A nossa vergonha...
quinta-feira, julho 29, 2004
Atentem-se no seguinte raciocínio, todos nós não poucas vezes já nos interrogamos quanto custa efectivamente um incêndio ao país Portugal.
Não se trata apenas de contabilizar os custos dos incêndios, no desgate dos meios, nem tão pouco quanto custa mas sim de calcular o verdadeiro valor da irresponsabilidade de privados e do Estado quando não gerem da melhor forma os incêndios e a sua prevenção.
Esta deveria ser a vergonha de todos os governantes...Todos sem excepção, porque pior que um político que não faz nada é aquele que aproveita os incêndios como meio de auto-promoção política.
Decidi por iniciativa própria e sabendo dos riscos que corro, em meter-me pelos caminhos da modelização económica, sempre sujeita a muitas interpretações, construir o Modelo Económico de avaliação dos custos dos incêndios por incêndio, daqui em diante denominado modelo da vergonha...
Y = Custo Global dos Incêndios
RAh = Rendimento Anual médio por hectare no concelho em análise.
AR = Àrea Ardida
NP = Nº de Anos de improdutividade dos hectares afectados pelo incêndio
ND = Duração do incêndio em dias
CBD = Custos com Bombeiros, gasolina, Àgua, assistência técnica diário.
NAC = Nº horas contratadas para meios àereos
PH = Preço hora dos meios àereos
CD = Compensações Diversas cedidas pelo Estado a título de regimes de calamidade
EP = Postos de trabalho perdidos
MN = Número de Mortes causadas directamente pelos incêndios
CI = Clausula Indeminizatoria atribuida à família.
CP = Compensações Segurança Social Fundo Desemprego
NMM = Numero Meses do subsidio . Neste caso é estabelecido 18 meses.
CFL = Custos de florestação por hectare
CMS = Custo médio de sáude por habitante
PP = Propensão Marginal dos custos de saúde provocados directamente pelos incêndios.
Assim, e por pura dedução lógica..
Y = (Rah*AR*NP) + (ND*CBD) + ( NAC*PH )+ (NM*CI) + CD + ( EP*CP*NMM)+ (CFL*AR) + ( (CMS *PP) + CMS )
No incêndio de Monchique do ano de 2003 arderam 40.587 hectares durante 10 dias. O Rendimento Anual por hectar do Concelho de Monchique é de 4300 Euros. Calcula-se que todos os bombeiros mobilizados tenham gasto cerca de 10.000 Euros por dia. Foram contratados 2 Canadairs durante 10 dias a uma média de 10 horas por dia ao preço de 3.000 euros hora. O estado gastou ao todo 4.573.000,00 até 31/01/2004 em apoios aos concelhos com áreas ardidas . O valor da variável CD é obtidor pela divisão do total pago como indeminizações e apoios face a % da area do incêndio de Monchique relativa ao total da àrea ardida nacional. Como em Monchique ardeu 40.587 e a área ardida em 2003 em Portugal foi de 431.000 hectares, logo o valor calculado corresponde a cerca de 10 %.
Perderam-se 180 postos de trabalho directos, que a Segurança Social comparticipará em 400 euros mensais por 18 meses. O custo de reflorestação está estimado em 350,00 Euros por hectare. Estima-se que a área ardida demore 4 anos a voltar a tornar-se produtiva.
Y =(40.587*4300€*4)+(10*10000€)*(100*3000,00€)+ 457.704,06 € +(350 € * 40.587 )+(180*400*18)= 746.170.560,00 Euros
Setecentos e quarenta e seis Milhões, cento e setenta mil quinhentos e sessenta euros
Já Chega. É este o verdadeiro preço apenas no concelho de Monchique da descoordenação vivida no ano passado.
Nota - O Modelo baseia-se em meras estimativas por baixo. Não estão contabilizados os valores do aumento dos custos de saúde.
Publicado por António Duarte 00:51:00
Parabéns a quem quer que seja o autor... serviço público, como diz o Clark...
