Uma causa que não é minha...

Ao contrário dos argumentos que Vital Moreira defende para justificar a existência de uma direita e de uma esquerda política, e com transversões nos campos económicos e sociais, essa diferença existe e não é necessário nem a mão invisível nem o pleno emprego para a justificar.

O que Vital Moreira quer defender é que a direita política defende a liberalização, e a esquerda a justiça social, equidade e claro o pleno emprego num estado providência. Infelizmente essas não são mais diferenças, e hoje podemos afirmar, sem qualquer "nojo", que António Guterres foi mais liberal nalgumas matérias que Durão Barroso.

Parece-me a mim, que nunca andei por hemiciclos, que mais importante do que ter serviços universais e tendencialmente gratuitos é certamente medir os recursos que esses serviços gastam anualmente ao Estado Português e o benefício que geram.
  • Todos nós concordamos que a educação é uma vertente essencial do desenvolvimento, a sua importância é realçada em todos os discursos políticos, independentemente do quadrante de onde venham.

  • Todos nós concordamos que a despesa com a educação tem tido um forte crescimento, tendo a escolaridade pública e gratuita generalizado.

  • No entanto os resultados desta generalização, medida pelo grau de literacia, são pouco animadores, pois a indisciplina e o laxismo de um sistema de ensino que fora de controlo do Estado, apesar de tutelado por este, leva a que em todos os sectores da sociedade civil se fale em falta de responsabilidade individual dos vários agentes que fazem parte.

  • A verdadeira questão é que o aumento da intervenção governamental não tem trazido uma maior qualidade ao ensino, tendo por isso, um excesso de Governo ajustado por um défice de resultados.

Em primeiro lugar, a liberdade de escolha das famílias não existe uma vez que o Estado, coercivamente, escolhe a escola onde os nossos filhos tem que estudar, este mesmo Estado, é assim manipulado por uma nomenclatura educativa especializada em gerar sucessivas reformas compulsivas, universais e gratuitas – mas com os custos a serem suportados pelo erário público – e rompendo completamente com as reformas passadas. No fundo trata-se de um ciclo vicioso, onde as sucessivas reformas ao produzirem sucessivos maus resultados, geram mais reformas. Sempre com os mesmos intervenientes, sempre com o Estado a suportar os custos, sempre sem resultados visíveis no grau de literacia.

Em segundo lugar, nós portugueses, não contentes com a situação vivida na escolaridade obrigatória, ainda por vezes somos levados a pensar, que a educação ou melhor a governamentalização da educação se deveria estender também ao pré-escolar, bem como alargar a escolaridade obrigatória, sendo assim fácil associar esta intenção ao facto de alguns agentes quererem assegurar clientes para um sistema com excesso de oferta e satisfazer os grupos de pressão do sector da educação, em vez de contribuírem para uma melhoria da educação.

Não deveríamos todos nós apostar de uma forma eficiente e em clara interligação com o mercado empresarial na realização de cursos de especialização de determinadas profissões técnicas, tidas como de segunda linha mas de importância extrema.

Mais importante que tudo é definir hoje uma política supra-partidária, no que à educação diz respeito. Decidir hoje o que queremos ter daqui por 10 anos.

Para fazer isto não é preciso ser de direita ou de esquerda.

Portugal não possui os recursos que outros países possuem, mas mesmo assim gasta 5 % do PIB em despesas de educação, e pasme-se, permitindo que 5 mil milhões de euros sejam anualmente afectos na rubrica orçamental de despesas correntes – remunerações certas. Portugal conseguiu o feito brilhante de possuir hoje um elevadíssimo conjunto de indíviduos que dependem e vivem do Estado, e pasme-se, conseguiu afectar mais fundos estruturais a salários do que nas reformas sociais.

O que pretende Vital Moreira ? Que o Estado engrosse ainda mais a sua fileira de empregados ? Ou que o Estado preste serviços de qualidade que sendo pagos a maioria dos cidadãos não se importa de pagar por que verá reflectido no imediato essa mais-valia ? Não terá percebido ainda Vital Moreira, que um dos maiores erros do Estado Português foi ter permitido que uma função pública inadequada, desajustada e desproporcionada fosse crescendo dentro de Portugal ?

E agora ? Agora há duas soluções, ou temos tomates e falamos as coisas como elas devem ser, e elas são-no claramente no despedimento e na extinção de postos de trabalho, ao mesmo tempo que dotamos a função pública de qualificações e, acima de tudo, de um novo vértice que permita inverter a elevada percentagem da função pública (perto de 75%) que trabalha para ela própria . Ao mesmo tempo que na máquina fiscal se inicia de uma vez por todas no combate à fraude fiscal e a evasão não poupando nada nem ninguém.

A outra solução é aquela por que Vital Moreira toma hoje partido e passa por continuar alegremente a discutir a importância ideologica da esquerda e da direita. Essa mesma esquerda e essa mesma direita que alternando políticamente numa alteraram nada no estado do nosso país.

Cada um é livre de escolher o caminho que quer. Uns mais tortuosos e difíceis outros que apenas adiam o que um dia será inadiável.

Publicado por António Duarte 15:20:00  

4 Comments:

  1. Anónimo said...
    Excelente texto este, do Venerável António. Dá boa resposta ao VM e é um belíssimo contributo para uma discussão que não devia ser já muito relevante, mas que infelizmente ainda é.
    Há uma certa 'soi-disant' esquerda que, talvez por negligência com dolo eventual, se conforma com o afundamento do País mas nunca com cedências ideológicas
    josé said...
    António:
    Excelente postal! Vital Moreira e outros que se reivindicam de acantonamento à esquerda, ocupam um lugar imaginário. E isso basta-lhes.
    Como não consegume racionalizar as coordenadas, inventam referências, à míngua de gps modernos que lhes digam onde estão e o que fazer.

    Assim, inventaram a nova definição da esquerda: solidariedade! Quanto mais solidariedade, mais à esquerda se sentem. E isso basta-lhes como consolo.
    Em tempos cheguei a alimentar uma pequena polémica com o camarada ( honni soit...) bloguista do Irreflexões, a propósito destas taxionomias.

    A conclusão a que cheguei foi que cada um situa-se no lado que entender, conforme as razões que entender e segundo critérios aleatórios e sem qualquer base científica ou racional.
    Assim, a opção direita/esquerda é de natureza irracional ou quando muito por razões que a razão desconhece.
    O melhor exemplo disso é Vital Moreira.
    zazie said...
    É verdade, excelente post, António. Mas falar-se em políticas de educação supra-partidárias é coisa que os políticos não entendem. Mais facilmente acreditam nessas milagrosas “razões que a razão desconhece” que na verdade não só se espalham ao comprido numa infinidade de hipocrisias como acabam por invalidar aquilo que realisticamente podia ser viável.
    Se há coisas inúteis são bandeiras de causas que nem os próprios sabem identificar.
    josé said...
    Hoje o JPP, no Público continua a tentar teorizar sobre o assunto esquerda/direita. Já entrou no labirinto das distinções e fala nas "proclamações", ou seja, os tais lugares imaginários.
    O artigo, embora light, merece leitura.

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