Os "anónimos" de nick na net
terça-feira, maio 11, 2004
Alguns snipers de dedo nervoso, têm apontado crónicas e disparado postais, ao alvo fácil dos escribas anónimos de blogs, negando-lhes o direito de não dizerem quem são e impondo-lhes o dever de mostrar o BI em lugar de se ver.
Embora reconhecendo toda a legitimidade dessa opinião, também legitimamente se poderá perguntar pelos motivos e indagar das razões para os anátemas usuais que os de BI em riste, atiram aos da contra-mão.
Segundo alguns, o anonimato de quem escreve é uma ignomínia a quem mostra cara descoberta e nome em pancarta, ou por baixo da carta, no blog de ocasião. Mesmo que esse nome seja desconhecido e de facto anónimo consumado, de direito é que não e por isso onde poderia estar uma faculdade a exercer, estabelecem eles um dever e uma obrigação, sem a tolerância do meio termo.
Para os que relevam a ética do nome próprio ou apelido a condizer, postado em blog como dever, um anónimo é um muitomentiroso, é um cobarde que se recusa a mostrar a mão quando atira a pedra do escrito sarcástico ou da ironia mordaz, mesmo em flagrante irrisão.
Um BI em riste, fica triste por não ver a cara do nome de quem escreve em heterónomo. E exige a autenticação do escrito, só afogando o despeito perante um nome aberto.
Estes respeitáveis fetichistas do nome próprio ou apelido a preceito, assemelham-se assim a voyeurs da identidade alheia. Não lhes interessa a escritura, na falta de assinatura. E controlam a eito, faltas de respeito. Se assinadas, estão perdoadas; caso contrário, atiçam fogueiras e não há perdões, nem com confissões.
A verdade, porém, é que este comportamento também tem explicação.
O ferrete do panfleto e o medo de uma difamação precede a condenação. Quem teme o anónimo terá razões anónimas também, porque não inteiramente confessadas.
As únicas explicações que jamais vi apontadas pelos autores de nome feito e BI em riste, para atirar ao “outro” que não conhecem e por isso temem, num complexo difícil e inexpugnável, são as do anátema à cobardia e o medo atávico dos insultos, boatos e intrigas. E são bem fortes razões. Mas justificam elas o abandono do anonimato, só para evitar um risco?
Nas citações, dá-se aqui preferência a um presumido opositor do anónimo enquanto autor.
Já há algum tempo, nas "I Jornadas sobre comunicação no Algarve" Pacheco Pereira afirmou que...
“as sociedades modernas vivem num mundo de pseudo-transparências, não um mundo de democracia mas sim um mundo de demagogia”, onde “quem controla as palavras, controla a realidade”.
Talvez seja por isso que na opinião de alguns, eventualmente também a do autor do Abrupto, importa conhecer os anónimos...
Se for verdadeira essa concepção, o perigo vem do controlo das palavras e por isso pouco importará quem as profere. Contudo, a tentação de ligar e escrito ao autor e manietá-lo se for preciso, atirando-lhe outras palavras ou encostando-o às diversas esquinas da vida em sociedade, só é possível com o conhecimento do BI... e daí o anátema certo e a condenação dos anónimos à fogueira, num reflexo antigo e descontrolado.
A internet e agora os blogs, são essencialmente um meio de comunicação e estes meios
"sempre preocuparam o Palácio do Príncipe, fosse ele o poder dinástico, politico, militar ou religioso”.
A Internet é demasiado aberta, libertária e perigosa para os poderes.
Assemelha-se a uma espécie de floresta de Sherwood onde tantos Robin Hood podem crescer e multiplicar-se e daí a preocupação das patrulhas do Sheriff de Notingham, em conhecer, vigiar, controlar e delimitar veredas e percursos, estabelecendo interditos.
E não faltará muito até que apareçam jornalistas preocupados em não perder prerrogativas no direito de informar.
Nessas mesmas jornadas interveio o jornalista, José Pedro Castanheira que falou da credibilidade do jornalismo online...
“Para o jornalista do Expresso a Internet é o “reino do anonimato”.
E nessa sua principal característica reside a “magia”, “sedução” ou mesmo a “maldição” da “rede”. Recorrendo a um estudo por si efectuado no ano de 2000, José Pedro Castanheira apresentou dados estatísticos que reforçaram a ideia de que o anonimato é uma clara arma de navegação pelo mundo e de utilização indevida de nomes e instituições. Para o jornalista, sendo a Internet um meio de informação rápida por excelência, também o é a nível da desinformação. Mesmo assim, jornalista sublinhou não ser contra o anonimato. Na opinião de José Pedro Castanheira, o anonimato, direito que assiste quem quer que seja, é muitas vezes fundamental para os jornalistas.
A partir dessa reserva de identidade os jornalistas constróem as suas notícias, desde que o teor da informação seja credível e confirmado. “A partir de denúncias anónimas já fiz histórias. [o anonimato] É matéria- prima para os jornalistas, fonte para o jornalismo de investigação”, acrescentou.
No que respeita à opinião, o anonimato permite a desinibição e a total transparência dos leitores sobre assuntos a opinar. Mesmo que, por vezes, estes prefiram assinar com nomes falsos ou mesmo com nomes de figuras públicas.
Outros efeitos do jornalismo online são, para José Pedro Castanheira, a “despersonalização dos leitores” e uma “cultura de difamação”, o que põe em causa a vantagem da Internet. Mas o jornalista do Expresso ressalva: “é um risco, de facto, e recupero aqui a intervenção de Thierry de Smetd, e acrescento: é um risco apaixonante”.
Pois é neste risco que me situo!
Sendo condenável, como princípio, o uso do anonimato para ofender, difamando ou caluniando, nem todo o abuso neste sentido pode ser atendido. E tomar esse receio como bitola para proibições ou imposições, parece-me exagerado e releva do espírito censório que se julgava arredado no Portugal actual.
Os blogs são geralmente cantinhos de opinião. Mesmo anónima, se fundamentada, não se vêem razões para alarme. Manifestar opiniões, neste caso, equivale a fazer perguntas e não afirmações. E neste caso, que também os há, as afirmações valem o que valem consoante a fonte, o destinatário e o âmbito do assunto.
Neste blog em que agora escrevo, sob o relativo anonimato de um nome anódino, não me parece que seja justa a condenação que vi escrita e que por outros lados, quanto a outros blogs igualmente anónimos, também já vi referida.
Este blog tem um endereço de email que é real; tem escribas de blogposts que usam o email pessoal; tem, além disso, preocupações de nunca passar do ataque às ideias que determinada pessoa transmite para o pessoal e ad hominem. Sempre que uma sombra disso por aqui perpassa, no caso que me diz respeito, não deve ser levado muito a sério. Os blogposts sobre pessoas e no meu caso, foram, se bem me lembro, sobre MST, EPC e JPP, foram escritos em cima da lâmina irónica e quando muito sarcástica, mas sempre tendo como causa directa e imediata, outros artigos de opinião, onde essas personalidades que nem conheço pessoalmente, nem me interessa conhecer, atacaram ou escreveram de modo a merecer o meu reparo escrito. Se ainda assim, as marcas do respeito exigível foram ultrapassadas, pois... paciência! Estarei sempre pronto a pedir desculpas, se elas forem devidas.
E com isto me fico - que é suficiente e precisava de o dizer.
Publicado por josé 18:30:00