Vasco Pulido Valente - "A fórmula"
sábado, julho 24, 2004
Corre por aí que o eng. Sócrates vai ser o próximo secretário-geral do PS. Alguns socialistas cépticos acham Sócrates uma fraca imitação de Guterres, de quem foi o afilhado preferido, e, além disso, uma anacrónica ressurreição da «Terceira Via», quando a «Terceira Via» faliu por todo o mundo. Em grosso, não se enganam. Mas Sócrates tem mais que se lhe diga. Quem o observar bem, nesta sua candidatura, não tarda a verificar com um relativo espanto que ele é um fenómeno novo em Portugal: o político inteiramente «programado». Estudou a imagem que lhe convinha (em princípio com a ajuda de sondagens), pensou numa fórmula (meia dúzia de frases) para a «projectar» e, em cada entrevista, declaração ou discurso, repete fielmente a fórmula. Nunca improvisa. De que se trata, em suma? O principal objectivo de Sócrates consiste em não ofender ninguém dentro e fora do partido. Quer um socialismo «moderado e moderno»; quer «coesão social e desenvolvimento económico»; quer preparar o País para o futuro (vive, jura ele, de olhos «fitos» no futuro); quer, evidentemente, trazer a si os «melhores», como quer «ideias» para os problemas de hoje e de amanhã, sobretudo para os de amanhã. Isto não significa nada, nem o compromete com nada e, ponto essencial, não há quem não queira exactamente o mesmo. De si, Sócrates fala pouco, excepto para lembrar os seus «nervos de aço» e sua invulgar «cordialidade», que revelam o presuntivo primeiro-ministro. Muito bem. Só que por baixo desta conversa na aparência inócua está uma afirmação muito clara e positiva. A saber: «Votem em mim que eu prometo não ofender ou agredir a ordem estabelecida. Eu sou seguro: com uma ou outra reforma, as coisas continuam na mesma.» Não é de prever que este robot, perfeitamente comandado, mude o programa ou ponha um pé em falso. A repetição só o favorece. E atacar a fórmula não parece fácil.
in DN
Publicado por Manuel 05:40:00
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