"A derrota do interesse público"
quinta-feira, setembro 09, 2004
(...) o desperdício de trezentos milhões de contos na compra de submarinos só pode ter uma explicação – o vírus intermediário (...)
No ordenamento e qualificação do território, é a conjugação dos interesses financeiros das autarquias com a máquina trituradora do betão e os seus lucros fáceis que continua a levar de vencida o direito dos portugueses a viverem melhor. (...) Até lá, os actores do imobiliário continuarão a ser os donos da bola, dos estádios e das secretarias. Baterão o interesse público por cinco a zero (um golo por cada partido com representação parlamentar) em todos os jogos, ano após ano. (...)
A reforma da administração pública é porventura o melhor exemplo de consensualidade cristã do nosso rectângulo. Todos convergem na causa, todos divergem na aproximação. Não é caso para menos. Setecentos mil funcionários públicos são um número suficientemente esmagador para fazer vacilar o mais honesto dos políticos. (...)
Luís Nazaré
Seria curioso saber o que pensam, entre outros, das declarações exaradas acima personagens como os três candidatos a pseudo-lideres do PS, nomeadamente José Sócrates, Jorge Coelho, Luis Filipe Menezes, Rui Rio, Narciso Miranda, Isaltino Morais, Pedro Santana Lopes, José Luis Arnaut, Valentim Loureiro, Fernado Seabra, Paulo Portas, José Miguel Júdice, e claro os grandes visados - ainda que subtilmente - o BE e o PC...
Publicado por Manuel 16:17:00
8 Comments:
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Esquece-se com frequência que a responsabilidade efectiva da condução da Administração cabe aos mais de vinte governos dos últimos trinta anos.Também se esquece que a temática da Reforma aparece com Marcelo Caetano, após o alargamento do Estado a àreas de coordenação e desenvolvimento económico e ao esgotamento do modelo de gestão e funcionamento, que como paradigma permanece quase imutável desde o Fontismo do sec.XIX.
A discussão acerca da reforma da Administração não pode fazer-se desligada da responsabilidade política dos seus agentes e do modo como lhes é conferido o mandato de exercício, quer do poder legislativo, executivo e judicial.
Quanto à crítica ao modelo actual de Administração gostaria que fosse tornado público e acessível a produção teórica, quer das Universidades e outras entidades, quer do INA e que projectos-piloto se podem implantar e avaliar, global e sectorialmente.
A administração actual ainda é organizada verticalmente por ministério, de costas voltadas para os outros ministérios, com extenção geográfica variável e multiforme, ignorando regiões e autarquias.
Coisas como funcionamento em rede, por projecto, por missão, por objectivos, são conceitos a que responsáveis fogem como o diabo da cruz.
Integração, inclusão,planeamento, partilha,avaliação, responsabilização, liberdade de acção, inovação, motivação, interesse público, são práticas que a maioria dos gestores executivos e políticos abomina.
A Administração é uma instituição total(diferente de totalitária, note-se)na medida em que tudo faz para despersonalizar e esvaziar de "alma" qualquer que nela trabalhe. Tenta reproduzir até ao infinito um padrão comportamental acrítico, amorfo, impessoal, deprimente, auto-castrador, em suma quase suicidário.
É esta a Administração que muitos querem continuar a impôr!
Será que vamos deixar?
Nota final: O conceito e prática das Lojas do Cidadão já fez cinco anos; Para quando a divulgação do balanço crítico dessa lufada de ar fresco?
Peço desculpa...esqueci-me de assinar o post.
Ass.Maria da Fonte II
E ouvir as respostas dos políticos iria ser interessante porque, genericamente, não iriam discordar muito.
Abraço.
Com comentários escorreitos e avisados como este dá gosto passar pelos blogues. Eu desde já confesso a minha ignorância quanto ao pensamento que se tem desenvolvido a pensar especificamente na administração pública. Não quer mandar umas cartas com exemplos concretos que se possam publicar na Grande Loja? Acho que os restantes colaboradores não se oporiam e sempre se prolongava a discussão num tom elevado e instrutivo. Há demasiados bons trabalhos condenados à gaveta sem nunca terem a oportunidade de ser escrutinados pela crítica...
O Pedro M. também toca nalguns pontos interessante: os Helis por exemplo.
Não me faça falar sobre submarinos e sobre a Marinha. Os submarinos fazem tanta falta num plano estratégico e integrado de médio e longo prazo de defesa nacional como piri-piri numa mousse de chocolate...
Quanto aos blindados, e aos helis e aos radares que não citou pois...
Voltando à marinha embarcações ligeiras de alta mobilidade, uma rede de radares costeiros com pés e cabeça é que parece que não são necessários, nomeadamente para combater o tráfico de droga... Você sabe quais vão ser os custos de manutenção - só de manutênção - dos submarinos ? Não lhe chega a figura triste que Portugal fez na Bósnia ao mandar para lá os F-16 que a única coisa para que serviam era LITERALMENTE para aterrar e levantar voo (faltavam-lhes os componentes electrónicos para a moderna guerra electrónica e como saberá hoje já não há combates aéreos visuais) ?...
Quer que continue ?
Com larga e penosa experiência, quer no sector empresarial, quer na AP, diria que em ambos, e a médio prazo, se terão de adaptar novos métodos de gestão (que não se reduzam a enxotar os seus funcionários para “outro aeroporto”... – vide o filme “Terminal”).
Não pretendendo contradizer o excelente post de Mª da Fonte II, 6:31, considero que, em Portugal, as empresas (muitas – talvez não todas) enfermam exactamente dos mesmos vícios da AP os quais são retratados nas lúcidas afirmações de Corinne Maier "Bonjour paresse” (in Público-Economia, 2004.09.13):
" (...) É inútil tentar mudar o sistema - isso só o torna mais forte (...) O trabalho que faz é inútil e você será um dia substituído pelo cretino que trabalha na mesa ao lado - por isso trabalhe o menos possível e cultive uma rede de compadrios que o tornará intocável na próxima leva de despedimentos (...) Você não é julgado pelo seu mérito, mas pela sua aparência (...) Fale em linguagem tecnocrática: os outros vão pensar que você é inteligente (...) Não aceite posto de responsabilidade: vai ter de trabalhar mais, sem ganhar muito mais. (...)”
Entretanto, na tão odiada AP portuguesa, e como é noticiado hoje no Público: “Nos tribunais portugueses faltam 1400 funcionários. As vagas estão abertas, mas não são preenchidas. Há cerca de quatro anos que o problema se arrasta sem que ninguém o resolva. Entretanto, a pendência de processos foi aumentando. E há cada vez menos funcionários para dar resposta ao volume de trabalho.”
Será que a panaceia da gestão privada virá resolver os problemas da “vaca sagrada AP” nos Tribunais, Quartéis, Hospitais, Escolas, Orgãos da Administração e do Ordenamento do Território, entre tantos outros?.
MJ
MJ