"Casa de Penhores"

Há dias, contrariando os meus deveres estatutários de operário do Ministério Público, sem nada comunicar à hierarquia, zás, meti-me num avião de certa companhia área, na direcção-geral da pátria de Pascal.

Tenho horror a aviões, mas abasteci-me daquelas caixinhas de calmantes que se engolem nessa ocasiões, mesmo sem um pingo de água. Na esperança vã, mais uma vez, que aquilo me adormecesse até Charles de Gaulle. Qual quê?! Nem um minuto de sono, sempre com o coração apertado, o ventre contraído.

Os felizardos como eu que, por vezes, viajam de avião, já estão habituados a que se lhes forneça umas revistinhas de publicidade inútil, mas que vão indicando locais aprazíveis a visitar, monumentos a estudar sem falta, boites onde se possam passar umas noitadas e quejandos motivos de interesse turístico. Comigo levava um daqueles livros que os intelectuais transportam nessas ocasiões, assim se distinguindo do vulgar executivo em viagem de negócios, ou ministro cuidando do destino da pátria e do nosso. Estes adornam ainda a sua relevância política e económica com o imprescindível computador portátil sem o que, hoje, no avião, se passa por vulgar passageiro.

Cansado da minha intelectualidade de trazer por casa, peguei mas foi na tal “revistinha” . A província francesa a visitar, sem falta, era a La Provence. Em França. Folheei, folheei e concluí que, em boa verdade, a Grande França, era mesmo grande. Tão grande que, numa das páginas interiores, no meio de uns relvados sumptuosos, se encontrava, nada mais , nada menos, que, e vejam lá!!, sem tirar nem pôr a Torre de Belém!

Bolas, mas a Torre de Belém não fica ali na capital, mesmo sobre o Tejo e disse para mim que, nem o Tejo, nem o Sena, tinham relvados sumptuosos.

Ocorreu-me, por má fé, que a Torre de Belém já fora vendida aos gauleses por Ma nuela Ferreira Leite, de modo a que equilibrasse o défice. Regressei e fiquei com aquele engulho no pescoço. Que MFL nos venda, venda o Sol do Algarve e as manhãs românticas do Porto, é uma coisa, agora a Torre de Belém é outra coisa.

Era como se negociasse a autoria dos Lusíadas. Sem o Banco de Portugal, ficaríamos pobres durante dezenas de anos, mas sem a Torre ou os Lusíadas, ficávamos pelintras para todo o sempre.

Logo que o jacto poisou na Portela, corri à 1ª cabine telefónica (não acerto com telemóveis) e inquiri o que era aquilo. Que não, que não era bem aquilo, a Torre fora só alugada para se exibir e trazer turistas a Belém, mas ficara uns tempos à experiência na Provence.

Mas fiquei a pensar - e se a ministra se lembra de alugar os Jerónimos, pondo lá que os vendeu, em troca do apoio gaulês para evitar má nota em Bruxelas?

Alberto Pinto Nogueira

Publicado por josé 11:23:00  

2 Comments:

  1. Kamikaze (L.P.) said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    Kamikaze (L.P.) said...
    Caro Dr. Pinto Nogueira:
    esta madrugada, devido ao estado de sonolência adequado ao diantado da hora, apaguei, inadvertidamente, o comentário que aqui pretendia deixar, qual era manifestar-lhe o meu apreço pela acutilância e ironia dos seus posts. É um prazer lê-lo e dá-lo a ler aos amigos (sou dos que gostam de partilhar as coisas boas). Bem haja.

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