Sérgio Figueiredo - "Agitem as bandeiras"
terça-feira, julho 06, 2004
do Jornal de Negócios...
Acabou o futebol e o primeiro-ministro demitiu-se. O doutor Jorge Sampaio discursa emocionado. Todo o país anda emocionado. Emocionado e perturbado. Descobre que, afinal, o Presidente tem duas alternativas para o futuro Governo da nação. E, entre as duplas Santana Lopes / Paulo Portas e Ferro Rodrigues / Francisco Louçã, que não escolha a pior. Porque o pior, ....
Acabou o futebol e o primeiro-ministro demitiu-se. O doutor Jorge Sampaio discursa emocionado. Todo o país anda emocionado.
Emocionado e perturbado. Descobre que, afinal, o Presidente tem duas alternativas para o futuro Governo da nação. E, entre as duplas Santana Lopes / Paulo Portas e Ferro Rodrigues / Francisco Louçã, que não escolha a pior.
Porque o pior, aquilo que carregamos de mauzinho, é precisamente aquilo que esta crise política mais revelou.
E quando as bandeiras nacionais começarem a recolher das janelas. Quando os cachecóis da selecção voltarem às traças dos armários. Quando as buzinas dos automóveis se calarem. É preciso que alguém volte a emocionar-se.
De preferência a revoltar-se. Com o triste espectáculo que a nossa vida política e institucional tem proporcionado. E que só este espectacular Euro 2004 não tem permitido ver.
A mais chocante de todas. Vinda dos partidos. Sabemos que as máquinas partidárias são insaciáveis. Sabemos que tudo vale pelo poder. Para o manter. Mas também para o conquistar.
No Partido Socialista, o pobre do secretário-geral estava condenado. Era uma questão de tempo. Mas como o tempo subitamente ficou curto, os críticos calaram-se, os inimigos desapareceram.
Ferro Rodrigues era há uma semana um náufrago. Agora é o salvador. Mesmo após as europeias era tratado como um perdedor. Tornou-se, de um dia para o outro, num líder. Aqueles que lhe davam facadas nas costas, passaram a defendê-lo nas televisões.
É assim. É repugnante.
No PSD. Santana foi eleito como os Grandes Líderes. Kim Il Sung. Ceausescu. Por momentos, o Conselho Nacional dos social-democratas portugueses imitou o Comité Central do PC chinês.
É sempre perturbador ver tanta unanimidade à volta de um líder. O que dizer quando esse líder, na véspera, abria as feridas da discórdia dentro do partido? Os críticos votaram a favor e os inimigos já estão a tratar da vidinha.
Quando perceberem que no futuro Governo não cabem todos, alguns voltarão a estrebuchar. PSL é agora o homem perfeito. Então voltará a ter os piores defeitos deste mundo... e do outro.
É assim. É medíocre.
Perante isto, o poder económico assusta-se e recusa eleições antecipadas. Estão, em uníssono, os empresários a dizer que preferem Santana a Ferro, Portas a Louçã.
É compreensível que todos assim pensem.Este PS de Ferro Rodrigues está mais próximo da CGTP do que o PS de Guterres estava da Igreja. Mas, para se precaverem, alguns já querem regressar às reuniões no Rato.
Nunca se sabe se é para pedir, se é para mandar. Mas é assim. É um horror democrático.
E o Presidente? Como fica? Como está? Chama uns notáveis para conversas privadas, mas também as televisões para eles dizerem o que pensam. Constâncio era o mais jovem de todos.
Leonardo Ferraz de Carvalho, nestes momentos, costumava escrever artigos sobre a crise das elites.
Publicado por Manuel 21:15:00
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