E se tivesse sido ao contrário? 

Na sua edição de hoje, o Repubblica diz que imediatamente depois do massacre de Madrid - que o Governo se apressou a atribuir sem hesitação à ETA (“sem nenhuma sombra de dúvida”, declarou o ministro do Interior) -, sondagens efectuadas nessa altura davam ao PP uma subida até aos 70%! Mesmo descontando algum exagero, é de admitir uma forte reforço das posições do PP e uma correspondente debilitação do PSOE, por causa da sua aliança com a ERC na Catalunha, acusada de ter pactuado um acordo com a organização terrorista basca. (...)

(...) Rodriguez Zapatero, o vencedor das eleições espanholas, anunciou na campanha eleitoral querer tirar a Espanha do “trio dos Açores” (ignorou o anfitrião...). Dos protagonistas dos Açores um, portanto, já saiu da cena em Madrid. Quando chegará a vez dos outros?

Vital Moreira

O texto que acima se copia é o exemplo extremo da desonestidade e simplismo intelectual que grassa em certos sectores da nossa sociedade e é o espelho perfeito de que quando lhe toca certa esquerda, e não só, não olha a meios e a fins para fazer passar sua verdade. Karl Rove, o inventor de Bush, não conseguiria fazer "melhor".

Vital Moreira começa por nos dizer que caso se provasse que o atentado foi obra da ETA o PP subiria hipotéticamente até aos 70%. Por outras palavras, como o atentado não terá sido da ETA, o PSOE ganhou... Até aqui nada de novo, até porque per se a vitória do PSOE não foi uma vitória da Al-Qaeda.

Vitória da Al-Qaeda é o novo discurso, com efeitos retroactivos, retirado das ilações do que se passou em Espanha.

Num intervalo de 72 horas uma franja significativa, sejam 20 ou 25%, do eleitorado hesitou entre um lado e outro e tendeu para o PSOE. Ver nisto, numa decisão emotiva, não distanciada e a quente uma qualquer tendência global, e transitiva, é do mais refinado cinismo que pode existir...

Resta a esperança de que tal como Gonzalez tendo sido eleito prometendo retirar a Espanha da NATO, também Zapatero ganhe lucidez que por cá estamos conversados.

O extremismo lunático de Ana Gomes que está a virar moda até pode render votos mas não serve o País.

Porque o Iraque não pode servir de tampão para evitar a discussão daquilo que realmente interessa ao País e nessa medida,  o PS está a prestar um enormíssimo serviço a este PSD...
 
P.S. Nas palavras dos insuspeito João Pedro Henriques os espanhois
"elegeram um poder que promete tirá-los da condição de alvo" (da Al-Qaeda). Um acto de pura inteligência já se vê e que pode ser resumido em deixar que o terrorismo seja apenas um problema dos outros.  Ora, daqui  à tese de uma Europa-fortaleza vai um passo muito, mas muito, pequeno...


Publicado por Manuel 13:20:00  

0 Comments:

Post a Comment