"Prozac Nacional"
sábado, junho 12, 2004
Dia a dia tenho um despertar mais agudo, deprimido, triste, a pedir Prozac. Ando cabisbaixo, sem saber o que fazer à vida, sinto-me não patriota, traidor do rectângulo.
Com a carta do ministro do futebol, tais sentimentos para baixo acentuaram-se, não sentia o desígnio nacional do futebol, do sacrossanto Euro que, com as idas ao santuário de Fátima, vai salvar a pátria de tudo quanto é desgraça. Os 500.000 desempregados vão ter emprego, os 600.000 funcionários públicos vão ver os salários aumentados substancialmente, os professores vão ter, finalmente, as colocações a horas, os processos judiciais vão ser julgados a tempo e por aí fora.....
Como se não bastasse a carta do ministro, que pensei ser manobra eleitoral, mas não era, Sª Ex.ª o Presidente da República veio ontem, "urbi et orbi" anunciar-me que o Euro de futebol era um projecto nacional e mobilizador de vontades. Se o presidente o diz eu, que sou mero cidadão, tenho de crer. Para tirar dúvidas consultei aquela Constituição enorme do Dr. Vital Moreira e lá estava. O Sr. Presidente pode decretar, em letra de forma, que o Euro de futebol é projecto nacional, logo de todos os portugueses, logo eu não sou português, pois não gosto de futebol.
Também o poeta Manuel Alegre veio narrar as relações íntimas do futebol com a poesia. Aí fico ainda mais deprimido, pois adoro poesia, mas não gosto de futebol. A questão agora é como é que eu vou fazer a conciliação do que, para mim é inconciliável: poesia e futebol. Se me falassem do futebol dos meninos de que falava Jorge Amado, eu percebia, agora do futebol dos milhões e milhões e mais milhões é que não me cabe na moleirinha. De milhões e não só que não falo nisso para não estragar o projecto nacional.
Vou tomar mais um Prozac.
Antipatriota
Publicado por Manuel 11:34:00
1 Comment:
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- Gomez said...
4:37 da tarde, junho 12, 2004A asneira está consumada e já não tem retorno. Gozemos então o Euro.
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