Quanto ao assunto em si, é desesperante, uma tristeza imensa...
a maior parte dos hectares ardidos não tem qualquer rendimento e aqueles que o têm dificilmente se aproximam dos 4300 euros anuais
No caso de Monchique a àrea ardida corresponde em grande parte a destruição da economia do medronho, que constitui fonte de rendimento.
Os custos de saúde não estão incluídos no modelo, exactamente por não ser fácil encontrar o acréscimo dos mesmos que os incêndios causaram em problemas respiratórios e afins.
Repito não estão incluídos nos cálculos.
O valor de 4.300,00 Euros corresponde ao Rendimento Anual médio por hectare no concelho de Monchique, como se encontra na definição da variável Rah.
Caro Serradura...se não sabe porque pergunta ?
"mas sim de calcular o verdadeiro valor da irresponsabilidade de privados e do Estado quando não gerem da melhor forma os incêndios e a sua prevenção"
Ninguém disse que o valor apurado era apenas do Estado.
Use a serradura para pensar.
A falta de tempo às vezes tem destas coisas. Prometo debruçar me sobre essas leis até sabádo. Pode ser?
MN = Número de Mortes causadas directamente pelos incêndios
CI = Clausula Indemnizatoria atribuida à família.
Na fórmula..(NM*CI)... No incêndio de Monchique morreu uma pessoa vítima directa do incêndio. Por não saber o valor atribuído à família, o produto (NM*CI)NAO entra no apuramento do custo do incêndio...repito NAO ENTRA !
Mais alguma dúvida ?
Referi este Post num texto do Tugir em português[882]
Quer experimentar em construir um modelo alternativo ?
Eu acredito piamente que textos como este o preocupem e sobretudo preocupem *quem* lhe paga mas seja mais sensato e pertinente nos dados que selectivamente resolve atirar para o ar. É que assim você parece apenas um bikini - mostra tudo menos aquilo que interessa...
Segundo a NG para uma àrea que é metade da território português ou quase 2 vezes o Alentejo, a NG estima um prejuizo de 9 biliões de dólares.
Assim o custo do incêndio de Monchique representa 8,29 % do custo do incêndio na Indonésia citado na NG.
Primeiro, nunca referi que o modelo é o exacto. Aliás pelo que sei em Portugal este é o primeiro modelo que contabiliza algumas variáveis. Depois não conheço as variáveis que a NG inclui. Por exemplo no modelo que construi o maior custo está no custo implicito de ter a area ardida improdutiva durante anos.
No caso de Monchique, existia medronho, explorações de pecuária e pouco rendimento retirado da floresta.
Mas qual é a sua dúvida os 4300 euros anuais de rendimento ? Dou.lhe um exemplo prático, um agricultor vitima do incêndio de Almodovar disse ontem que anualmente retirava do hectar que tem 9.000 euros em cortiça...Como ve os 4.300 representam uma estimativa por baixo.
Depois não creio que países como a Indonésia gastem 20 Milhoes em concursos de aluguer de avioes. Provavelmente possuem meios proprios.
Finalmente, se conseguir dizer que os custos de prevenção são mais altos que os custos implicitos e explicitos actuais e no futuro de um incêndio...então caro Serradura...o lugar no céu é seu..
Eu sei que a Serradura è líquida mas por vezes parece liquidefeita...
Como voce diz atrás " With an average of 50 000 fires and 600.000 ha burnt". Em Portugal o ano passado arderam 431.000 hectares em 670 incêndios.
Depois " total annual cost of fire fighting and safety devices in the region to be more than US$1 billion Le Houérou, 1987" Primeiro o ano de 1987 não deve servir como modelo para o exercício passados que estão 17 anos.
Depois Gastar mil milhões de dolares em combate e prevenção não significa que os custos dos incêndios sejam só estes.
Portugal gastou apenas 12 milhões de Euros o ano passado.
Eu sei que lhe custa assumir, mas o número de 750 milhões é demasiado elevado para não sentirmos vergonha..
Nota : Leve Grátis um Guarda-Fatos oferecido pela Serradura Liquida, onde os números emagrecem à vista.
