tema da semana aos sábados

Os incêndios

Se há tema que tenha marcado a semana, esse tema, é indubitavelmente os incêndios ou melhor a forma como eles atacam sempre da mesma forma, ano após ano, e com a complacência e irresponsabilidade de todos ou quase todos.

Felizmente que afastados os número negros de 2003, onde arderam 431.000 hectares e morreram 21 pessoas, o ano de 2004, ainda com o Agosto a começar cifra-se nos quase 60.000 hectares e sem mortes a lamentar. Os mais desatentos dirão que os números provam a eficiência da acção governativa, mas a verdade é que quer pelos incêndios que lavraram na semana passada quer pelo facto de no ano passado os números dos hectares ardidos serem comparativamente à mesma altura do ano bem mais baixos que os actuais, pode levar-nos a pensar no pior. E com razão.

Muito se questiona, porque arde o país? Se por um lado é do senso comum que é impossível controlar o descontrolo psicopata dos incendários, o que equivale a dizer que é impossível impedir que nada arda, por outro lado é convicção que muito pouco se fala, e quase nada se faz em matéria de prevenção antes do tempo.

Obviamente que as vagas de calor, propiciam os incêndios ou melhor a sua continuidade, mas também é verdade que entre os 40 graus da semana passada e os 30 graus de há quinze dias atrás não é aceitável o argumento de que a floresta arda com 40 graus e que com 30 graus não arda. Por exemplo durante o Euro'2004, tivemos uma pequena vaga de calor, com temperaturas a passaram várias vezes dos 35 graus, e nem um incêndio de grande proporções tivemos.

Não tenho dúvidas, que assistimos de facto a uma melhor coordenação dos meios e dos bombeiros, pois os mais de 600 bombeiros que combateram o fogo do Algarve , comprovam a alocação dos bombeiros para o fogo mais grave. Mas a verdade é que não se compreende como é que um país como Portugal que faz da floresta um recurso importante, não lhe dá o devido valor.

Jorge Sampaio, por exemplo, falou de que chegou a hora da prevenção. Errado caro Dr. Sampaio, a hora da prevenção há muito que acabou. Aliás os países que zelam pela sua floresta tem já neste momento aprovados os planos para o inverno de 2005.

Há países que trabalham e outros que se deixam ir na onda da irresponsabilidade, e Jorge Sampaio embarcou nela como que embarca num Titanic, sabendo que um iceberg o irá afundar.

Não tenho dúvidas que mais meios aéreos dotarão o país de mais e melhores meios de combate. Mas para se perceber o drama dos incêndios é preciso explicar porque razão o Estado aluga meios aéreos em Abril pagando cerca de 20 Milhões de Euros. Para se perceber o horror dos incêndios é preciso que o Estado explique afinal de uma forma concreta o que fazer com a floresta privada que os donos não limpam. A lei é clara e sugere a expropriação. Mas será esse o caminho ? Consegue o Estado expropriar em tempo útil que permita limpar a outrora floresta privada ?

Outro grande problema surge obviamente na reflorestação. Existem árvores que ardem mais facilmente que outras, e quando se opta pelas extensões enormes de eucalipto o resultado é óbvio. Não percebo muito de floresta, mas é certamente do senso comum que o castanheiro e a nogueira, designadamente na serra de Monchique, podem travar o avanço do fogo por mais tempo. É giro quando alguns senhores desta praça acham que o Estado deveria tomar conta das florestas privadas, mas a verdade é que a Direcção-Geral dos Serviços Florestais não tem condições para gerir as florestas do Estado quanto mais as privadas. E isto tem que ser assumido já.

Não tenhamos dúvida, que há um indústria do fogo. Sazonal como o turismo, e que apenas aproveita a irresponsabilidade do Estado e autarquias na execução dos seus deveres.

Por exemplo, Carlos Tuta, presidente da Câmara Municipal de Monchique, pede ao Estado que liberte já os 8 Milhões de Euros que ele e mais 5 municípios do Algarve lhe pediram o ano passado. Aliás que a lei tem que ser mudada é um facto óbvio para muitos mas não no sentido que Tuta quer, que significa o levantamento da impossibilidade de contrução em áreas ardidas. Pois, o caro autarca, que é também presidente da Associação de Municípios do Algarve, sabe que na região algarvia nem todos os municípios pediram a ajuda comunitária para a limpeza das matas. Não é Tuta o culpado dos incêndios certamente, mas a sua má gerência ou irresponsabilidade associada ao viver do clientelismo perante o Estado de mão estendida em muito contribuíram.

É impossível ter um Canadair em cada concelho, é impossível ter um bombeiro em cada hectare, mas uma das perguntas que mais me coloco, é o que fazem os militares nos quarteis acantonados durante o Inverno/Primavera ?

Mas nem todas as autarquias alinham pelo mesmo diapasão, e basta ver o que se fez em Mortágua, e ver os hectares ardidos. A central de biomassa florestal tem dado os seus frutos.

O que foi feito na zona de Monchique desde o ano passado em termos de prevenção ?

Porque só agora torna é público a pressa em fazer qualquer coisa ?

Tuta e Sampaio não costumam ir à Casa do Castelo, mas tem de certeza cartão vip à entrada do que significa um estilo nacional-porreirismo, que qualquer português minimamente sensato sabe não condizer com os seus valores.

Publicado por António Duarte 06:20:00  

1 Comment:

  1. António Balbino Caldeira said...
    Os militares nãso sabem combater incêndios. O problema não pode ser resolvido com amadorismo.

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