Vasco Pulido Valente - "Estreia"
sábado, julho 17, 2004
Apesar do incompreensível entusiasmo de certa imprensa e meia dúzia de comentadores, Santana Lopes começa mal. A escolha de António Bagão Félix, António Monteiro e Álvaro Barreto é um erro político e um sintoma de fraqueza. É um sintoma de fraqueza, no caso de Bagão, porque revela que ninguém de envergadura do PSD, ou da área do PSD, aceitou as Finanças, fatalmente por pura desconfiança no primeiro-ministro, e que foi preciso recorrer a um homem que já estava no Governo e que, ainda por cima, embora independente, sempre trabalhou com o CDS. É um sintoma de fraqueza, porque promover a ministro o embaixador Monteiro, também prova que não há no partido, ou no «santanismo», uma alternativa decente e razoável. E é um sintoma de fraqueza porque a ressurreição de Álvaro Barreto e sua extravagante ascensão a segunda figura do Governo mostra que, em matéria económica, o primeiro-ministro precisa de um tutor, que o oriente e que inspire por antiguidade (?) algum respeito. Os três - Bagão, Monteiro e Barreto - não passam de remendos. Isto à cabeça. Depois, tirando Monteiro, que não conta, Bagão e Barreto põem um problema grave. A presença de Bagão nas Finanças, com a sua origem CDS e a sua história na banca e nos seguros, transforma uma política nacional (em grosso, a de Ferreira Leite) numa simples política dos patrões. Os patrões, de resto, com a sua atávica estupidez, não se coibiram de aparecer na televisão em êxtase. O resultado não será bom. Quanto a Barreto, que apoiou sucessivamente e sem pestanejar Eanes, Mota Pinto, Sá Carneiro, Balsemão, o «Bloco Central» e Cavaco Silva, e que iria para ministro do Inferno se o Diabo o convidasse, para servir a Pátria e os seus senhores, é a perfeita soma de tudo o que anda mal na vida pública portuguesa. A «nova geração» de Santana Lopes, que tanto por aí se apregoou teve esta estreia. O que virá a seguir?
in DN
Publicado por Manuel 01:04:00