"White House'04"
Bush vs Kerry (II)

A Grande Loja iniciou, há dias, uma cobertura exaustiva das eleições presidenciais americanas do próximo dia 2 de Novembro. Até ser oficialmente conhecido o nome do homem que será Presidente dos EUA, até Janeiro de 2009, faremos aqui um acompanhamento muito regular, com actualizações quase diárias do que for acontecendo.

Dado que esta Loja dispõe de membros com conhecimentos bem maiores que os meus sobre a política e a história norte-americana, convido os meus Veneráveis Irmãos a contribuírem com posts para esta cobertura exaustiva até à contagem dos votos (que promete ser tão ou ainda mais disputada que a de 2000...)

Depois de, no primeiro post, termos explicado como será eleito o Presidente, e em que ponto estão as contas do Colégio Eleitoral, começarei a tratar alguns dos temas que poderão vir a fazer a diferença a 2 de Novembro.

No final de cada post, vou actualizar os dados existentes e que, como já deu para perceber, vão mostrando sinais um pouco contraditórios.

Certo
, certo, é que a América e o Mundo viverão, dentro de mês e meio, um dos actos eleitorais mais importantes da história da Democracia. É um cliché dizer-se a «próxima eleição será decisiva», mas neste caso ela mostra-me mesmo bastante importante.

Se Bush ganhar, serão oito anos seguidos de afastamento entre a Europa e os EUA. Do ponto de vista das relações externas, isso significará um recuo. Durante os anos Clinton (1993/2001) — um período pelo qual os europeus cada vez mais suspiram de nostalgia — vivia-se um clima quase festivo de Pós-Guerra Fria. O Muro de Berlim tinha acabado de cair e o conceito dominante era o do multilateralismo. Festejava-se meio século seguido de Paz e Prosperidade na Europa e nos EUA (feito único na História) , 50 anos depois do fim da II Guerra. Foram conseguidos os Acordos de Camp David (Setembro de 1993), entre Israel e a Palestina . Onze anos depois, tudo isso parece um sonho distante. Tão distante...

Não queremos com isto traçar um quadro ingénuo de preto/branco
, isto é Clinton bom/Bush mau. As curvas da política internacional ensinam-nos a olhar para estas coisas com um grande relativismo. Seria uma ilusão dizer que os americanos só vão para a guerra com os republicanos (a História do século XX mostra bem que isso está longe de ser verdade).

O próprio Clinton patrocinou ofensivas sobre Bagdad que mataram centenas de civis inocentes (Verão de 1993) e, claro, liderou a campanha da NATO na Jugoslávia, que redundou no bombardeamento de uma capital europeia, Belgrado, em pleno final do século XX (embora este ponto seja bem menos discutível: teve uma consequência francamente positiva, o derrube de Milosevic, criminoso de guerra que tem culpa formada na tentativa de limpeza e extermínio étnicos).

Uma década depois, os problemas do terrorismo internacional são outros — e bem mais complicados de avaliar. Os atentados da Al-Qaeda a interesses norte-americanos um pouco por todo o Mundo no final da década de 90 são a prova de que o 11 de Setembro, afinal, também teria sido possível num mandato Clinton, Gore ou Kerry. A diferença talvez esteja no posicionamento de uma Administração democrata ou republicana perante os seus aliados e mesmo os seus adversários. Bush avançou para a guerra com alguns aliados , mas impondo as suas regras e fazendo ouvidos moucos à ONU. Um Presidente democrata teria tido uma abordagem multilateral e não estaria tão preso aos interesses e às pressões das companhias petrolíferas , ávidas por explorar as novas potencialidades de um Iraque livre de Saddam.

Vantagens
, nesse quadro, de uma hipotética vitória de Kerry - o senador pelo Massachussets tem uma visão muito mais global e aberta do que se passa para lá das fronteiras americanas se comparado com Bush; John Edwards é um brilhante advogado que enriqueceu vencendo causas que protegiam cidadãos vítimas do excessivo poder das grandes companhias, enquanto Dick Chenney passou os últimos anos, antes ser vice-presidente, como administrador da Halliburton, que por acaso até é uma das maiores companhias petrolíferas a operar no novo Iraque.