Ao se assumir como diletante, já tem o desconto todo garantido, da minha parte. Mas talvez faça mal em julgar apressadamente como sabedoria octaviana o que por aqui vai sendo escrito.
Se tem razão em desconfiar de certos educadores que também vejo por aqui e por ali, a blasfemarem desalmadamente, por aqui, acho que lhe falece essa capacidade de análise crítica.
O voluntarismo que por aqui perpassa, às vezes, está muito caldeado na humildade intelectual que denotam todos os postadores, sem exccepção, se reparar bem.
Isso, você não encontra por aí aos pontapés- reconheça lá!
Cada Canadair novo custa 25 Milhóes de Euros.
De qualquer forma (não querendo ser mesquinho, mas tem importância para o meu comentário) as contas estão mal feitas (e está um sinal * em vez de +).
Fazendo as contas correctamente, o custo estimado daria 714 455 554 €.
Daqui resulta, que a primeira parcela calculada, que diz respeito ao rendimento por hectar perdido tem um peso de 97,7% no valor final.
Por si só, este facto não constitui problema, mas o cálculo do rendimento médio por hectar parece-me demasiado simplificado. Qualquer variação neste valor leva a uma variação quase directamente proporcional no custo estimado. 4.300 Euros anuais por um hectare (mesmo que seja de medronhal) parece-me um exagero.
Nuno
Juntamente com os outros post's sobre os canadair's, está feito o retrato de muitas imbecilidades por hectare, ditas nos últimos dias.
Primeiro, sobre os Canadairs, deixem-me dizer que o que foi dito só pode ter sido dito por alguém que nem sequer esteve próximo dum incêndio a sério. De contrário, saberia que mais Canadair ou menos Canadair, o resultado seria exactamente o mesmo. Saberia que as toneladas de água dum Canadair em cima dum incêndio descontrolado (em que este gera pequenos tornados e seca literalmente toda a água e verdura nos muitos metros que circundam a combustão descontrolada) é pouco mais eficaz do que pôr a pila na mão fazer xixi para cima dum pneu a arder.
Ainda ontem tivemos uma extrordinária (e inédita penso eu) força de combate aereo ao incêndio e pouco fez para além de salvar aldeias. Já em Espanha, o único incêndio de grandes propoções em Espanha (na Andaluzia) também continuava descontrolado apesar da frota imensa de Canadairs espanhois.
Meus caros, se querem debater incêndios, começem por perceber o que o João Miranda disse no Blasfémias sobre a biomassa. Não concordo muitas vezes com o que o "liberal" JM diz, principalmente sobre o combate ser um assunto de privados e não do estado, mas o que ele disse sobre a biomassa ajuda a compreender quase tudo sobre os incêndios deste ano e do ano passado. Nas décadas de 80 e 90, a maior parte da área florestal do norte e centro do país foi devastada de uma ponta à outra. Na altura não tinhamos o frenesim mediático de hoje e poucos se lembram, mas poucos hectares terão saído incolumes dessas 2 décadas. Milagrosamente, o Alentejo norte, centro e Algarve escaparam a incêndios devastadores. Mas nos últimos anos a carga de biomassa acumulada nestas regiões é brutal. É explosiva. Não tenham dúvidas, é a coisa mais natural do mundo que este ano arda o que não ardeu o ano passado, e para o ano arda o pouco que sobrar de agora. É tão inevitável e natural como fazer sol no Verão e chuva no Inverno.
Quanto às contas, foram feitas grosseiramente, mais uma vez, sem conhecer mimimamente a realidade. Quem dera a Portugal tamanho rendimento florestal.... falo por experiência própria que tenho alguns hectares de eucalipto e pinheiro na beira interior.
Para terminar, é assunto tabu, já o ano passado um ministro foi fuzilado por criticar bombeiros. Mas eu não posso deixar de dizer o que penso: há 2 realidades distintas de bombeiros. As do norte e centro, e o resto. Os primeiros tiveram 2 décadas de incêndios devastadores e hoje tem um conhecimento profundo do combate ao incêndio rural. Quanto aos bombeiros do sul e grande lisboa, o conhecimento destes da realidade do incêndio descontrolado em mata é nulo. Chega a ser anedótico a forma amadora como deixam reacender incêndios por absoluto desleixo do rescaldo, que ocupa mais tempo do que o combate em si.
