Leitura de Férias (IV)


Os seus relatos eram agora os mais precisos e os mais minuciosos que o Grão Kan podia desejar e não havia questão ou curiosidade a que não respondessem. Porém todas as notícias sobre um lugar fazia vir à mente do imperador o primeiro gesto ou objecto com que o lugar havia sido desginado por Marco. O novo dado recebia sentido a partir daquele símbolo e ao mesmo tempo acrescentava ao símbolo outro sentido. Talvez o império, pensou Kublai, não seja mais que um zodíaco de fantasmas da mente.
-- No dia em que conhecer todos os símbolos -- perguntou a Marco, -- conseguirei possuir o meu império, finalmente?
E o veneziano: -- Kan, não acredites nisso: nesse dia serás tu mesmo símbolo entre os símbolos.

in «As Cidades Invisíveis», Italo Calvino
Editorial Teorema, colecção «Estórias», Lisboa, Dezembro de 1996

Publicado por André 01:44:00  

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