White House'04
Bush vs Kerry (V)

Como prometido, arrancamos — nesta fase de aquecimento daquela que será, certamente, uma das maiores campanhas eleitorais da história da Democracia — para o desenvolvimento de alguns dos temas mais marcantes da disputa presidencial norte-americana.

Bush vai tentar a sua reeleição, um facto que implica um interesse histórico redobrado, uma vez que há precisamente 12 anos, em 1992, o seu pai falhou o mesmo objectivo. Em 1988, George Herbert Bush, vice-presidente dos EUA durante o consulado Reagan, disputou a eleição Mike Dukakis, um senador do Massachussets.

Dukakis chegou a ter uma grande vantagem, mas erros colossais na gestão da campanha e um enorme fracasso na tentativa de passar a sua mensagem ao eleitorado fizeram com que o candidato democrata perdesse para Bush-pai. A Casa Branca iria iniciar o seu terceiro mandato consecutivo com um republicano: depois de oito anos de Reagan, mais quatro de George H. Bush.

Em 2004, o filho mais velho de George H. Bush, George W. Bush, defronta de novo um candidato democrata que é senador pelo Massachussets: John Kerry. A História repetir-se-á na totalidade?

Bush pai venceu a primeira Guerra do Golfo (1991), mas mentiu aos americanos sobre os temas económicosRead my lips: I will not increase taxes», «leiam os meus lábios, não vou aumentar os impostos», garantiu ele na televisão, dias antes de o fazer).

O eleitorado não gostou, nem gostou, sobretudo, de ver deteriorados alguns dos privilégios sociais obtidos pela classe média. Houve, também, um efeito aritmético consequente da candidatura independente do multimilionário Ross Perot, que chegou a 19 por cento, sendo que a maior parte deles iriam para o Bush.

Com o desemprego a crescer e a economia arrefecida, um Bush respeitado do ponto de vista moral, mas cinzento do ponto de vista político, foi batido por um jovem brilhante que vinha de um modesto estado do Sul, o Arkansas.

Quase tão novo como Kennedy quando foi eleito (43 tinha Jack em 1960, 46 somava Bill em 1996) e — provou-se com os anos e a experiência — ainda mais preparado para ser Presidente («será talvez o Presidente mais culto do século XX», comentou Gabriel Garcia Marquez, no dia em que conheceu Clinton, quando do 50.º aniversário do antigo Presidente norte-americano).

Clinton venceu em 1992 e impediu Bush-pai de cumprir um segundo mandato. Será que Kerry conseguirá fazer o mesmo? Em comum com essa eleição está o facto de o candidato republicano, e Presidente em exercício a tentar a reeleição, também se chamar George Bush. Mas com um «W» a somar: George W. Bush herdou a influência do pai, cresceu e afirmou-se politicamente graças ao pai, mas tem — ao contrário do que muita gente pensa — algumas diferenças substanciais em relação ao seu antececessor republicano na Casa Branca: é menos culto, mais virado para um discurso da América rural e provinciana, mas, por outro lado, preocupa-se em passar a imagem de «conservador com compaixão». Trata-se de uma blague para enganar os eleitores do centro, fazendo passar uma imagem de moderação (foi essa a estratégia de marketing da sua campanha na Convenção Republicana), mas a verdade é que esta faceta está presente no seu discurso político, ao contrário do que sucedia com o seu pai.

Numa fase inicial do seu mandato, Bush-filho demarcou-se da política intervencionista do seu pai na Somália e mesmo no Iraque (é incrível, mas nos primeiros meses desta Administração, o discurso era o de que Saddam já não constituía um perigo).

Mas tudo mudou com o 11 de Setembro. O Presidente-que-quase-nunca-tinha-saído-dos-States foi forçado a sair de cena e entrou um Bush impositivo e convicto em liderar uma «Coligação contra o Eixo do Mal».

Os dados são, por isso, diferentes. Tal como em 92, uma Administração com o nome Bush termina o seu trabalho com maus resultados económicos. Mas desta vez, talvez a chave não seja o «É a Economia, Estúpido». Num ambiente de guerra, ainda que latente, como é o que vivemos, os peritos referem que há uma tendência natural para que os eleitores reelejam o Presidente. Mas nesta, como noutras questões decisivas para esta campanha, não há regra sem excepção…

Em 28 Presidentes dos EUA que tentaram a reeleição, só oito não o conseguiram. São eles:

John Quincy Adams (1828, perdeu para o democrata Andrew Jackson)

Martin Van Buren (1840, perdeu para o liberal W.H. Harrison)

Glover Cleveland (1888, perdeu para o democrata B. Harrison)

William Taft (1912, perdeu para o democrata Woodrow Wilson)

Edgar Hoover (1932, perdeu para o democrata Franklin Roosevelt, durante a Grande Depressão. Roosevelt entrou para a História como o Presidente mais vezes eleito: quatro seguidas, facto que levou à criação de um limite de dois mandatos consecutivos)

Gerald Ford (1976, perdeu para o democrata Jimmy Carter)

Jimmy Carter (1980, perdeu para o republicano Ronald Reagan)

George H. Bush (1992, perdeu para o democrata Bill Clinton)

Apesar de ser uma minoria percentual (oito em 28), a derrota de um Presidente tem sido um facto habitual nas últimas três décadas. Aconteceu a Ford em 76, a Carter em 80 e a Bush em 92.

Publicado por André 03:58:00  

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