Rolha em cima deles!


Os advogados da defesa, os jornalistas a mando, os conspiradores, os cabalistas, as partes interessadas no processo, as partes desinteressadas no processo, (mas interessadas na sua venda comunicacional), todos podem falar, que, numa democracia que funcione, não afectam a justiça. Podem cometer um crime falando, podem criar dificuldades à justiça, podem desenvolver “estratégias”, mas, se tudo o resto funcionar bem, não podem impedir a justiça. Só uma parte não o pode fazer, por razões que estão muito para lá da lei, e que tem a ver com o funcionamento da democracia e a ética social: a PGR, os magistrados, os juízes e os polícias, que detêm sobre o processo (e um processo são pessoas: vítimas, inocentes e culpados) poderes com origem nas prerrogativas do seu estatuto profissional. Podem prende-los, podem interroga-los, podem escutar-lhes o telefone, podem copiar-lhes o disco duro dos computadores, fazer-lhes buscas a casa. Não podem é falar. Nem demais, nem de menos, não podem falar. A sua “fala” própria é a condução do processo de modo a dar satisfação às vítimas e punição aos culpados.

Quem ler isto que foi publicado no Abrupto, pode ficar com a ideia de que deve existir uma lei da rolha no processo penal e que impeça toda a gente de falar sobre um processo concreto.

Para além de deixar de fora os advogados de defesa que são representantes de uma das partes mais importantes e que para José Pacheco Pereira não apresentam qualquer problema se falarem abertamente do mesmo, desinformando, dando falsas pistas, condicionando o sentimento da opinião pública, é preciso que se diga o seguinte para tais afirmações não passarem em claro:

Não é assim e este postal de JPP é mais uma das contribuições regulares para a desinformação.

A lei processual penal , no artº 86º nº 9 do C.Processo Penal, estabelece...

(...)
9 - O segredo de justiça não prejudica a prestação de esclarecimentos públicos:
a) Quando necessários ao restabelecimento da verdade e sem prejuízo para a investigação, a pedido de pessoas publicamente postas em causa;
b) Excepcionalmente, nomeadamente em casos de especial repercussão pública, quando e na medida do estritamente necessário para a reposição da verdade sobre factos publicamente divulgados, para garantir a segurança de pessoas e bens e para evitar perturbação da tranquilidade pública.

É por essa razão que se tem ponderado a existência de gabinetes de imprensa tanto na PGR como no STJ ou CSM. A informação nos dias de hoje, sobre assuntos concretos e por isso sobre processos concretos, pode e deve ser dada, sem prejudicar as finalidades da investigação e sem ferir a honra ou consideração seja de quem for.

Pensar e escrever o contrário é, parece-me , reaccionário, naquilo que este termo tinha de mais pejorativo.

Tem razão, porém, José Pacheco Pereira, numa coisa - os magistrados e polícias que efectuam a investigação não devem falar sobre ela nem sobre os aspectos do processo que não se contenham naqueles apertados termos expostos na lei. Nisso, tem inteira razão.

quanto a uma pequena fase do texto em causa, fico mais do que perplexo - fico preocupado!

É esta em itálico carregado...

A enorme perturbação que atravessa a sociedade portuguesa, a que se interessa por estas coisas e é dedicada à causa pública, os melhores de nós todos, que exactamente por isso se sentem mais ofendidos, é a constatação inequívoca, insisto inequívoca, de que esta regra básica não foi cumprida, sem consequências de maior.

Quem são os melhores de nós todos?! Serão eles? Os que se dedicam à causa pública?

Não acredito! É gozo, concerteza...

Publicado por josé 00:08:00  

7 Comments:

  1. zazie said...
    ahhahaha eu também me perguntei o mesmo ":O))))

    ou o problema deriva do JPP escrever com os pés ou é mesmo isso looooooooollll
    Anónimo said...
    Os que se dedicam à causa pública, para o "josé", são "eles". Está tudo dito!
    josé said...
    Acho que não compreendeu bem, caro(a) anónimo(a):

    "eles" são os que "se servem" da causa pública. Nem é sequer um problema semântico: é um pronome reflexo, o mal e a razão da minha preocupação!
    António Balbino Caldeira said...
    José

    Não é um pronome pessoal, desculpe corrigi-lo. Neste caso é um pronome possessivo: o poder é deles...
    Anónimo said...
    "A sociedade portuguesa, a que se interessa por estas coisas e é dedicada à causa pública" é bastante abrangente... Só que o josé não se sente integrado... Se calhar, é também dos que prefere ir à praia a ir votar...

    ("Concenteza" não existe no meu dicionário.)
    Anónimo said...
    Pois como JPP não alinha pela maioria que domina os Media e aqueles que fornecem dados - falsos e verdadeiros - para procurar silenciar uma oposição, visando a manutenção ad eternum... Eleições para quê!?

    Para quem corre o manelito!?

    Duvidador.
    Anónimo said...
    Aparentemente, existem gabinetes de imprensa que prestam esclarecimentos públicos em conversas telefónicas sob anonimato. Aparentemente...
    Preocupava-me era se alguns zés e manéis se revissem no melhor de qualquer coisa...

    Observador Divertido

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