"F a l a r   p o r   F a l a r"


Era um fim de tarde muito chuvoso, muito triste, muito deprimente. A chuva rasgava os vidros do carro e uma fila sem fim lá me ia fazendo perder mais tempo e gastando mais nervos.

Seriam perto de 18,50 horas do dia 20 do corrente e a ANTENA I lia um texto que dizia ter encontrado num jornal do Marco de Canavezes, e dito de “A VERDADE”, salvo erro.

O jornal escrevera e a rádio lia que um processo grave, de consequências gravíssimas, com fonte em Entre-os- Rios, estivera parado três meses na Relação do Porto, à espera vejam lá !!! ...de uma simples assinatura de um procurador...”.

E perguntava que país é este em que um processo que dizia respeito a dezenas de mortos, podia estar parado meses, ...à espera da assinatura de um procurador...”.

Ouvia na fila eu aquilo e dizia, cá para mim, que país é este? Decidi saber e perguntar, exercer o dito “contraditório” em relação ao jornal e em relação à rádio.

E soube, como o jornal poderia ter sabido e a rádio também, àquele ainda perdoaria por ser um jornal de província, de jornalismo primário, mas a esta não perdoarei nunca e não foi nada comigo.

Não, nada disso, o processo era complicado, tinha centenas de volumes, o procurador não se limitou a desenhar a sua assinatura, estudou o processo, elaborou um parecer e dedicou-se ao respectivo estudo, mesmo com prejuízo das suas férias de Verão.

Ora, isto é muito diferente daquilo que a rádio leu, apontando o dedo acusatório sobre um procurador, sem se ter dado ao cuidado mais primário de confirmar uma acusação tão séria provinda de um jornal de província.

O que sucedeu com o tal procurador, fez-me lembrar um episódio de que fui protagonista, ou feito protagonista, há cerca de dez anos, pelos menos.

Tinha, então, um processo grave, com arguidos presos, algumas pessoas de alguma relevância social. Lá fiz o meu trabalho, articulado com o que, na altura, se chamava delegado do procurador da República. Chegámos a um ponto de acordo quanto à solução a dar ao caso e que divergia da que ele, delegado, dera na comarca respectiva.

Passados dias, o trabalho que tínhamos desenvolvido em conjunto surgiu em certo jornal que, entre o mais, enfatizava o que chamava de “divergências” no Ministério Público e insinuava que, na Relação, o procurador, que era eu, não tinha tido “coragem” de defender a posição do delegado por se tratar de “gente importante(sic).

Valeu-me o delegado a dizer que não e valeu-me o facto de, a essa data, não haver blogues.

Isto sou eu a falar, por falar.

Alberto Pinto Nogueira

Publicado por josé 22:20:00  

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