Depois do primeiro milho

Continuando a acompanhar a campanha a secretário-geral do PS pelos media

Temos hoje como facto relevante “Uma Indispensável Clarificação”, o artigo que José Sócrates apresenta nas páginas do Diário de Notícias [disponível no recentemente inaugurado site do candidato].

Nele propõe-se abordar seis temas. Seriam estas algumas das questões a discutir internamente?

Fosse como fosse, finalmente, José Sócrates apresenta alguma clarificação.

  • A recusa e o combate à visão estreita daqueles a quem se deve dirigir o PS, demarcando-se claramente da opção pela cartilha da “luta de classes” de Manuel Alegre.

  • A valorização daquilo que o governo socialista de António Guterres teve de melhor – a “marca social” respondendo aos argumentos de Manuel Alegre e denunciando a sua crítica não mais que velada aos últimos governos socialistas;

  • A insistência na inovação tecnológica como principal característica da sua política económica, reforçando a ideia da necessidade de uns novos Estados Gerais dominados por esse “desígnio”;

  • O ataque a Manuel Alegre destacando a incoerência deste, patente entre a defesa de debates abertos à sociedade e a opção por uma escolha de directório quanto à questão do primeiro-ministro;

  • A recusa de coligações pós-eleitorias à esquerda e a denúncia dos malefícios estratégicos da predisposição assumida pelos restantes candidatos para esses mesmos cenários;

  • E, finalmente, a apologia de António Guterres para Presidente da República.

Como apreciar o texto de José Sócrates? O título começa logo por dizer alguma coisa, atentem - "Uma indispensável clarificação".

O principal valor acrescentado do artigo em questão é o contributo para a demarcação pública entre as campanhas em termos de estratégia política.

No texto de hoje consegue mitigar a ausência de dados concretos quanto à linha de rumo político e às suas opções que pontificaram neste início de campanha e põe em cheque as lacunas e fraquezas dos seus opositores, em particular Manuel Alegre (João Soares, tem dito pouco que mereça digna nota até ao momento, convenhamos). Além da referida questão quanto à escolha do primeiro ministro, denuncia a carência de fundamentos na versão de socialismo que Manuel Alegre defende seguir, ao este se distanciar de todos os governos socialistas que estiveram em vigência pela Europa a sul da Escandinávia nos últimos anos.

No texto não falha sequer o text bit que caricatura a forma como Manuel Alegre e seus apoiantes engolem a opção António Guterres para presidente da República:
“Não queres, pois não?”
Dito isto, esperemos que o artigo indefinido no título do texto de hoje permita adivinhar outras clarificações indispensáveis, fora do campo da política “pura”. Talvez um maior detalhe relativamente às opções de política económica e a concomitante clarificação quanto ao que não correu bem nos governos de Guterres.

Sublinhar como positivo apenas a política do ambiente e a “marca social” permite-nos deduzir que o resto falhou? De que forma, onde, porquê?

Se a resposta vier sob a forma de algumas propostas concretas em áreas chave da economia e do relacionamento de Estado com o cidadão agradece-se, dispensando-se maiores actos de contrição. Se quiser responder sublinhando o que é que pretende implementar do modelo do socialismo escandinavo que preza, também é bem vindo.

Este breve artigo era uma condição urgentemente necessária mas é manifestamente um esforço insuficiente. E isto que acabei de escrever é uma "mais que evidência", mas ainda assim, nestes tempos...

Que nos sobre alguma paciência para ir acompanhando o desenrolar dos acontecimentos que se espera retomem a elevação e dignidade que todos apregoam.

E já agora, cumprimentos ao José Lello e boas férias para ele. Diga-lhe para descansar uns mesitos, ele merece.

P.S. - Igualmente identificados na imprensa o artigo de Helena Roseta no Público e uma algo bizarra apologia de Sócrates de Pedro Cunha Serra no Diário Económico.


Publicado por Rui MCB 17:40:00  

0 Comments:

Post a Comment