"a estratégia da aranha"
terça-feira, janeiro 06, 2004
Passadas aproximadamente 48 horas sobre as declarações de Cunha Rodrigues, o qual, citamos declarou que "Nas depressões impõe-se que as elites elevem o seu discurso, porque o que se eleva converge" eis que Jorge Sampaio, o mais alto magistrado da Nação, falou ao País.
Antes de nos debruçarmos sobre as declarações de Sampaio impõe-se um pequeno parentesis sobre conjunções e disjunções, mera lógica elementar: Quando se diz "A ou B" isto significa que se considera que ou A e B são verdadeiros ou que pelo menos um (qualquer deles) o é....
Afirma Jorge Sampaio : «Foi a marcha do processo, ou a sua ilegítima divulgação, que veio interferir com o chefe de Estado». Ora ao afirmar isto é inequívoco que Sampaio põe no mesmo plano e patamar a divulgação da notícia, como a inclusão da já célebre carta anónima no Processo (o facto de, passe o ruído de fundo, e a perfídia de alguns comentadores, a Lei, que Sampaio jurou fazer cumprir, impor de facto, como anuí já se demonstrou, a inclusão das ditas cujas, é um pequeno detalhe)
Mas Sampaio disse mais, disse que "a questão essencial, aqui e agora", não é, "obviamente, a defesa da honra e reputação do chefe do Estado", mas antes que "sejam criadas, de imediato, condições para que a acusação já proferida e as provas que a acompanhem possam vir a ser apreciadas por aquilo que elas valham e não pelos erros procedimentais, sejam da acusação, sejam da defesa, ou mesmo de magistrados judiciais".
Ou seja, e traduzindo para Português, facto muito frequente quando se comentam discursos do nosso Presidente, Sampaio pede, pura e simplesmente, o impossível.
Naturalmente, que do PP ao BE, passando pelos mais altos representantes das corporações, logo vieram as élites manifestar a sua concordância com o discurso de Sampaio, e com o PS a ter a distinta lata de colar a situação insustentável - excepto talvez no Zimbabwe - de Ferro à de Sampaio.
Se Sampaio, o mesmo que critica as fugas de informação, fosse coerente a primeira coisa que devia fazer era pura e simplesmente mandar um assessor, em on, e não em off, como acontece demasiadas vezes, exigir ao Partido Socialista que retirasse imediatamente essa declarações. Sobre Sampaio, tanto quanto se sabe, há só e apenas uma carta anónima, contra Ferro há substantivamente muito mais.
Ferro, esse, já nos disse o que pensava do segredo de Justiça e Sampaio, pelos vistos, parece que só se importa de ver o seu nome na lama em determinados contextos ...
É o Portugal que temos, resta saber se é o Portugal que queremos.
P.S. 1. A César o que é de César : depois de uma menos feliz performance na entrevista ao Público/RR, onde se deixou enredar em algumas ambiguidades, Pacheco Pereira, no Jornal de Domingo da SIC esteve soberbo, ponto final.
P.S. 2. José Miguel Júdice, bastonário da Ordem dos Advogados, por seu turno, disse à Lusa que subscreve "integralmente as palavras do presidente da República, que são uma lição de cidadania e que tornam mais visível o silêncio de outro". Almas avisadas garantem que o "outro" é o actual PGR. Além da manifesta falta de educação de Júdice, espera-se que as palavras de Sampaio não sejam o toque do tambor para um processo, mais ou menos espúrio, que vise pura e simplesmente a destituição de Souto Moura, e há tantas formas de a consumar, e da equipa que tem investigado o caso. Se, por absurdo, tal vier a acontecer, então o 25 de Abril e o 25 de Novembro para nada serviram e constatar-se-á à exaustão que não há estado de Direito em Portugal ...
P.S. 3. Reveladora mesmo a troca de mimos a que temos assistido entre Namora e Granja ...
P.S. 4. Entretanto o DN revela que "Arguidos querem evitar julgamento". Quem diria, se afinal estão todos inocentes ?
Publicado por Manuel 01:05:00