Retrato no Jardim.

Ora bem, os textos anónimos de ontem, são da inteira autoria de um Conselheiro de Estado e doutorado em "Ciências Políticas", “honoris causa”, pela Universidade de S. Cirilo!

Para além disso, ainda Cavaleiro Honorário da Ordem Bizantina do Santo Sepulcro, condecorado por várias instituições, entre as quais a da Communidad del Municipio de Chacao e ilustre titular de comendas concedidas em nome de grandes figuras mundias da extirpe de um don Ricardo Montilha, um Juan Guilhermo Irribarren, um Saurau de Aragua e um Jacinto Lara!

É ainda titular de uma comenda, concedida por uma reputadíssima instituição da Grã-Cruz da Estrela Polar (Suécia)!

Portanto, o nosso comendador emérito e autor dos escritos ontem transcritos, não é qualquer Zé das couves que escreve em blogs! E isso tem o seu quê de transcendente. Não é qualquer um que consegue a lança em África de se doutorar em Ciências Políticas pela Universidade de S. Cirilo!

Por isso, enquanto político, comendador, doutor honoris causa (pela Universidade de S. Cirilo!) dirigente do PSD e responsável pelo Governo Regional, escritos como esses transcritos, nem sequer são inéditos. São apenas mais uma acha para a fogueira da condescendência, essa sim, preocupante, com que a apelidada III República o tem brindado durante mais de um quarto de século. Não andará, por aquela cabeça tonta, uma ideia subconsciente de 3º reich, em resultado daquela cultura notável, de doutor “honoris causa”, de que dá mostras a cada passo?!

E contudo, em 1974, a mesma cabeça pensava de modo diverso:

"O Governador numa região autónoma, deve ser eleito por sufrágio directo e universal, e por maioria absoluta. Um período de quatro anos pode considerar-se razoável. Mas o princípio da não reeleição é útil porque não faz a governação cair numa rotina perniciosa, nem faz cultivar o gosto ou o vício pelo poder.”
29-12-74
Alberto João Jardim, Tribuna Livre, Ponta Delgada, 1995, pp.88-89"

Mudou de ideias, nestes trinta anos...

Mas não só de ideias. À aparente contenção e sensatez do discurso de 74, sucedeu uma vertiginosa fuga para qualquer lado onde possa perseguir fantasmas e conspiradores imaginários.

Embora defenda com todo o vozeirão a “democracia” e encha a boca com o poder derivado dos votos, a verdade é que lhe foge sempre o pé para a chinela da irrisão e para a chanca das enormidades, proferidas em ocasiões selectas, geralmente nos Carnavais de Fevereiro e de Chão da Lagoa.

Para apreciar esta evolução idiossincrática, talvez seja útil a citação textos avulsos e em sincretismo ecuménico.

Na conferência «Madeira - Região Europeia 2004», em Outubro de 2003, Alberto João Jardim afirmou:

«Na minha opinião é de manter na Constituição os princípios fundamentais e os direitos, liberdades e garantias. Mas eliminaria todos os capítulos a parte laboral e orientação económica, social e cultural».

Sobre o escândalo recente, apesar do escrito mesmo agora transcrito em que professa a sua fé democrática nas instituições e princípios fundamentais, verifica-se uma discrepância conceptual entre esta declaração de Conferência e o escrito ontem publicado no jornal O Diabo, onde AAJ assenta a espada nas “instituições que têm a ver com a Segurança Nacional”, numa alusão clara e quase explícita à Polícia Judiciária e Ministério Público que para ele estão infestados de comunistas.

Porém, a este propósito, nem sempre a opinião do governante regional se tem revelado assim tão desbocada...

«Não respondo sobre perguntas concretas que estejam a ser analisadas pelo aparelho de Justiça». Foi deste modo que o presidente do Governo Regional se pronunciou, ontem, sobre o caso que está abalar o desporto português e que já justificou a detenção de Valentim Loureiro e do presidente e vice-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Pinto de Sousa e António Henriques, respectivamente, por suspeita de tráfico de influências na arbitragem. No entanto, e enquanto político e cidadão livre, Alberto João Jardim não se coibiu de dar a sua opinião global sobre o aparelho de Justiça português. «Ao contrário de outras vozes hipócritas, eu digo publicamente que não tenho confiança na Justiça em Portugal».


Nesta senda desafiadora da paciência democrática, AJJ tem arranjado, ao longo dos anos, várias explicações curiosas para os fenómenos politico-sociais que o afectam e que revelam uma concepção no mínimo peculiar do que é a democracia e a responsabilidades política dos eleitos.

Mesmo apelidando abertamente de “idiotas” as leis gerais, aprovadas democraticamente, não há consequências práticas por tal conduta, Ao encolher de ombros democrático e à condescendência habitual dos demais poderes soberanos, relega-se sempre para a terra do nunca as disposições constitucionais (artº 234 Constituição) que admitem a dissolução democrática do doutorado “honoris causa(pela Univ. de S. Cirilo) por “prática de actos graves contrários à Constituição”.

Ainda recentemente, em Dezembro de 2003, afirmava em Público:

"Jardim contestou também a "legislação colonialista" e "a obrigatoriedade de cumprir as leis gerais da República que são autênticas idiotices". Verberou igualmente os "poderes corporativos" dos magistrados e da comunicação social, "sem legitimidade democrática", atribuindo por isso culpa ao "comportamento cobarde" da classe política de Lisboa. A propósito apontou o dedo acusador contra jornais nacionais que no seu entender dificultam as suas negociações com o governo central, "prejudicando a Madeira e a sua economia", enquanto os seus jornalistas "passeiam-se impunes nas ruas do Funchal sem que ninguém os castigue" [Há anos, quando desvendou uma cabala anti-Madeira alegadamente arquitectada por Bush pai, pela Trilateral e pela Maçonaria, Jardim avisou que três jornalistas madeirenses, correspondentes de órgãos nacionais, entre os quais o PÚBLICO, só não foram "punidos com fuzilamento" porque, confessou, "Portugal é um Estado de Direito democrático"].


Assim, perante este contínuo espectáculo carnavalesco, só mesmo a tolerância de entrudo, em que “passa tudo”, pode explicar a manutenção deste sempre-em-pé, à frente da política regional e local, em vez de retomar o seu lugar de cátedra na Universidade de S. Cirilo, para ensinar “ciências políticas”, eventualmente pregando-as aos peixes, informado-os das conspirações tenebrosas dos lobbies da maçonaria, trilateral, gays e, acima de tudo e de todos, dos comunistas!

Talvez que nessa terra distante e perante os peixes embasbacados, pudesse dar largas ao histrionismo reconhecido e aparecer em todo o esplendor deste retrato que em tempos lhe fez Alfredo Barroso, no Expresso, em 18/10/1997 :

"Estou a vê-lo em cuecas, sempre grotesco e rasca, na primeira página do  «Tal & Qual». Ou de copo de «whisky» na mão, a rir-se, no meio da sua  trupe carnavalesca. Ou, ainda, vestido de palhaço, a fazer um manguito  com o dedinho espetado para cima e a proclamar, muito ufano: «Quero  que se foda a Assembleia da República! Já disse que me estou cagando  para Lisboa! O país não se revê em Lisboa, naqueles parvalhões que  andam por lá e têm a mania que mandam nisto tudo!». São imagens e  palavras do presidente do Governo Regional da Madeira.

Enfim... até acaba por ser triste.

Publicado por josé 12:34:00  

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