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segunda-feira, outubro 04, 2004
- Igreja da Lapa, coração da cidade do Porto. A meio de uma celebração dominical os fiéis são informados de que no exterior todos os domingos passam a estar 3, três, seguranças privados a vigiar o parque automóvel dos presentes, em média cada domingo, e durante as celebrações, dois a três veículos eram assaltados e face à inoperância da PSP eis a contratação de uma empresa privada. Rui Rio, o tal que foi eleito com promessas de acabar com os arrumadores, devia meditar no assunto.
- Os maiores disparates, as maiores tragédias, começam quase sempre com as melhores das intenções. No Afixe e com o pretexto de que se tal não ocorrer será "a desculpa necessária, a quem dela precisa e por ela porfia, para acabar com este meio de liberdade em que se consubstanciam os blogues." defende-se a auto-regulação da blogosfera. "O problema é que sempre que o homem abusa da liberdade que lhe é dada, o passo seguinte é ser encarcerado numa teia de restrições. Dê-se uma vista de olhos pela história da comunicação social em Portugal e no mundo. Após momentos de grande liberdade e abertura, vieram as inevitáveis tendências para abusar e consequentemente períodos de censura e obscurantismo." pode lêr-se lá. O pretexto para tão nobres quão obtusos raciocínios é, what else, o Caso Pio e a cobertura "apaixonada" que o Do Portugal Profundo tem feito do caso. O autor da peregrina ideia não percebeu, mas nós explicamos - o problema é sempre o limite e quem o define. No caso presente ele não gosta que certas matérias relativas ao Processo Casa Pia venham a público, mas e nos outros casos ? O ministro Nobre Guedes também não deve achar piada nenhuma ao blog que lhe descobriu a careca no caso da Arrábida... Qual é a fronteira entre serviço público (que é o que suponho considera a denúncia do estranho caso das ruínas que até de sítio mudaram) e a "poluição" que será a divulgação de documentação relativa ao Processo Pio e que tanto quanto se sabe não estão sequer em segredo de justiça ? No Afixe defende-se (?) uma blogosfera eugénica, limpa, de preferência sem más notícias, sem sangue, sem maus... Se o mundo não é assim, porque há-de a net ser diferente ? A blogosfera indígena é tão somente o espelho de um certo Portugal, se não se gosta do mesmo, então que se trabalhe para mudar o país, não para objectivamente amordaçar a blogosfera. É que havendo por aí muita coisa de que não gosto, de um extremo ao outro, sempre vou preferindo que as coisas vão sendo feitas às claras, do que naquela clandestinidade complacente em que este país é pródigo, e depois quem define bom gosto? O país não ficará melhor se subitamente certas temáticas deixarem de ser discutidas ou defendidas online, o país ficará muito melhor quando não houver ou necessidade de as discutir ou quem as discuta quer online quer de formas mais arcaicas. Quanto ao limite este existe, é muito claro, e é a Lei geral.
- Um senhor que ao que parece é reitor da Universidade Católica Portuguesa, não se sabe é até quando, dá uma entrevista ao Público/RR/2: e entre outras coisas afirma que "está preocupado com o sucesso escolar dos alunos que chegam ao ensino superior e considera que um dos factores que contribuem para o insucesso é a existência de uma "pressão" da indústria nocturna sobre os estudantes." Mais, e segundo o Público o tal reitor defende que "o poder político deve intervir na regulamentação desses espaços de diversão, de modo a que os estudantes não os frequentem tão intensamente". Sinceramente não se percebe porque fica o homem por aí, afinal canais de TV e rádio a funcionar 24h/dia, acesso à net 24h/dia são formas de pressão (!) tão grandes como as da indústria nocturna, ou não são? Era suposto quem quem acede a um establecimento de ensino superior tivesse já um mínimo de maturidade, afinal ou já podem votar, ou pouco lhes falta, mas, e onde menos se espera, lá se encontram uns encapotados seguidores das teses do Camarada Mao. Falando de coisas sérias, ou Braga da Cruz tinha alguma coisa para dizer e dava a entrevista ou não tinha e ficava calado. A Universidade Católica Portuguesa enquanto instituição é algo de demasiado sério para andar ao sabor das vaidades pessoais e passava bem sem mais (este) motivo de chacota. A propósito, o senhor reitor também falou de financiamentos (públicos), pode ter toda a razão do mundo e é um facto que a UCP globalmente já fez muito pelo país, mas antes de pedir mais um chavo que explique muito bem o que se passou, e vai passando, no soon-to-be-closed Polo de Viseu da UCP. Por aquilo que se sabe, e, sobretudo, pelo que não se sabe muito menos consegue perceber, aquilo é um caso de polícia, nada, mas nada católico.
- Ainda a propósito da recém aprovada Lei-Quadro dos Serviços de Informações ninguém ligou, ninguém estranhou, nem mesmo Vital Moreira, que se mantem num púdico e reservado silêncio, mas eu continuo sem perceber. Reorganizam-se as secretas, permite-se a nomeação de um espião-mor, com mandato vitalício, e tudo, tudo mas mesmo tudo, sem ter que se dar cavaco ao Presidente da República. Se o PR não serve para nada bem, então, que o digam com as letras todas. Algo me diz que este acordo PS/PSD/PP sobre a bloco-centralização da recolha e tratamento de informação sensível e previlegiada vai servir de template para pactos de regime que aí virão. Péssimo sinal, péssimo sinal mas como o tema não vende do Bloco ao PCP nem um pio... É a democracia que temos.
Publicado por Manuel 03:06:00
2 Comments:
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A família, o infantário, o básico, o secundário e a universidade deveriam ser o terreno para se cultivar, tão somente, a autopoiésis (a autoconstrução, a autoprodução, a autocriação). Na formação do homem, o excesso de boas intenções na educação e a propaganda de um imaginário colectivo no ensino (ministrado nas escolas e nos media) produzem apenas robots e insistem em oferecer-nos todos estes tipos de “bom trabalho de robot”.
MJ
Como vejo que por estes lados têm algumas dificuldades de interpretação, venho apenas dizer-vos que não, no afixe não se defende nada disso. Façam o favor de ler com mais atenção e não descontextualizar as minhas palavras. Sei que é coisa a que estão habituados para difundirem as vossas pequenas ideias e manter as vossas pequenas guerritas.
Não o façam comigo.
Monty