"Pelos meninos de Beslan"


Olho as fotografias dos jornais e os olhos embaciam-se. Vejo crianças com a idade dos meus filhos, nús, a serem transportados ao colo dos pais e de militares, com o terror estampado no rosto, feridos nos corpos por muito tempo e feridos na alma para sempre.

Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais baços, e vejo meninos e meninas, com a idade dos meus filhos, a serem transportados em macas, com a lividez da morte nos rostos.



A man sits by dead bodies of the Beslan hostage-taking drama victims at the morgue in Vladikavkz, North Ossetia. Top US newspapers decried "chaos on an almost apocalyptic scale" in the denouement of the hostage-taking in the southern Russian republic of North Ossetia but along with the sympathy came strong words for Moscow's handling of the Chechen conflict.(AFP/Viktor Drachev)

Olho as fotografias, com os olhos cada vez mais embargados, os músculos cada vez mais rígidos, e vejo mães e vejo pais, de olhar desesperado, à procura dos seus meninos, vivos ou mortos.

Olho as letras impressas mas não consigo ler, a não ser as maiores, por entre o baço dos olhos...

Tantas centenas de mortos, tantas centenas de feridos... Tantas vidas prematuramente ceifadas, tantas meninas e tantos meninos que já tiveram sonhos e ambições, ilusões e desilusões, amores pueris e desamores também pueris, estirados pelo chão, vivos ou mortos ou mortos-vivos...



Paramedics register bodies of victims killed in a school seizure in a morgue in Vladikavkaz, North Ossetia, Saturday, Sept. 4, 2004. The bodies were brought to Vladikavkaz for identification. More than 340 people were killed in a southern Russian school that had been seized by militants, a prosecutor said Saturday. (AP Photo/Sergey Ponomarev)

Não. Não me interessa saber quem tem razão nesta guerra entre Putin e os rebeldes tchetchenos. Nem me interessa saber se houve uma precipitação de alguém que levou ao massacre. Nem me interessa saber se os rebeldes independentistas tiveram ou não o apoio de mercenários russos ou árabes.

Mas há uma coisa que eu sei: os autores do sequestro de Beslan sabiam que estavam a sequestar uma escola onde havia centenas de crianças. E sabiam que ao agirem daquela forma estavam a pôr em risco a vida daquelas meninas e daqueles meninos, que usaram como escudos humanos.



Children who survived : Pctures of injured children who survived being held hostage by armed militants at a school in Beslan, line the hospital wall in Vladikavkaz, North Ossetia, to help people locate their loved ones. (AFP/Yuri Tutov)

E sabiam que o resultado final seria sempre uma catástrofe, em que as principais vítimas seriam aquelas meninas e aqueles meninos.

E não me venham com filosofias justificativas. Gente como os sequestradores de Beslan não é gente. Se fosse gente, não teria manifestado tamanho desprezo pela vida das meninas e dos meninos de Beslan...

Carteiro in Incursões

Publicado por Manuel 02:15:00  

5 Comments:

  1. Anónimo said...
    A BESTA HUMANA em toda a sua pujança...
    Anónimo said...
    Pois é: toda o texto é muito bonito mas a unica conclusão - correcta - que retira, é que esta gente não é gente. E depois? o que fazer com eles caso fossem apanhados vivos e presos? Em Portugal, na pior (melhor) das hipoteses apanhavam 25 anos de cadeia! Há que ter corencia até ao fim! o Sr. estaria disposto a votar no seu partido (seja ele qual for) se o mesmo fosse a favor da pena de morte para os crimes mais graves? Eu estaria, mas vivo numa europa (com minuscula de proposito) em que o falso humanismo dos legisladores serve para proteger os criminosos.
    Anónimo said...
    Sou apenas uma mãe que se sentiu mãe de todas akelas crianças e que viveu/vive a angústia, o horror de todas akelas mães. E que pergunta...que solução existe para este mundo?
    mfc said...
    Certíssimo que aquela gente não é gente.
    E quem criou "aquela gente" sabendo o resultado da sua criação????
    Remataria dizendo: aquela gente que criou esta gente também não é gente...
    Ampop said...
    E existe Deus?

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