Num texto, muito apreciado em determinadas hostes,  Ana Sá Lopes, no Público, publicou, faz esta sexta feira uma semana, uma interessante prosa entitulada "O Sorriso de Mona Lisa" onde basicamente afirmava entre outras coisas que ...

"Santana Lopes é o protótipo do político populista. Zurzi-lo por isso e opor-lhe Cavaco Silva como antonímia é um rematado disparate: nessa matéria, Cavaco sempre foi o mestre. Uma campanha eleitoral de Santana Lopes tem a mesma base de uma campanha eleitoral de Cavaco Silva - está lá dentro toda a América Latina. Os dois apelam à emoção e não à razão: a diferença é que Santana Lopes o assume e, para o eleitorado-alvo a que se destina, assumi-lo é vantajoso. Cavaco apela à emoção travestida de razão: não o pode assumir, fala para outro público."

logo de seguida não se coibe de afirmar ...

Nestas "alegadas" primárias dentro do PSD, estará em jogo o grau de populismo para o qual o partido (e por extensão o país) está preparado. Boa parte do PSD revê-se em Santana Lopes, porque não esquece que Cavaco Silva lhe destruiu o partido, ao sabor das suas conveniências pessoais - e é óbvio que o país (ou boa parte dele) não esquece o cavaquismo.

Quando o PSD invoca a "fuga" de António Guterres esquece-se do mais mirabolante abandono da vida política dos últimos anos, que foi o de Cavaco Silva: Cavaco Silva inventou um "tabu" que deixou o país suspenso e o partido de mãos atadas; "mandou" elaborar uma moção de estratégia a um congresso; já a moção de estratégia estava pronta, anunciou que não era candidato; já não havia tempo para fazer mais moções; os candidatos que apareceram ficavam (e ficaram) sujeitos à moção de Cavaco Silva; Cavaco manteve-se primeiro-ministro, enquanto Fernando Nogueira, o desgraçado vencedor do congresso, fingia que era líder do PSD. E por aí fora, até à derrota eleitoral do partido. Verdade se diga que só uma criatura, à época, teve coragem para denunciar todo o absurdo que revolveu o PSD na transição 1994-1995: Santana Lopes, o próprio.

Escrever isto é do mais puro delírio, e revisionismo histórico, e só não é mais grave porque é assumido como apenas a opinião da jornalista e não como uma "notícia" ou facto.

Dá-se um desconto a Ana Sá Lopes que devendo passar demasiado tempo na Capital veja o resto do País como a América Latina, mas manifestamente falta-lhe a autoridade para falar, ou, então, está com problemas de memória porque nunca assistiu a nenhuma campanha do agora esquerdista Dr. Soares (pai) ou do Engenheiro Guterres. Em política, ser populista, não é crime, ser demagógico e incendiário já é!

O facto que leva Santana a ganhar qualquer eleição autárquica em que se meta (a reeleição em Lisboa é outra história) é o mesmo que levou Vale e Azevedo à liderança do Benfica. Durante anos e anos os benfiquistas execraram Pinto da Costa e Vale de Azevedo, passe o curriculum, era o Pinto da Costa deles. Com Santana passa-se rigorosamente o mesmo, Santana promete resultados, promete por as coisas no mapa, não interessa como, e em certa medida está para o País como o Major Valentim Loureiro está para Gondomar, já que a lógica é  rigorosamente a mesma.

Meter Cavaco neste circo não é sequer um insulto ao natural de Boliqueime, é pura e simplesmente não perceber o País. O tipo de sentimentos que levam a votar num ou noutro são completamente antagónicos, assim como o que um outro representam mas enfim ...

Logo a seguir, Ana Sá Lopes vem dizer-nos que uma boa parte do PSD acha que Cavaco destruiu o PSD. É verdade, verdadinha só que não pelas razões que ASL enuncia.

Cavaco nunca considerou estratégico o controlo do Partido, sendo um Primeiro-Ministro forte, e só tarde e a más horas percebeu que estava a lidar com um monstro. O que Cavaco fez, foi pura e simplesmente cortar as vazas a um aparelho extremamennte voraz, que o via a ele - Cavaco - apenas como um meio de  atingir os seus fins. Com isso, Cavaco quase que salvava o PSD, se lá dentro se tivesse ganho juízo.

Nos dias de hoje o PSD  encontra-se rigorosamente  na mesma situação em que Cavaco o "matou", com um aparelho hiper-voraz mas desta feita controlado por ...  Santana Lopes, e com a agravante de o líder e na mais benevolente das apreciações ser um frouxo. Cavaco não fugiu, Cavaco hibernou apenas e só um monstro.

O que choca
, hoje, o aparelho, quer do PSD, quer de todos os outros partidos, é o facto incontestável de Cavacao não precisar dele para chegar ao País. Isto torna-os, aos aparelhos, descartáveis, e torna Cavaco imune a pressões. É em suma o verdadeiro fim do Bloco Central...

Entretanto a imprensa deste fim de semana diz-nos que o PSD hesita, para cabeça de lista às europeias, entre Leonor Beleza e Dias Loureiro (que nas palavras do Independente é a verdadeira eminência parda deste governo, o que se fosse verdade explicava muita coisa).

O método de decisão ? Sondagens, claro está.

Ainda neste fim de semana, o General Azeredo deu uma curiosa entrevista ao Independente onde zurziu forte e feio em Cavaco. Há uns dias atrás um Marcelo feliz e contente estava no lançamento das suas memórias. É o que se chama cobrir todo o campo...

Um destes dias, passou desapercebida uma entrevista de Álvaro Castelo Branco, coordenador autárquico do PP,  ao Jornal de Notícias, onde este declarava todo o seu apoio à candidatura de Avelino Ferreira Torres à Câmara Municipal de Amarante. A este propósito espera-se de Rui Rio, que pode ter muitos defeitos mas que é um homem sério, e que é Vice-Presidente do PSD uma posição firme, clar a e frontal...

Ah, e hoje, o Professor Cavaco, veio baralhar, e de que maneira a vidinha da maioria por causa da questão do Aborto. A vidinha da maioria, a vidinha do Lopes (que não pode alienar nem o PP nem a sua hipotética mensagem "jovem") e arruinar, de vez, as ex-futuras ambições presidenciáveis de Freitas que deve estar siderado por tão inesperado apoio.

Faça Durão o que fizer, Cavaco já ganhou.

Publicado por Manuel 16:33:00  

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