"Estado de Choque"
quinta-feira, março 18, 2004
Por vezes, penso que devo ser um ser de outro planeta.
Se a posição da oposição deixa-me certamente angustiado, não por ser oposição mas pela posição que por vezes tomam, não medindo as consequências e a amplitude a montante e a jusante das mesmas, confesso que a posição que o Governo tem tomado relativamente a alguns assuntos me deixou apreensivo.
Numa sociedade liberal, o facto de ser assumidamente de direita não implica que tenha objectivamente fazer como os islamistas, descalçar o sapato e começar a rezar em sinal de concordância a tudo o que do Governo vem. Posso ser anti-natura mas não funciono de outra maneira.
Mas, fiquei deveras surpreendido com as palavras de Durão Barroso aqui
Que um primeiro ministro diga que errou pode no limite revelar alguma maturidade política dependendo da amplitude do erro.
Que um primeiro ministro diga que se soubesse o que sabe hoje, faria as coisas de forma diferente, ajustando a informação entretanto adquirida aos factos, revela que não tem ideias fixas e não é preciso ser primeiro-ministro para pensar assim, pois todos nós se soubessemos o que sabemos hoje, muita coisa fariamos de forma diferente.
Agora que um primeiro ministro diga, taxativamente, que nunca teve a pretensão de acertar sempre, é que me deixa deveras angustiado.
Assumidamente a pretensão era acertar nas medidas em que percentagem.
Não percebeu Durão Barroso que com esta afirmação, mesmo que diga que que sabe qual e o rumo para o país é legitimo que eu, como português lhe pergunte directamente :
Mesmo concordando com a política económica levada a cabo por Durão, esta afirmação deita por terra daqui para frente, qualquer hipotese de resposta de uma oposição inteligente e audaz.
Se Portugal fosse uma empresa cotada na bolsa, hoje depois destas afirmações, a cotação teria descido abruptamente.
Numa empresa quando se assume que não tem a pretensão de acertar sempre, o caminho é o fundo de desemprego.
Na política quando se assume que a pretensão não é acertar sempre, o caminho a seguir só pode ser um, pois o país tem que ser comandado por alguém que mesmo errando tenha a pretensão de acertar sempre.
Infelizmente, Durão Barroso não percebeu.
Publicado por António Duarte 17:40:00