sensibilidade e bom senso ...

Pelo meio de teorias da conspiração, previsões meteorológicas e desportivas à mistura, às vezes é preciso falar com as letras todas de questões muito sérias.

E uma dessas coisas sérias é a definição de limite. Qual é o limite do publicável ? e do insinuável ? e do defensável ? e na imprensa escrita ? e na TV ? e na Net ? e na política ?

O desgraçado status quo a que se chegou leva a que no limite pura e simplesmente não haja limites.



Vem tudo isto a propósito d 'O Portugal e Espanha. Eu até acho interessantes muitas das questões lá levantadas, inegavelmente o autor sabe do que fala,  é  culto, e acredito piamente que ame realmente a sua Pátria, mas, nobres fins não justificam todos os meios.

A propósito de uma crítica pertinente do Paulo Gorjão sobre uma menos feliz caracterização de Nuno Morais Sarmento, o Autor d' O Portugal e Espanha desenvolveu uma herética tese sobre moralidade e bons costumes, nomeadamente na vida pública. Reconheça-se a humildade e coerência na mesma - o Autor depois de exigir que o "Governo de um País deve estar nas mãos não apenas de Cidaãos de indubitável competência técnica mas também e sobretudo nas mãos de Homens de inatacável compleição moral" auto-exclui-se do filme por lhe "faltarem as qualidades e os defeitos imprescindíveis para tal missão".

Mas vamos por partes, diz o Autor que o "passado não se apaga, nem o de um simples cidadão, nem, por maioria de razão, o de quem exerce elevados cargos no Governo do País".

Ora, e jogando - só e apenas - no campo dos princípios e valores do Autor, que com uma interpretação menos inquisitorial , julgo serem genericamente os nossos, não é  o Baptismo uma forma  de "apagar" o passado ? Se sim, estamos conversados sobre o vício substantivo do raciocínio defendido.

Como nota adicional, questiona-se o Autor se ele acha que São Paulo, em tempos Saulo de Tarso é menos recomendável que São Pedro (ai, que esse disse três vez não ...)  ou Maria Madalena ...



Depois diz o Autor que pertence "a uma escassíssima minoria de Pessoas que entendem a vida humana como uma totalidade orientada para a Dignidade e para a Excelência, em que a dimensão privada deve ter a mesma transparência que a vertente pública, repudiando a prática de opor às virtudes de todos conhecidas os vícios privados só de alguns sabidos; e pensando que o que vale para a maioria deve valer sobretudo para aqueles de onde deve vir o exemplo de vida".

Ora também nós, só que aquí impunha-se ao Autor, que não nasceu "anjo" - logo ter tido que ser baptizado -  um bocadinho mais de humildade e do reconhecer da sua própria humanidade. A excelência controi-se e alcança-se, não se tem ou deixa de ter, e é sempre um limite, porque perfeito, e por definição, só Deus. E se calhar mais do que procurar e exigir exemplos em terceiros porque não dá-los antes? Se calhar, se pedir menos a terceiros e der mais talvez o mundo melhore um bocadinho. Um bocadinho muito pequenino mas grão a grão ...

Para terminar deixo à consideração do Autor d' O Portugal e Espanha duas frases: Uma de São Tomás de Aquino que nos recorda que "se uma pessoa agir objectivamente bem mas contra a sua consciência, então não agiu objectivamente bem porque não reconhece efectivamente o Bem como tal", outra de Leonardo Coimbra que nos recorda que "o Homem não é uma inutilidade num mundo feito mas antes o obreiro de um mundo novo a fazer".



É óbvio que o mundo não é perfeito, é óbvio que há muito a melhorar, é óbvio que há uma crise de valores mas também deveria ser óbvio que nos confins da nossa humanidade não estamos habilitados a fazer determinados tipos de julgamentos, porque julgar, julgar a sério, só Um ...

Publicado por Manuel 15:19:00  

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