E X C L U S I V O
O discurso...
sábado, outubro 09, 2004
Desde há mais de 20 anos que lido com discursos oficiais classificados com “embargo” e desde há mais de 20 anos que aprendi que os “embargos” – termo usado para classificar anúncios posteriores mas que, no entender, dos autores (e bem) merecem leitura prévia dos jornalistas para preparação do seu trabalho – são para respeitar. Todavia, dada a natureza de manifesto “interesse público” (nunca pensei dizer isto com tanta pompa) da comunicação ao país de segunda-feira, não resisto a furar o embargo. A AACS precisa de uns estímulos para dizer que está viva e eu dou-lhe motivos. Mea culpa... mea maxima culpa. Mas, como no resto, o direito de informar vai, desta vez (tantas vezes) atropelar todos os outros.
Peço desculpa pelos apartes mas, como o texto é original (veio directamente da central), é assim reproduzido...
il Assessore
Assim:
(P. olha directamente para a câmara com maior zoom)
Portuguesas e portugueses
(... aconselha-se ligeiro trejeito de boca a parecer beicinho)
Quando fui chamado a chefiar os destinos de todos nós fi-lo com a noção própria de quem, há muitos anos, sempre se habituou, foi educado e exerceu, todos os cargos a pensar muito mais no bem estar dos outros do que em si próprio
(... aconselha-se pausa, um ligeiro arranjar do cabelo como fazia o engenheiro Gu e o enfrentar firma da câmara como se o que se disse veio de dentro e não precisa de papel...)
Já sabia que as adversidades iam ser muitas. É impossível, imbuído no verdadeiro espírito democrático que me foi ensinado quase nos bancos de escola por essa figura ímpar que nos governou e desapareceu de forma trágica, agradar, como sói dizer-se, a gregos e a troianos.
(aconselha-se viragem para a câmara da SIC quando se falar em gregos e para a câmara da TVI quando se referirem os troianos...)
Mas a condição humana tem limites.
Desde que assumi estas funções, a vontade de levar por diante esta missão, contando com a colaboração de todos e o melhor para todos, foi sucessivamente atropelada por críticas torpes e susceptíveis de destruir o sonho.
Sei que é nas adversidades que se conhecem os melhores timoneiros mas, como diz o povo, com quem me identifico e para quem, todos os dias, dou a cara, a paciência tem limites...
Sei que ninguém me obrigou a assumir este cargo. Fi-lo na convicção de que podia trazer alma nova a todos quantos me conhecem e sabem que não sou de desistir à primeira adversidade...
Mas o que se viu nos últimos dias é, perdoem-me a franqueza (...pausa e novo beicinho) É, dizia, Demais! (Dar ênfase ao demais)
Se a opção foi acabar com as listas de espera logo apareceu alguém a dizer que quem tinha mais condições – medindo essas condições pelos padrões de vida – passava à frente de quem tinha piores condições (aparte dito em voz baixa: Como se todos, aqui, não fossem todos iguais);
Quando procurei, obedecendo ao mais rigoroso sentido de equidade, estabelecer o princípio do utilizador-pagador para refrear abusos no uso dos melhores caminhos de forma a evitar que, quem nunca usa aqueles acessos às áreas mais isoladas deste nosso espaço, não se sentissem obrigados a pagar para os que o usam sempre, apenas por comodidade, fui acusado de querer discriminar e isolar os terrenos mais isolados – esquecendo-se os críticos de que conseguiríamos assim garantir aqui e ali algum dinheiro para outras prioridades ;
Quando, numa operação que ninguém é capaz de assumir como fácil, tentei colocar quem mais sabe junto de quem mais precisa, novas vozes se levantaram;
Quando (aqui, aconselha-se grande beicinho...) não quis privar ninguém de assistir a esse acto tão bonito, se calhar o mais bonito, que é o de ver nascer um novo ser, logo me acusaram de criminoso;
Agora, se por qualquer motivo alguém do grupo que me acompanha desde que me foi dada esta nobre tarefa de dirigir os destinos deste espaço que é nosso, aparece em público a criticar terceiros, logo sou acusado de tentar calar vozes discordantes...
(Aconselha-se enfrentar a câmara com firmeza dizendo, simulando o improviso, “quem me conhece pode alguma vez assumir com precisão essa acusação baixa, sabendo que desde sempre soube viver com as críticas ou, melhor, sempre viveu debaixo de críticas?...")
Se, finalmente, procuro dar oportunidades para que, num desafio permanente pela modernidade, destaco as melhores pessoas para os melhores lugares, logo aparece quem me acuse de favorecer fulano ou sicrano.
As coisas atingiram tal ponto que se porventura tenho um gesto mais carinhoso em público logo sou acusado de playboy, de voyeur e de outras acusações que me dispenso, por respeito a Vós, de me referir a elas...
(Grande pausa, aproveitar para beber um copo de água e limpar o suor da testa demonstrando grande peror pela matéria em discurso...)
Hoje mesmo tive oportunidade, em privado, de colocar apresentar a minha demissão a quem de direito. Ainda assim, porque Vós fostes a razão da minha existência enquanto líder deste grupo, deste Governo, entendi que devia de falar este meio e este modo de me dirigir a Vós.
Onde quer que me encontrais, saberão que podem contar comigo. Não guardo rancores, nem estou disponível para guerras e vinganças futuras. Continuarei o meu caminho, provavelmente fora, porque ou não me mereceram ou eu não soube merecê-los a Vós.
(aqui, o beicinho deve parecer quase choro. Aconselha-se passagem com a mão direita pelos olhos como que a limpar as lágrimas)
Hoje, e sintetizando, tudo quanto atrás se disse, que se levante o primeiro que entenda que:
(Falar a olhar para a câmara, sem ler. É importante decorar bem esta parte. Utilizar aquela regra de ler onze vezes este pequeno texto. À 12ª sairá sem necessidade de uso da leitura...)
Fui injusto quando permiti que todos, mesmo todos, tivessem acesso ao banho de água fria ordenando quem a ele tinha direito e evitando assim as longas filas e listas de espera para esse sentimento precioso que é o de andar limpo?
Prejudiquei alguém quando cobrei as passagens pelo caminho alcatroado de forma a melhorar significativamente aquele empedrado que nos dava acesso ao estábulo e que, pelas suas condições, era susceptível de colocar em perigo a segurança de todos?
Fiz mal em recomendar a nossa colega Cinha de se eximir de comentários desabonatórios em público, de forma a manter a coesão do grupo?
Quando permiti que todos vissem o nascimento dos porquinhos, fui criminoso?
Quando mandei o Alexandre Frota tratar da porca da Camila, não acham que era a pessoa mais habilitada para o fazer – dada a sua experiência em lidar com porcas (salvo seja)?
Quando, finalmente, no intuito levantar a auto-estima da nossa companheira, lhe fiz uma festa mais carinhosa, ajudando-a a lavar as costas, tive nesse gesto algum laivo de voyeurismo?
Peço, nesta hora de saída, que pensem naquilo que Vos disse. E assumam se, no meu lugar, não fariam o mesmo!
Obrigado! (este obrigado deve ser dito em choro compulsivo com os braços a tapar a cara de forma a que as câmaras não o vejam chorar)
Quinta das Celebridades, segunda-feira, 11 de Outubro de 2004.
Anúncio feito por José Castelo Branco ao decidir abandonar a Quinta, lido por Pedro Reis (daí o P. ) em directo na Televisão.
Publicado por Manuel 20:30:00
6 Comments:
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já na segunda-feira??
Mas que calendario e que esta gente usa?