Uma causa que não é minha...
quarta-feira, outubro 20, 2004
O que Vital Moreira quer defender é que a direita política defende a liberalização, e a esquerda a justiça social, equidade e claro o pleno emprego num estado providência. Infelizmente essas não são mais diferenças, e hoje podemos afirmar, sem qualquer "nojo", que António Guterres foi mais liberal nalgumas matérias que Durão Barroso.
- Todos nós concordamos que a educação é uma vertente essencial do desenvolvimento, a sua importância é realçada em todos os discursos políticos, independentemente do quadrante de onde venham.
- Todos nós concordamos que a despesa com a educação tem tido um forte crescimento, tendo a escolaridade pública e gratuita generalizado.
- No entanto os resultados desta generalização, medida pelo grau de literacia, são pouco animadores, pois a indisciplina e o laxismo de um sistema de ensino que fora de controlo do Estado, apesar de tutelado por este, leva a que em todos os sectores da sociedade civil se fale em falta de responsabilidade individual dos vários agentes que fazem parte.
- A verdadeira questão é que o aumento da intervenção governamental não tem trazido uma maior qualidade ao ensino, tendo por isso, um excesso de Governo ajustado por um défice de resultados.
Em primeiro lugar, a liberdade de escolha das famílias não existe uma vez que o Estado, coercivamente, escolhe a escola onde os nossos filhos tem que estudar, este mesmo Estado, é assim manipulado por uma nomenclatura educativa especializada em gerar sucessivas reformas compulsivas, universais e gratuitas – mas com os custos a serem suportados pelo erário público – e rompendo completamente com as reformas passadas. No fundo trata-se de um ciclo vicioso, onde as sucessivas reformas ao produzirem sucessivos maus resultados, geram mais reformas. Sempre com os mesmos intervenientes, sempre com o Estado a suportar os custos, sempre sem resultados visíveis no grau de literacia.
Em segundo lugar, nós portugueses, não contentes com a situação vivida na escolaridade obrigatória, ainda por vezes somos levados a pensar, que a educação ou melhor a governamentalização da educação se deveria estender também ao pré-escolar, bem como alargar a escolaridade obrigatória, sendo assim fácil associar esta intenção ao facto de alguns agentes quererem assegurar clientes para um sistema com excesso de oferta e satisfazer os grupos de pressão do sector da educação, em vez de contribuírem para uma melhoria da educação.
Não deveríamos todos nós apostar de uma forma eficiente e em clara interligação com o mercado empresarial na realização de cursos de especialização de determinadas profissões técnicas, tidas como de segunda linha mas de importância extrema.
Mais importante que tudo é definir hoje uma política supra-partidária, no que à educação diz respeito. Decidir hoje o que queremos ter daqui por 10 anos.
Para fazer isto não é preciso ser de direita ou de esquerda.
Portugal não possui os recursos que outros países possuem, mas mesmo assim gasta 5 % do PIB em despesas de educação, e pasme-se, permitindo que 5 mil milhões de euros sejam anualmente afectos na rubrica orçamental de despesas correntes – remunerações certas. Portugal conseguiu o feito brilhante de possuir hoje um elevadíssimo conjunto de indíviduos que dependem e vivem do Estado, e pasme-se, conseguiu afectar mais fundos estruturais a salários do que nas reformas sociais.
O que pretende Vital Moreira ? Que o Estado engrosse ainda mais a sua fileira de empregados ? Ou que o Estado preste serviços de qualidade que sendo pagos a maioria dos cidadãos não se importa de pagar por que verá reflectido no imediato essa mais-valia ? Não terá percebido ainda Vital Moreira, que um dos maiores erros do Estado Português foi ter permitido que uma função pública inadequada, desajustada e desproporcionada fosse crescendo dentro de Portugal ?
E agora ? Agora há duas soluções, ou temos tomates e falamos as coisas como elas devem ser, e elas são-no claramente no despedimento e na extinção de postos de trabalho, ao mesmo tempo que dotamos a função pública de qualificações e, acima de tudo, de um novo vértice que permita inverter a elevada percentagem da função pública (perto de 75%) que trabalha para ela própria . Ao mesmo tempo que na máquina fiscal se inicia de uma vez por todas no combate à fraude fiscal e a evasão não poupando nada nem ninguém.
A outra solução é aquela por que Vital Moreira toma hoje partido e passa por continuar alegremente a discutir a importância ideologica da esquerda e da direita. Essa mesma esquerda e essa mesma direita que alternando políticamente numa alteraram nada no estado do nosso país.
Cada um é livre de escolher o caminho que quer. Uns mais tortuosos e difíceis outros que apenas adiam o que um dia será inadiável.
Publicado por António Duarte 15:20:00
Há uma certa 'soi-disant' esquerda que, talvez por negligência com dolo eventual, se conforma com o afundamento do País mas nunca com cedências ideológicas
Excelente postal! Vital Moreira e outros que se reivindicam de acantonamento à esquerda, ocupam um lugar imaginário. E isso basta-lhes.
Como não consegume racionalizar as coordenadas, inventam referências, à míngua de gps modernos que lhes digam onde estão e o que fazer.
Assim, inventaram a nova definição da esquerda: solidariedade! Quanto mais solidariedade, mais à esquerda se sentem. E isso basta-lhes como consolo.
Em tempos cheguei a alimentar uma pequena polémica com o camarada ( honni soit...) bloguista do Irreflexões, a propósito destas taxionomias.
A conclusão a que cheguei foi que cada um situa-se no lado que entender, conforme as razões que entender e segundo critérios aleatórios e sem qualquer base científica ou racional.
Assim, a opção direita/esquerda é de natureza irracional ou quando muito por razões que a razão desconhece.
O melhor exemplo disso é Vital Moreira.
Se há coisas inúteis são bandeiras de causas que nem os próprios sabem identificar.
O artigo, embora light, merece leitura.