a cópia do dia...
sexta-feira, junho 18, 2004
A cópia de hoje, é este postal, escrito pelo António Do Portugal Profundo.
Até quando?
Que mistério é este de todos reprovarem a forma de fazer política, mas os processos anti-democráticos se manterem? Se todos se queixam da cristalização e corrupção das elites dirigentes, como é possível que o sistema sobreviva e se reproduza?
A substituição das elites e a mobilidade socio-política vertical são raras. Contudo, os dirigentes de topo e dos níveis intermédios resistem e os dos níveis mais baixos usam processos ainda mais viciosos do que os precedentes. Há uma "alternância" rotativa que garante empregos e remunerações para quem está no poder e na oposição, no poder político ou nos media, nas empresas públicas ou nas empresas "estratégicas" onde os políticos (que não Estado) detém uma golden share.
Desde que se consiga a polivalência no poder, as ideias não interessam. Por isso, vemos os socialistas liberais, os democratas cristãos liberais, os comunistas sociais-democratas, os trotskistas liberais, os conservadores liberais e os liberais intervencionistas... As ideias são pratos adornados mas sem sabor para servir mornos ao povo crente na improvisação dos cozinheiros.
Para sustentar a fragilidade política, as direcções alienadas agregam os chefes e servos dos media e - novidade! -, agora que o sistema se degradou mais ainda, os magistrados e membros de presumidos grupos de pressão lisonjeados pelas portas franqueadas e tratamento igual. Passa-se da divisão dos poderes à comunhão no poder. Mas o povo de parte.
O afastamento das elites políticas em relação ao povo é a maior causa das convulsões políticas. Teoricamente, tendo em conta o alheamento dos dirigentes políticos face ao povo, cuja vontade deveriam representar, o conflito estaria em curso. Mas nota-se, principalmente, uma resistência ao voto, o lamento e a maledicência inconsequente. Não há participação nos partidos que acham corrompidos, nem tentativas de tomada do poder interno por grupos organizados, nem o lançamento de novas organizações por gente nova.
Andamos, então, temerários, mas com estreito apoio, sobre o fio da navalha que nos fere a esperança. Até quando suportaremos a faca?
Publicado por josé 11:51:00
3 Comments:
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O convencimento de que a salvação não é possível é que nos condena...
Claro que os media denunciam, claro que nalguns casos por via da luta partidária há cabeças que rolam mas, nas leis, naquilo que é estrutural eles cuidam do futuro- apoiam-se uns aos outros... hoje foi ele, amanhã posso ser eu...