Al Gore 266 Grandes Eleitores
Por tudo isto é fundamental, nestes dias finais, olhar para os Estados decisivos. Com a eleição tão apertada, não será muito relevante a flutuação das sondagens a nível nacional, mas sim a forma como os estados indecisos vão dando sinais.

A Grande Loja está a preparar uma nova projecção — a quarta — sobre o resultado no Colégio Eleitoral. Dentro de dois dias, publicaremos esse estudo. Recorde-se que no último que realizámos, Kerry aparece à frente, com 290 Grandes Eleitores, mais 20 dos que são necessários para se ser eleito Presidente.

Mas a corrida está em aberto. Vejamos as médias das últimas sondagens em alguns dos estados cruciais para esta eleição...

  • OHIO (21 VOTOS): Kerry 47,6/ Bush 47,2
  • FLORIDA (27): Bush 47,5/ Kerry 46,5
  • PENNSYLVANIA (20): Kerry 48,8/ Bush 46,0
  • WISCONSIN (10): Kerry 47,2 /Bush 45,8
  • IOWA (7): Kerry 47,5 /Bush 46,8
  • NOVO MÉXICO (5): Kerry 47,0/ Bush 46,3
  • COLORADO (9): Bush 50,0/ Kerry 43,7
  • NEW HAMPSHIRE (4): Kerry 46,5/Bush 45,8

Nos oito estados analisados, Kerry vai à frente em seis, Bush lidera em dois. Mas as margens continuam demasiado estreitas para que algum deles cante vitória.

O número de estados indecisos mantém-se entre os 12 e os 15, mas a constância de alguns sinais faz-nos identificar certos estados fundamentais para cada um dos candidatos.

Assim, Bush parece ter a Florida e o Colorado como «estados obrigatórios», se não vencer nestes dois, quase de certeza perderá.

Para Kerry, o mesmo sucede com o Ohio e a Pennsylvania - dificilmente vencerá se falhar algum deles. Pelo menos, vê-se na obrigação de arrecadar um dos dois.

As dúvidas levantadas nas últimas semanas em dois estados tradicionalmente democratas — Nova Jérsia e New Hampshire — parecem ser agora um pouco menores - Kerry voltou a estar à frente nos estudos em dois estados que, se porventura perder, praticamente poderão comprometer a sua corrida.

Publicado por André 08:02:00  

4 Comments:

  1. portuguesa nova said...
    Let's just pray that the huge amount of last minute voter registrations will make these polls inaccurate...if Bush wins again, I'm moving to Portugal!
    Anónimo said...
    Eu acho espantoso que estes finíssimos estudos sobre futurologia estejam a sair na "loja"... não seria mais coisa para o NotasVerbais? Não será boa ideia alguém nas Necessidades começar a pensar em atribuir uma pensãozinha vitalícia a estes tonitruantes leviatã´s dos expedientes organizados!? Mas, se a ideia é construir uma ideia de credibilidade sobre as façanhas de Bush e Kerry para melhor "vender" o resto(que me excuso, por educação, a dizer o quê na casa dos visados...), então, há alguém intelitgente por perto! E, caramba, eu gosto de malta inteligente com sentido de humor!!
    primo Sousa
    Pedro said...
    Só 2 notas:

    - o New Hampshire é um Estado tradicionalmente Republicano. Aliás, foi ganho por W. há 4 anos.

    - o Colorado deve ser dos poucos Estados em que o Republicano ganhou sempre nos últimos 25 anos. O interesse neste Estado está noutra votação, a ter lugar no próprio dia da elição: haverá um referendo sobre a alteração do regime de atribuição de Grandes Eleitores (Amendment 35, salvo erro), do sistema winner-takes-all para um sistema proporcional. Se a proposta for aprovada, torna-se efectiva já para esta eleição.
    Ou seja, o Colorado até pode ser ganho por Kerry, mas é, no minimo, muito improvável. Mas Kerry pode, apesar disso, ficar com 4 grandes eleitores que, tradicionalmente, iriam para W..

    Só uma última nota: há uma discrepância não explicada por ninguém nos últimos dias: enquanto Kerry recua nas sondagens nacionais, ganha no Colégio Eleitoral, uma vez que, nos Estados indecisos, as sondagens têm-lhe sido muito mais favoráveis.
    Vislumbro duas explicações para o problema, mas confesso a minha ignorância quanto ao assunto:
    - por um lado, os eleitores nos Estados indecisos estão mais atentos à campanha, já que o seu voto é, claramente, mais importante que o voto de alguém num Estado onde o resultado está estabelecido á partida;

    - uma diferença de datas, ou públicos-alvo, entre as sondagens estaduais e as federais/nacionais.
    Pedro said...
    Só 2 notas:

    - o New Hampshire é um Estado tradicionalmente Republicano. Aliás, foi ganho por W. há 4 anos.

    - o Colorado deve ser dos poucos Estados em que o Republicano ganhou sempre nos últimos 25 anos. O interesse neste Estado está noutra votação, a ter lugar no próprio dia da elição: haverá um referendo sobre a alteração do regime de atribuição de Grandes Eleitores (Amendment 35, salvo erro), do sistema winner-takes-all para um sistema proporcional. Se a proposta for aprovada, torna-se efectiva já para esta eleição.
    Ou seja, o Colorado até pode ser ganho por Kerry, mas é, no minimo, muito improvável. Mas Kerry pode, apesar disso, ficar com 4 grandes eleitores que, tradicionalmente, iriam para W..

    Só uma última nota: há uma discrepância não explicada por ninguém nos últimos dias: enquanto Kerry recua nas sondagens nacionais, ganha no Colégio Eleitoral, uma vez que, nos Estados indecisos, as sondagens têm-lhe sido muito mais favoráveis.
    Vislumbro duas explicações para o problema, mas confesso a minha ignorância quanto ao assunto:
    - por um lado, os eleitores nos Estados indecisos estão mais atentos à campanha, já que o seu voto é, claramente, mais importante que o voto de alguém num Estado onde o resultado está estabelecido á partida;

    - uma diferença de datas, ou públicos-alvo, entre as sondagens estaduais e as federais/nacionais.

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