Polido, mas rebarbativo
sábado, março 06, 2004
Vasco Pulido Valente, no DN de hoje...
“Uma certa opinião que se publica ficou muito excitada com Avelino ferreira Torres e as suas cenas de hooliganismo. Como ficou muito excitada com as trapalhadas de Fátima Felgueiras. Mas muitíssimo menos com o caso de Martins da Cruz, que nem sequer foi investigado a sério e que num país decente teria levado à queda do Governo. O peixe miúdo apanha sempre , porque à mistura com a indignação da regra permite exibir um desprezo social, que os costumes normalmente proíbem. O ódio aos políticos está reservado ao burgesso, que arrombou a gaveta, e só em abstracto se aplica a gente bem -educada e bem- nascida ( ou afim), que simpaticamente se dedica ao tráfico de informação e de influência. Pior ainda, só se aplica ao que é público e notório: se vem da televisão , se lê nos jornais ou se pode ver pela janela do carro. A pequena corrupção e os crimes contra o ambiente comovem imenso; os negócios de almoço e corredor não fazem uma onda. Há um snobismo na virtude. Qualquer pessoa que se preza, à Direita ou à Esquerda, detesta Paulo Portas, Jardim e Santana Lopes, que não são por assim dizer, apresentáveis. Ninguém excessivamente se incomoda com as figuras pardas da hipocrisia, do oportunismo e da intriga, que sobem pelo pau de sebo do Estado e dos partidos. Nesse formigueiro e nas discretas criaturas que discretamente o representam não se toca. O que o formigueiro agradece. Avelino Torres não é o nosso problema. O nosso problema é quase tudo o que passa, e não devia passar, por respeitável. Nada mais fácil do que trovejar contra aberrações de superfície , principalmente com a concordância universal. Seria melhor pôr por ordem o que anda fora de ordem. Porque pouco a pouco Portugal se começa a tornar numa auto-invenção.”
Este texto contrasta em muito, com o que por aí vai de comentários ao “acontecimento” torreeiro do Marco.
Um dos primeiro a indignar-se com o hooliganismo e a rasgar as vestes de indignação pela não prisão do abrunho de Canavezes, foi o Abrupto da Marmeleira.
Outro alimado do sistema politico-social vigente, na última página do Expresso de hoje, também dedica a sua prosa de esquina baixa, ao fenómeno. Curiosamente, até se refere às omissões do Lopes e do Santana.
Por aqui se vê que a lucidez e a inteligência não são produtos que se adquiram a molho, em qualquer feira das cebolas. Ao contrário dos carapaus - de corrida ou mesmo alimados.
Publicado por josé 20:27:00
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