Basta... Chega... (III)

Em 2003, arderam em Portugal 410 mil hectares de floresta entre os meses de Junho e Setembro, tendo morrido 20 pessoas. Segundo os relatórios oficiais divulgados pelo SNBPC - Serviço Nacional Bombeiros Protecção Civil, foram utilizados 24 helicópteros , 10 aerotanques ligeiros e 2 aviões Canadair contratados à empresa Aerocondor, presidida por Victor Brito.

A escolha das empresas resultou de concursos públicos internacionais, mas, apesar disso, as sociedades contratadas são quase todas portugesas. Os contratos estabelecem um pacote determinado de horas e quando este é ultrapassado, o Estado é obrigado a pagar horas-extra à empresas.

No ano de 2003, foram contratualizadas 350 horas de voo com a empresa Aerocondor relativos aos 2 aviões Canadair, sendo que cada hora é, segundo o mesmo relatório do SNBPC, paga pelo Estado Português pelo valor de 3.000 euros.

Ora, as contas são simples, o valor de horas utilizado pelos aviões Canadair foram de 520 segundo o mesmo relatório, multiplicando por 3.000 euros à hora, temos que no total a factura deveria ser de € 1.560.000,00.

O Estado Português pagou segundo o relatório da SNBPC, cerca de € 2.800.000,00, a empresa Aerocondor, quando o deveria ter feito apenas por cerca de € 1,5 Milhões de Euros.



A factura do Estado Português com empresas relativamente ao combate aos incêndios ascendeu a 12 Milhões de Euros em 2003.

Um Canadair novo custa entre os 2,5 e os 3 Milhões de Euros. A proposta do consórcio alemão para a compra por Portugal de dois submarinos está orçada em 600 Milhões de Euros. A mais cara vale 1 700 Milhões de Euros...

Prioridades.


Publicado por António Duarte 19:20:00  

11 Comments:

  1. Gomez said...
    Eu não sou de intrigas. Mas não me parece curial, por uma questão de princípio, um modelo de aprovisionamento de meios aéreos de combate a incêndios, baseado na contratação de prestações de serviços em que o prestador ganha mais se o país arder mais. Isto para não falar das pasmosas contas apresentadas pelo António, que evidenciam a total falta de senso dos investimentos públicos.
    Manuel said...
    Gomez,

    o que intriga são mesmo os números; Só com o que Estado gastou nesta legislatura em "combate" a incêndios, já dava para ter uma boa frota anti-fogos. No mínimo dos mínimos um clamoroso caso de má gestão...
    Gomez said...
    Pois é Ven. Grão-Mestre. Mesmo levando em conta as despesas de operação e manutenção, isso parece evidente. Para além de que a Força Aérea poderia, provavelmente, treinar e assegurar tripulações para esses meios. Gerir com eficácia e eficiência os recursos públicos parece ser coisa difícil. É mais fácil bradar, acríticamente, por "menos Estado" (mesmo estando em causa o ambiente, o desenvolvimento estratégico e sustentável do país a longo prazo e, no imediato, a segurança das populações, ...) e ir dando certos "incentivos" ao mercado... Estes negócios têm razões que a m/ razão não alcança. Mas o defeito deve ser meu...
    Anónimo said...
    re: forumdefesa.com

    A titulo de informação, um avião Canadair CL-415 custa $25.000.000 (vinte e cinco milhões de dolares americanos) e não entre 2.5 a 3 milhões de Euros.

    Há uns anos atrás, quando se fizeram contas, lembro-me de que o preço variava entre 25 e 30 milhões de Euros, por causa do câmbio.

    Uma coisa é ficar indignado com as situações, a outra é ser totalmente irresponsável e publicar dados errados e fazer conjecturas baseadas em dados absolutamente falsos.

    Com o preço indicado para um Canadair, nem se consegue comprar uma asa.

    E notar, que os 25 milhões de dolares, não pagam os pilotos (que por acaso também têm que receber salário quando não há fogos) o combustível e a manutenção do CL-415 que não é assim tão simples.

    No país do boato, é assim que começam as confusões. Com notícias erradas, publicadas por gente sem escrupulos ou então, por gente que nem sequer se dá ao trabalho de fazer uma simples pesquisa no Google.

    Os meus cumprimentos
    papatango
    Anónimo said...
    O papatango resumiu tudo bastante bem.

