"White House'04" - Bush vs Kerry
confira as contas de uma eleição crucial
terça-feira, setembro 14, 2004
Falta mês e meio para que saibamos se vamos ter que apanhar com mais quatro anos de Bush na Casa Branca, ou se os americanos preferem a mudança.
John Kerry parecia bem colocado, mas as últimas semanas têm mostrado uma ligeira descolagem dos republicanos, por força da mentirosa campanha sobre o passado militar de Kerry e, claro, do medo inculcado pela Administração norte-americana de que um democrata nos próximos quatro anos daria menos segurança à América.
O 11 de Setembro pode até ser o tema que mais preocupação gera nos americanos, mas a máxima «É a Economia, estúpido» deve ressurgir na altura certa — e aí, os democratas têm pontos a ganhar. A herança de Clinton bate a de Bush por larga margem: o actual Presidente é o primeiro inquilino da Casa Branca que termina um mandato deixando menos empregos nos EUA em comparação com os que havia no início do seu trabalho.
Kerry é especialista em vencer na recta final e terá, certamente, trunfos na manga para lançar no momento decisivo.
Apesar da relativa subida de Bush nas sondagens (há semanas Kerry aparecia ligeiramente à frente, agora é Bush quem tem entre uma pequena vantagem), a verdade é que o conta são os votos do Colégio Eleitoral, decorrentes do somatório do vencedor em cada Estado, e não o total de votos dos americanos.
Al Gore bem sabe disso: há quatro anos, teve 50 milhões de votos (o maior score em votos expressos de um candidato democrata), mais 500 mil do que Bush, mas mesmo assim foi o texano a ir para a Casa Branca, graças à chapelada feita com a ajuda do seu irmão na Florida.
E porque a questão voltará a estar no Colégio Eleitoral, a Grande Loja deu-se ao trabalho de consultar as diversas sondagens publicadas nos últimos dias em todos os Estados, de modo a ter uma perspectiva bem mais real do, propriamente, olhar para os números globais que as sondagens mostram. Esses números são um indicador importante, mas não revelam o dado mais relevante - quem está mais perto de assegurar os 270 votos necessários para ser consagrado Presidente?
Uma breve explicação prévia - o Colégio Eleitoral americano conta com 538 votos. O enorme equilíbrio de há quatro anos redundou na repartição mais equitativa da história da democracia americana - Bush 271, Gore 266. Foi por isso que as poucas centenas de votos de diferença na Floria foram decisivas, é que a Florida tem 27 votos eleitorais, sendo o quarto Estado mais importante para estas eleições. O maior é a California, com 55 votos, mas aí não se colocam grandes dúvidas: Kerry deve ganhar por uma margem relativamente confortável. A seguir é o Texas, com 34 (e forte tendência Bush); depois Nova Iorque, com 31 (e uma quase certa vitória de Kerry).
Já o mesmo não se passa na Florida - o sunshine state tem zonas de claro domínio democrata, mas uma cada vez maior influência republicana, decorrente dos dissidentes cubanos que aí residem. São eles a base de apoio ao governador Jeb Bush e, em grande parte, serão eles quem vai votar em George Bush a 2 de Novembro naquele estado. A Florida tem tudo para voltar a ser decisiva e as últimas sondagens dão uma ligeiríssima vantagem a Bush. Mas a diferença continua a ser muito pequena: 48/47, 47/45 e sempre com indecisos num número bem superior à diferença entre os dois.
Por outro lado, é de prever que grande parte do afro-americanos que foram impedidos de votar há quatro anos (e que se tivessem tido direito a voto teriam posto Al Gore na Casa Branca) tenham, desta vez, o seu voto legalizado. Outra boa notícia para Kerry é que um dos principais líderes da comunidade cubana na Florida mudou o seu sentido de voto e inscreveu-se no Partido Democrata, está já a fazer campanha por Kerry no seu Estado.
As contas feitas pela Grande Loja mostram que estas eleições podem ser tão ou ainda mais renhidas que as de há quatro anos. Pode até acontecer que, desta vez, quem ganhar na Florida não ganhe a eleição, pois não estão excluídas algumas mudanças de voto em Estados aparentemente não incluídas na coluna dos «Swing States» (os Estados com votações equilibradas, que tanto podem dar a vitória ao candidato democrata como republicano)
Mas vamos, então, expor o panorama que as sondagens por estados nos mostram. Os resultados que vamos apresentar têm em linha de conta estudos publicados em jornais locais ou nacionais e pelos grandes institutos de opinião norte-americanos - o Gallup, o Zogby, o American Search Group, entre outros.
Estados com Vitória ¨certa¨ de John Kerry...
