O SILÊNCIO DAS PALAVRAS- o primeiro Gandalf!


ALBERT CAMUS, um dos máximos expoentes do existencialismo, escreveu no "O Mito De Sísifo" que " Um homem é mais homem pelas coisas que cala do que pelas coisas que diz. Há muitas que vou calar..."

CAMUS, como é sabido de quase toda a gente dos anos sessenta que nele bebeu uma filosofia de absurdo da vida, que o autor nem sequer defendia
como modo de vida ( preferia o "vivre plus" ao "vivre mieux"), não calou
tantas coisas como anunciou no Mito. O que se demonstra pelo minúsculo facto
de ter escrito muitas obras que ainda hoje deleitam quem aprecia o
pensamento e não menospreza a inteligência.A seu modo, e bem profundo,
denunciou bem alto as injustiças, as safadezas e a escroquerie que sempre
caracterizou as sociedades, de então, e que caracterizam as actuais, ditas
de pós-modernismo.


Em CAMUS, havia ideias, uma filosofia de vida, um
enriquecimento do pensamento, dignas de um homem que foi tudo na vida,
desde manga-de-alpaca na Prefeitura de Paris, até à Licenciatura em
Filosofia.
Penso não trair o autor se disser que o seu silêncio, de palavras
feito, passe a contradição, abalou muitas consciências e devia abalar outras
que, no mundo de hoje, de tanta surdez e sordidez, mal não lhes faria .
Quem pensa, como toda a gente devia pensar, também devia saber que o
silêncio não é a ausência, a desistência da denúncia, mas a reflexão que
pode conduzir à denúncia. É que qualquer forma de opressão, ou simples
intenção ditatorial, exerce, desde logo, uma função: cala, esmaga a palavra
que resulta do silêncio da reflexão. Daí que o SILÊNCIO seja a fonte do
ruído da PALAVRA.

Meteram-me agora na GRANDE LOJA.
Escapo um pouco, ou muito, ao "estatuto redactorial".
Pela palavra do meu silêncio, fico aí para denunciar.

Denuncio, e até está na ordem dia, esse apetite que os magistrados têm pelo futebol.
Juízes, desembargadores, conselheiros, passeiam-se por esse mundo
escuro e esconso. Inacreditavelmente, com a benção, ou anemia do órgão
superior dessa magistratura. Afrontando a Constituição da República e
desacreditando a Justiça. E desacreditando-se.

Por mais que o estatuto desses magistrados lhes permita estar lá, a
Constituição não lhes permite. O estatuto permite o que a Constituição não
permite, pois que esta não admite que os juízes desempenhem "qualquer outra
função pública ou privada"
e o estatuto acrescentou, contra a Constituição,
uma palavrazinha condescendente, "de natureza profissional".

E assim se conseguiu, por um jogo de palavras, que os juízes, em vez de julgarem, se manchem, e nos manchem, na promiscuidade do futebol e não só.

Não me venham dizer que os magistrados judiciais não vivem fora do
mundo, assim fornecendo uma hipócrita e esfarrapada "justificação" para o
injustificável. Viver no mundo, não é viver no meio da merda que tresanda
das sedes dos clubes de futebol, da liga e da federação.E não me venham
dizer que pertencer a órgãos de disciplina, de jurisdição do futebol
nacional e local não é uma função. Definindo-se esta como o exercício de
actividades em órgãos de funcionamento permanente, como é que estar lá, em
permanência, não é exercer funções?

Mas o mais grave de tudo é a aparência, o retrato que se deixa à
sociedade, ao cidadão. Os juízes devem ser como a mulher de César:" não
basta sê-lo, é preciso parecê-lo"
. Já se inquiriram eles e quem manda, das
razões por que os Srs.do futebol os querem lá? Já não basta que os juízes,
conforme ou contra a Constituição, se passeiem nas direcções-gerais de tudo
quanto, neste país, é polícia, como ainda por cima se exibirem no futebol,
um mundo em que os princípios e a ética não têm assento visível?.

Como diria CAMUS, um homem é sempre presa das suas verdades. Também,
com certeza, o sou das minhas.
Há uma que não me sai da cabeça: os juízes são para nos julgar, não
para deambularem nos corredores do futebol, onde a ética, a isenção, a
imparcialidade e outros predicados que caracterizam um homem sóbrio e
solidário com os seus concidadãos, não têm cadeira que se tope.

GANDALF

Publicado por josé 18:53:00  

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