o outro lado da lua...
quarta-feira, outubro 06, 2004
É fácil reduzir todos os recentes eventos à volta do Professor Marcelo a meia dúzia de coisas simples. É fácil, é confortável mas muito redutor.
É verdade que Marcelo nunca fez análise, Marcelo sempre (de)construiu universos alternativos, alguns em que acreditava, outros por puro gozo, universos estes que de vez em quando lá iam tendo uma correlação ou outra com a realidade dos factos. Marcelo muito mais do que análise era o expoente máximo do analiticotainment, um cocktail explosivo onde a política se misturava com o mais puro - e sádico por vezes - humor negro.
Marcelo era simplesmente aos Domingos, e durante os tais 45m, aquilo que a Contra-Informação nunca conseguiu ser, a vingança do português médio contra os políticos, e contra a política. Criticar a extraordinária imbecilidade personificada em Rui Gomes da Silva não significa defender ou tomar as dores de Marcelo, significa simplesmente ser contra uma tentativa hegemónica de eugenizar a opinião publicada em Portugal (O Diário Digital - criação do inenarrável Luis Delgado ainhda não dedicou um byte (!) a noticiar o fim (?) de Marcelo na TVI), que vem muito de trás, dos tempos aúreos do PS de Guterres
Também criticar explicita e inequivocamente Rui Gomes da Silva não significa ilibar de responsabilidades quem, na metaestrutura governamental, está acima dele, simplesmente não consta que ninguém tenha ido aterrar a este (des)governo obrigado pelo que sendo todos maiores e vacinados (e muitos tendo ido lá parar só e apenas pelas mesmíssimas razões que levaram alguns a aceitar ir para a Quinta) o facto de o Primeiro-Ministro ser o que é, e quem é, não serve de desculpa abonatória a quem quer que seja, muito menos a um absoluto iluminado como Rui Gomes da Silva.
Para muito boa gente - passe essa minuência que vai sendo a blogosfera - o que não aparecer publicado, noticiado é como se não existisse. A informação, pura e dura, mais que um bem, é algo que se transaciona e que vale muito, mesmo muito... Em tempos, nos idos em que Mira Amaral, esse mesmo, coordenava o Gabinete de Estudos do PSD, não faltaram relatórios a criticar a hegemonia, por exemplo do Grupo PT (na prática e para o que conta - ontem como hoje - um apêndice do grupo BES) na comunicação social, alguns desses papers aterraram mesmo por mão amiga em manchete no moribundo, ontem e hoje, Semanário, mas agora tudo mudou. O PSD está no poder mais pragmático que nunca. E como tudo, e tal como os príncipios, as causas, as medidas tudo se negoceia, negoceiam-se o fim de processos (ganháveis) contra o Estado Português, negoceiam-se alvarás (da TV digital por exemplo de que o Pereira Coutinho se baldou na desportiva, e de cujo novo concurso foi explicado - em bom português, e como já tinha sido antecipado por Eduardo Dâmaso - à Media Capital/TVI que caso não flexibilizasse em relação a Marcelo ficaria pura e simplesmente de fora...), negoceia-se o negócio do cabo (que só em Portugal é acumulável com o do ADSL na PT), os múltiplos negócios da bola, etc, etc, etc...
Um destes dias alguém no Público recomendava a Quinta das Celebridades, estava enganado, pelo menos em parte. São episódios como este que transformam Portugal numa enorme Quinta onde até um Miguel Relvas - secretário-geral do PSD - bate no desplante aos pontos o "troglodita" Ferreira Torres. Reza a Lusa...
O secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, veio esta quarta-feira «lamentar que o programa [de Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI] tenha terminado», disse referindo-se aos comentários semanais no "Jornal Nacional" daquela estação.Depois do ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, ter atacado o ex-líder do PSD, pelos seus comentários no passado domingo - em que Marcelo se referiu à decisão do Governo em conceder tolerância de ponto aos funcionários, como «pior do que o pior de Guterres» -, o analista político anunciou a sua saída.
O PSD, pela voz de Miguel Relvas, «lamenta»: «Nós somos falámos em defesa do pluralismo», disse, lembrando que a «TVI é uma empresa privada».
Perante a insistência dos jornalistas, o secretário-geral social-democrata preferiu repisar as ideias e acrescentar que o PSD se limitou «a pedir à Alta Autoridade para a Comunicação Social para que exerça as suas competências».
Miguel Relvas afastou com uma pergunta a ideia de que o PSD tenha pressionado alguém nesta controvérsia: «Acredita que a TVI é pressionada?»
Num País normal, tanto cinismo, tanta lata não seriam permitidos, mas isto não é um País normal, estes senhores são Governo e, note-se aos mais distraídos, o actual líder da Oposição foi deixado magnanimente florescer na RTP1 por este sistema, por estes senhores... Tal devia ser motivo de reflexão, como o devia ser também o motivo pelo qual toda a gente concordou ontem com o antecipado discurso bombástico, exigente, de ultimato, até de ruptura de Sampaio...
Publicado por Manuel 17:56:00