    Numa aquisição destas ( que seria de grande envergadura ) é incorrecto pensar-se apenas no hardware original. Existem uma série de variáveis - a manutenção, a formação de pilotos, a manutenção das horas de voo mínimas anuais dos pilotos, o preço do combustível, entre outras - que têm de ser consideradas quando estamos a discutir a "suposta" aquisição de uma aeronave que apenas tem utilidade a nível nacional durante 2 ou 3 meses. Receio que o seu texto seja pura demagogia.

    Estamos todos de acordo que seria preferível e importante ter mais meios aéreos à disposição mas acho discutível a teoria de aquisição destes meios por parte do estado.
    Contudo, os helis, por serem mais versáteis em outras tarefas já não sofrem do mesmo problema.
    Gomez said...
    Quaisquer que sejam os valores reais envolvidos (assunto em que me assumo inteiramente ignorante e não me vou meter), subsistem as seguintes questões sobre as quais gostava de ser esclarecido:
    a) Com uma adequada gestão de recursos pelo Estado, o serviço, mesmo ponderando todos os custos e as imobilizações e não ponderando eventuais sinergias com a Força Aérea, não terá o mesmo custo em que os privados incorrem sem ter que suportar a respectiva margem de lucro?
    b) Qual a prática de outros Estados com problemas similares?
    c) Face à dimensão estratégica do problema e às componentes de segurança envolvidas devem prevalecer critérios economicistas (dando de barato que existam) ou de relativa auto-suficiência de um Estado que se quer soberano?
    d) O modelo actual de aprovisionamento pode ou não incentivar, em tese, comportamentos delituosos? É aceitável, por uma questão de princípio, um tal modelo?
    À consideração dos especialistas.
    Manuel said...
    Só uma nota...
    não são só os F-16 que se compram em segunda mão...
    ...e ao contrário dos F-16, não consta que um Canadair precise de balurdios (várias vezes superior ao preço da carcaça) em equipamentos electrónicos...

    Além do mais um vulgar piloto da força aérea serve perfeitamente para pilotar todo o ano, ou não servirá ?
    Anónimo said...
    Não, não serve. O treino para combater com eficácia um incêndio é específico. Pilotar um F16 tb não é o mesmo que pilotar um Hercules, por exemplo. São pilotos diferentes que o fazem.
    Mas em tese, a ideia de criar sinergias com a força aérea não é despropositada.
    Alguém se lembra dos 3 kits (acho que eram 3) que foram adquiridos para transformar aviões da força aérea em aviões de combate a incêndios?
    Estão armazenados, e os piltos nunca foram treinados. Alguém saberá dizer porquê?
    João
    Anónimo said...
    Marrocos tem pelo menos dois aviões deste tipo e não consta que seja um país com grande abundância de floresta. Trata-se, como é óbvio, de um equipamento estratégico que deve estar sempre operacional, pelo que não se põe a questão da utilização sazonal. O problema não é o custo, 20/30 milhões de euros mais manutenção e operação que podem ser facilmente diluídos no médio prazo. O problema são as comissões que nesta solução seriam mais difíceis de cobrar.
    António Duarte said...
    Ao que parece o post de ontem intitulado “ Basta…Chega … (III), levou a alguns erros de interpretação. A parte dos elogios que alguns elementos registados do Fórum de Defesa nos concederam e que vão de imbecis a gente irresponsável, a Grande Loja aproveita para elucidar :

