a cópia do dia...

A cópia de hoje, é este postal, escrito pelo António Do Portugal Profundo.


Até quando?

Que mistério é este de todos reprovarem a forma de fazer política, mas os processos anti-democráticos se manterem? Se todos se queixam da cristalização e corrupção das elites dirigentes, como é possível que o sistema sobreviva e se reproduza?

A substituição das elites e a mobilidade socio-política vertical são raras. Contudo, os dirigentes de topo e dos níveis intermédios resistem e os dos níveis mais baixos usam processos ainda mais viciosos do que os precedentes. Há uma "alternância" rotativa que garante empregos e remunerações para quem está no poder e na oposição, no poder político ou nos media, nas empresas públicas ou nas empresas "estratégicas" onde os políticos (que não Estado) detém uma golden share.

Desde que se consiga a polivalência no poder, as ideias não interessam. Por isso, vemos os socialistas liberais, os democratas cristãos liberais, os comunistas sociais-democratas, os trotskistas liberais, os conservadores liberais e os liberais intervencionistas... As ideias são pratos adornados mas sem sabor para servir mornos ao povo crente na improvisação dos cozinheiros.

Para sustentar a fragilidade política, as direcções alienadas agregam os chefes e servos dos media e - novidade! -, agora que o sistema se degradou mais ainda, os magistrados e membros de presumidos grupos de pressão lisonjeados pelas portas franqueadas e tratamento igual. Passa-se da divisão dos poderes à comunhão no poder. Mas o povo de parte.

O afastamento das elites políticas em relação ao povo é a maior causa das convulsões políticas. Teoricamente, tendo em conta o alheamento dos dirigentes políticos face ao povo, cuja vontade deveriam representar, o conflito estaria em curso. Mas nota-se, principalmente, uma resistência ao voto, o lamento e a maledicência inconsequente. Não há participação nos partidos que acham corrompidos, nem tentativas de tomada do poder interno por grupos organizados, nem o lançamento de novas organizações por gente nova.

Andamos, então, temerários, mas com estreito apoio, sobre o fio da navalha que nos fere a esperança. Até quando suportaremos a faca?


Publicado por josé 11:51:00  

3 Comments:

  1. zazie said...
    Grandes verdades. Torna-se tão óbvio que o que os separa é apenas a partilha de lugares que, às vezes, ainda me custa compreender como há gente que se “esmifra” tanto com combates ideológicos quando o que está a fazer é a patrocinar essa caldeirada. Mas enfim, a grande questão é que não há alternativa. E ainda é mais perigoso pensar-se em “salvadores” desta caldibana em que lá vai andando a democracia...
    António Balbino Caldeira said...
    Obrigado, Zazie. Não é perigoso pensar na salvação. Perigoso pode ser pensar na reconversão de pseudo-salvadores demagogos que nos podem salvar.

    O convencimento de que a salvação não é possível é que nos condena...
    zazie said...
    O que eu queria dizer é que é perigoso esperar-se o “salvador da pátria” que vai agora limpar isto tudo... Em alguns sectores até vejo que a coisa mude... por exemplo a nível empresarial, e académico basta a competição dos gajos de leste e até aqui dos espanhóis começar a fazer-se sentir (no caso académico até com entrada) para se ver de que valem esses compadrios. O problema é que a “limpeza” é capaz de vir acompanhada da cilindragem... Agora nas instituições, nos partidos, na carreira política pura e simplesmente não faço a menor ideia... Se nos casos de polícia as coisas são como são.
    Claro que os media denunciam, claro que nalguns casos por via da luta partidária há cabeças que rolam mas, nas leis, naquilo que é estrutural eles cuidam do futuro- apoiam-se uns aos outros... hoje foi ele, amanhã posso ser eu...

Post a Comment