- Michigan (17 votos eleitorais)
- New Hampshire (4)
- Minnesota (10)
- Novo México (5)
- Maine (4)
- Washington D.C. (11)
- Nova Jérsia (15)
- Califórnia (55)
- Connecticut (7)
- Hawai (4)
- Illinois (21)
- Maryland (10)
- Massachussets (12)
- Nova Iorque (31)
- Vermont (3)
- Rhode Island (4)
- District of Columbia (3)
- Delaware (3)
Estados com Vitória ¨certa¨ de George W. Bush...
- Missouri (11)
- Nevada (5)
- West Viriginia (5)
- Wisconsin (10)
- Arkansas (6)
- Alabama (9)
- Alaska (3)
- Arizona (10)
- Georgia (15)
- Idaho (4)
- Indiana (11)
- Kansas (6)
- Kentucky (8)
- Louisiana (9)
- Mississipi (6)
- Montana (3)
- Oklahoma (7)
- Carolina do Sul (8)
- Dakota do Sul (3)
- Texas (34)
- Utah (5)
- Virginia (13)
- Wyoming (3)
- Nebraska (5)
Temos, por isso, uma primeira linha de análise na qual Kerry tem 18 estados praticamente ganhos, que lhe garantem 79 por cento dos votos necessários para ser Presidente (219 em 270). O problema são os restantes 21 por cento, como já vamos ver…
George Bush tem o triunfo aparentemente seguro em 24 estados, mas o somatório é de apenas 201 votos no Colégio. Mais seis estados que Kerry, mas menos 18 votos, porque o predomínio de Bush é em estados menos populosos, da América interior e profunda, predominantemente rural, ao passo que Kerry domina em zonas costeiras e mais populosas, com uma maior diversidade étnica e cultural.
Partindo do pressuposto que estes 42 estados têm um vencedor já declarado (repetimos, pode haver uma surpresa, mas as sondagens em todos estes estados mostram indicadores muito fortes), conclui-se que os restantes 8 estados vão ser cruciais. Embora uns sejam mais cruciais que outros…
Vejamos...
- Florida, 27 votos, ligeiríssima vantagem Bush, embora Kerry apareça à frente nalguns estudos recentes
- Ohio, 10 votos, vantagem Bush de 3 a 10 pontos
- Pennsylvania, 21 votos, ligeiríssima vantagem Kerry
- Colorado, 9 votos, empate total (as quatro últimas sondagens dão os mesmos resultados: 47/47, 47/47, 47/47 e 46/46!!)
- Iowa, 7 votos, vantagem Kerry de 2 a 5 pontos
- Oregon, 7 votos, vantagem Kerry de 2 a 5 pontos
- Tennessee, 11 votos, empate técnico (Kerry aparece à frente na última sondagem, por 50/48, antes Bush aparecia em primeiro por 48/46)
- Carolina do Norte, 15 votos, vantagem Bush de 3 pontos, mas uma recuperação de Kerry nas últimas semanas, que pode ser uma consequência de John Edwards, seu candidato a vice, ser senador eleito por este estado, gozando de forte popularidade)
Kerry - 219+Iowa+Oregon+Pennsylvania = 254 votos
Bush - 201+Ohio = 211 votos
Kerry dispõe de 43 votos de avanço. Mas pode não chegar. É que com os quatro estados mais indefinidos em aberto — Florida, Colorado, Tennessee e Carolina do Norte — o somatório destes quatro estados dá 62 votos eleitorais.
Mais longe, em termos aritméticos, não podemos ir neste momento. Há ainda uma franja de quase dez por cento de indecisos e a flutuação da abstenção será muito relevante neste caso — geralmente, uma maior afluência às urnas favorece os democratas, mas nem isso é líquido numa eleição que promete mostrar algumas surpresas mesmo para os peritos em análises eleitorais...
As margens nestes estados indefinidos são tão pequenas que, semana a semana, revelam tendências contraditórias. Aparentemente, há uma vantagem sociológica de Bush nos quatro estados que elegemos como cruciais, com excepção da Florida, mas a conservadora Carolina do Norte pode aparecer como a «arma secreta» de Kerry. Mas também não é certo que a diferença nos outros estados seja de 43 a favor de do senador do Massachussets…
Os dados estão lançados e convém não esquecer que esta não é uma luta a dois. O efeito Nader foi letar para Gore há quatro anos. Mas agora ele já nem é candidato pelos Verdes e pode não ter ser tão decisivo. Há mesmo sondagens que mostram Nader a roubar votos importantes a Bush em certos estados.
Uma coisa é certa - ao contrário do que se tem escrito por cá depois da Convenção Republicana, Bush está longe de dispor de uma vantagem segura. A nível nacional, o barómetro diário do «Rasmussen Reports» dá um empate técnico - Bush 47.2, Kerry 46.4, Outros 2.5, Indecisos, 3.9
Quem sabe se não acontecerá o cenário inverso ao de há quatro anos? Quer dizer, mais votos nacionais para Bush, mas vitória para o candidato democrata? É só um palpite…
Publicado por André 02:40:00
apreciei este bom trabalho,
um cidadão europeu