A mesma critica aos autarcas. 99% dos autarcas do sul ignoraram olimpicamente a realidade explosiva da biomassa, apesar das lições duras que os autarcas a norte tiveram que engolir. Se quiserem perceber mais sobre o assunto, informem-se por exemplo dum concelho no centro/norte, chamado Mortágua, e sobre a forma como a criação de centenas de largos caminhos florestais tornou este concelho quase um case-study na área de combate a esta chaga que devastou o mesmo concelho durante anos a fio. Alguns caminhos eram tão bons que foram aproveitados turisticamente para fazer algumas etapas do Rally de Portugal. A sul nada foi feito. A natreza agora cobra o preço.
É que a história da biomassa não explica tudo... também fez muito calor durante o Euro e fogos nem ve-los.
De resto e quanto aos bombeiros e à limpeza das matas e aos caminhos 100% de acordo...
Sobre os negócios pouco claros do modelo actual de combate, também suspeito deles e é de aplaudir que a questão tenha sido levantada pela Grande Loja. Aliás, mesmo não concordando com algumas coisas que se escrevem, acho que os blogues estão de parabens pois bem ou mal, as questões são discutidas, e coisas positivas emergem no debate.
Sobre Mortágua, sim, para além dos caminhos florestais, há um notável esforço de vigilância dinamizado pela autarquia e com a ajuda das populações através das associações locais. Pelo que me disseram, nas áreas mais perigosas chega a haver patrulhas nocturnas de voluntários durante todo o Verão.
E também me esqueci de referir a central termoeléctrica de biomassa de Mortágua, que produz energia a partir de residuos florestais, construida a mantida a funcionar com enormes dificuldades mas também muita teimosia de meia duzia de pessoas mais iluminadas do que a mediocridade reinante. Quase única na Europa, mas olimpicamente ignorada pelos media por exemplo. Custou menos do que a compra de um Canadair (se calhar menos que o aluguer), e funciona com o "petroleo" português, a nossa biomassa, não tão rentável como o petroleo sujo e poluidor, mas com enormes vantagens que certos lobbys querem ocultar.
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Um interessante thread num forum, já de 2003 onde se discute a viabilidade económica da limpeza das matas.
http://neptuno.uevora.pt/ambio/082003/threads.html#00039
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Notícia Correio Manhã 2004-07-30
Floresta - só 27% das autarquias investiram
CÂMARAS SEM PREVENÇÃO
Os incêndios devastadores do Verão passado, que queimaram cerca de 400 mil hectares de floresta e mato, mataram várias pessoas e consumiram várias habitações, não parecem ter sido suficientes para mobilizar as autarquias para uma atenção redobrada na prevenção dos fogos
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=122727&idselect=9&idCanal=9&p=94
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Notícia Portugal Diário 12-02-2004
Proprietários florestais são responsáveis pela prevenção dos incêndios. Foi uma decisão política do governo francês
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Depois de falarem de casos de sucesso no combate aos fogos em Espanha, os participantes no encontro discutiram durante a tarde a silvicultura de prevenção como forma de minorar o problema dos incêndios florestais, exemplificada com três casos nacionais: uma herdade na região de Castelo Branco, uma associação de produtores florestais de Coruche, e o concelho de Mortágua
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continua na cache do google :
http://64.233.179.104/search?q=cache:Qx2vb3qOk80J:www.portugaldiario.iol.pt/noticias/noticia.php%3Fid%3D167948+%22exemplo+de+mort%C3%A1gua%22&hl=en
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Artigo extenso sobre a central de biomassa de Mortágua publicado na revista da AIP (documento PDF)
http://www.aeportugal.pt/Areas/AmbienteEnergia/CadernosPDF/Caderno3/BiomassaFlorestal.pdf
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Mais um documento sobre a central de biomassa:
http://europa.eu.int/comm/energy/res/publications/doc2/EN/MORTA_EN.PDF
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