Um Limiano vintage

Uma poesia de António Feijó, nascido em Ponte de Lima, em 1859, e cuja obra esgotada há sessenta anos foi agora reeditada, pela Editora Caixotim, do Porto, com apoio da Câmara de Ponte de Lima. Tem prefácio de Cândido Oliveira Martins, docente na Universidade Católica e natural de Ponte de Lima.


O AMOR E O TEMPO

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

– «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
– «Por que voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» – Nesse momento.

Volta-se o Amor e diz com azedume:
– «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»

António Feijó, Sol de Inverno, 1922


Este poema que li pela primeira vez em 1977, está inscrito num painel de azulejos, colocado em 1976, na Fonte da Vila de Ponte de Lima que fica na Praça da República, rodeada por um jardim. A fonte, de planta circular, foi construída em 1936 pela Câmara Municipal de Ponte de Lima .

É um poema (poesia, talvez se diga melhor) que nos dá a ler a metáfora terrível de um oráculo e é um desafio a quem está apaixonado. Uma paixão, dura quanto tempo?! Três anos, quatro?! E depois ? O Tempo...

Assim o li então e assim o continuo a ler.

Publicado por josé 19:06:00  

2 Comments:

  1. zazie said...
    naquela praça, naquela terra, não pode ser aviso cruel...é só um pouco de spleen para as almas apaixonadas ";O))
    zazie said...
    aqui vai um cadeauCanção do vento e da minha vida

    O vento varria as folhas,
    O vento varria os frutos,
    O vento varria as flores...
    E a minha vida ficava
    Cada vez mais cheia
    De frutos, de flores, de folhas.

    O vento varria as luzes,
    O vento varria as músicas,
    O vento varria os aromas...
    E a minha vida ficava
    Cada vez mais cheia
    De aromas, de estrelas, de cânticos.

    O vento varria os sonhos
    E varria as amizades...
    O vento varria as mulheres...
    E a minha vida ficava
    Cada vez mais cheia
    De afetos e de mulheres.

    O vento varria os meses
    E varria os teus sorrisos...
    O vento varria tudo!
    E a minha vida ficava
    Cada vez mais cheia
    De tudo.

    Manuel Bandeira

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