    1. Sempre foi lema da Grande Loja, permitir a todos os seus leitores, participarem so a forma de comentário, e nunca até hoje tive conhecimento que um comentário por muito abusivo que fosse tivesse sido apagado. Por isso caro papatango, quando insinou que não sabia se o seu comentário iria surgir ou não, ele está lá, para que todos possam ler. Da mesma forma que somos responsáveis pelo que escrevemos, não somos responsáveis por aquilo que outros escrevem.
    2. Ao que o utilizador registado no forum de defesa indica o preço dos canadair novos é de USD 25 Milhões. Pelo vistos , caiu no mesmo erro, já que USD 25 Milhões correspondem a preços de 2002, segundo os seus raciocínios a 17 Milhões de Euros. Tal corresponderia a que um euro valeria 0,68 Euros. Para além dessa taxa nunca se ter praticado no mercado monetário, o valor actual dos Canadair novos ascende a 25 Milhões de Euros.
    3. Um Canadair usado pode ser adquirido por valores que oscilam entre os 2,5 Milhoes de Euros e os 3 Milhões de Euros.
    4. Apesar de não sabermos pesquisar nos motores de busca como o google, conseguimos descobrir, que a força àerea tem na base do Montijo três kits para equipar aviões convencionais na luta contra os fogos. Sabemos que tal decisão de não avançar ficou-se oficialmente a dever-se a avarias nos kits que se encontram num armazém.
    5. Se o papatango fosse tão bom a fazer contas como a acusar, então certamente saberia que os 12 Milhões de euros que no ano passado o Estado pagou no combate aos fogos florestais, dariam para adquirir em sistemas de leasing ou de lease-back aviões canadair, com encargos substancialmente menores do que actuais.
    6. Pelos vistos o papatango prefere um sistema, onde uma empresa lucra mais, consoante a àrea ardida em Portugal for maior.
    7. Chegou a nossa vez, a hora dos irresponsáveis, perguntar se os mesmos moderadores terão coragem de colocar o direito de resposta no forum de defesa.
    8. Não posso falar pelos outros Veneráveis desta Grande Loja, mas e ao contrário do que se passa por outro lados, aqui cada um responde por aquilo que escreve.
    9. Não pertenço a nenhum partido político por opção, e se pertencesse fosse ele qual fosse tal deveria ser visto como meio de intervenção política na sociedade e não como razão de menosprezo. Os políticos aqui na Grande Loja não são julgados pelo que são mas por aquilo que fazem ou não fazem.

    António Grande Loja.
    António Duarte said...
    Caro Pedro M

    Nem sempre é possível responder em tempo útil. Mas cá estou para assumir a responsabilidade de tudo o que escrevi.

    Durante a troca de ideias entre a Grande Loja e alguns elementos do forumdefesa.com, foram efectuados algumas críticas quanto ao que aqui, escrevemos, mas e sobretudo quanto ao erro que aqui possamos ter cometido.

    1. Estamos por isso livres da primeira acusação que seria de não permitirmos a liberdade de expressão. Estão aqui todos os comentários e continuaram a estar.

    2. Não estou dentro da logistica necessária e do tempo que medeia a encomenda e a entrega. Admito claramente que a encomenda de 2 canadairs, possa demorar 2 anos. O elemento do forumdefesa não percebeu que em 2002, 25 Milhoes de dolares não correspondiam aos aludidos 17 Milhoes de Euros. Tudo porque a mais elevada taxa de cambio nesse ano, nunca daria para essa convertabilidade.

    3. è discutível que um veículo usado que custe 10 % do preço do novo não faça o mesmo que o novo. Não queria dar o exemplo de um carro, porque a função básica do carro é andar, e tanto anda um carro novo como um usado cujo valor seja 10 % do novo. Mas veja-se o exemplo dos F-16 comprados em segunda mão- a preços mais elevados que os 10% citados- mas que fazem as funções para os quais foram adquiridos.

    4. A União Europeia disponibilizou uma linha de crédito em leasing com comparticipação entre os 55 % e os 75 % para a aquisição de aviões de combate a incêndios em parceria com o BEI. A Espanha por exemplo adquiriu cerca de 25 Canadairs NOVOS tendo dispendido cerca de 9,5 Milhoes por cada um. O restante foi financiado pela UE. Se por acaso soubesse pesquisar no Google saberia que não falava de um leasing convencional contratado numa qualquer instituição bancária portuguesa mas sim nesta concreta situação.

    5. Os preços dos Canadairs novos são de 25 Milhoes de Euros actualmente. Os preços dos Canadairs usados oscilam entre os 2,5 e os 3 Milhoes com co-financiamento comunitário. Admito aqui o erro. De facto o valor referido deveria ter mencionado o aspecto de o mesmo consagrar o financiamento comunitário.

    6. Portugal concorreu a aquisição de aviões de combate co-financiados pelo BEI, mas abandonou o concurso.

    7- O concurso anual em Portugal envolve verbas de 20 Milhoes de euros anualmente.

    Posto isto, penso que deveriamos reflectir se queremos continuar com o actual modelo ou não, isso sim mais relevante do que o preço.

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