Há quem considere que o tal «É a Economia, Estúpido » que decidiu as últimas eleições seja substituído pelo «É a Defesa, Estúpido ». Se assim for, se as questões de segurança interna e externa se sobrepuserem às matérias económicas e às questões relacionadas com a qualidade de vida e o desenvolvimento, Bush tem, de facto, fortes hipóteses de ser reeleito. Mas continuo a achar que estas prioridades ainda vão mudar muito até 2 de Novembro…

A prova desta clivagem está num estudo recente que mostra que 53 por cento dos americanos confia mais em Kerry nas matérias de Saúde e Segurança Social, contra apenas 42 de Bush. Mas quando toca à guerra contra o terrorismo, o candidato republicano leva a melhor por 61/34. Eslcarecedor: ou os democratas viram rapidamente o tema dominante da campanha para os assuntos económico/sociais, ou vão ter problemas em passear na Casa Branca pelo menos até 2009...

No próximo post, faremos uma retrospectiva histórica sobre outros actos eleitorais em que os Presidentes em exercício se tentarem reeleger. E veremos quais os motivos pelos quais alguns deles não conseguiram repetir a vitória . Questões como o apoio sociológico de cada candidato e as peripécias da campanha farão tema de posts a publicar em breve.

Quanto aos números, o barómetro diário do «Rasmussen Report» continua a dar uma diferença inferior a um por cento entre os dois possíveis vencedores: Bush 47.3, Kerry 46.4, 2.4 para todos os outros candidatos juntos , com quase quatro por cento de indecisos.

A Taxa de Aprovação do Presidente mantém-se entre os 51 e os 54 por cento nos diferentes estudos (historicamente, sempre que um Presidente está abaixo dos 50 por centro de Taxa de Aprovação perde a tentativa de reeleição, como veremos em breve).

Nos «Swing States», continua tudo muito próximo.
A Pennsylvania , um dos 8 estados que considerámos cruciais nas contas feitas no último post, mostra agora uma ligeiríssima vantagem Bush, numa sondagem publicada hoje: Bush 49; Kerry 48; Outros 2; Indecisos 2.

Como se diria nos EUA, a eleição continua too close to call.


Publicado por André 03:48:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    ter 14-09-2004

    Every incumbent seeking re-election needs to defend his/her record. But George Bush can't defend his record of exporting jobs, soaring health care costs, dangerous dependence on Middle East oil and a disastrous foreign policy. His campaign only has one strategy left: throw all their resources into a negative campaign spreading lies about John Kerry.
    What we've seen during the past few weeks is just the beginning. The Republicans are continuing to spread their lies about John Kerry. The Democratic Party is crucial to our campaign's strategy of responding to these slanders. The sooner you can make your donation to the Democratic Party, the better -- by receiving your contribution now, the Democratic Party will be better able to budget and plan its future response to these vile assaults.
    You know how the Bush-Cheney attack machine works: their false, malicious, and slanderous campaigning is going to continue, and the lies are going to keep coming. You've seen their pattern -- they register an outrageous charge and poison our politics; then a few days later, they retract their statement. Dick Cheney's recent remark about the increased likelihood of terrorist attacks if John Kerry were elected is just another example of this strategy in what has become the most negative presidential re-election campaign in modern history.
    Every time they hit us, we will hit back harder. Help us by giving the Democratic Party the resources to go on the offensive and set the terms of this campaign. We can counter this new attack campaign -- but only because those of you receiving this e-mail have given us the funds to fight another day.

    Mary Beth Cahill
    Kerry & Edwards Campaign Manager

    Um cidadão europeu interessado nas eleições dos EUA
    Gabriel Silva said...
    André,
    "Se Bush ganhar, serão oito anos seguidos de afastamento entre a Europa e os EUA."

    É uma premissa errada. Do ponto de vista político, dos 25 países que compoêm a UE, apenas 3 se oposeram à politica externa dos EUA, nomeadamente quanto ao Iraque. Os restantes 22 ou expresaram o seu apoio explícito, ou manifestaram a sua "compreensão". Acrece ainda que 13 tiveram ou tem tropas no terreno.

    O apregoado "afastamento" apenas existe no pensamento que de quem vê a Europa exclusivamente pelo prisma dos "grandes", nomeadamente França e Alemanha. Um nefasto tique que vem já desde o século XIX...

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