polaroids de um País ...
terça-feira, dezembro 16, 2003
Alastra o tom e o volume das críticas de Jorge Sampaio ao Governo. Hoje Sampaio exigiu "um acordo político amplo". Já se disse que Sampaio era o verdadeiro líder da Oposição mas ainda não se disse que Sampaio também tem uma agenda.
Sampaio sabe que, por enquanto, não pode contar com um PS feito em cacos e sabe que legislativas agora nada resolvem. Mas Sampaio também tem ouvido com bastante agrado não só os números que revelam o descontentamento generalizado com o bluff deste Governo assim como as vozes que defendem um PR musculado, com ou sem mudança de Constituição, e a continuarem assim as coisas ainda nos arriscamos a ter muita sociedade civil a defender um novo governo de iniciativa presidencial... Sampaio, esse sorrí e agradece. É o velho bloco central na pele do capuchinho vermelho.
Barroso é um mestre na arte de baralhar e dar de novo, não sabemos é até quando. Agora quer fazer um referendo, ainda aquando das Europeias, mas já não sobre a Constituicão Europeia mas sobre a Europa em geral. Não que haja qualquer pergunta óbvia ou com nexo mas porque lhe convém. Antes que o Dr. Monteiro ressuscite de novo com propostas cavernosas nós antecipamo-nos e sugerimos uma pergunta : "Os fundos europeus do QCA3 são bons ou maus para Portugal ?". Absurda ? Claro, tanto como a ideia.
Sobre o aborto: Em voga uma nova táctica: Chutar para canto. Tal como na questão das drogas não se descriminaliza mas despenaliza-se,ou será que vai ser ao contrário ? As questões centrais, essas ficam para depois. Ainda sobre o aborto : é uma questão de consciência e isso não se referenda nunca !
Sobre as finanças públicas e sobre o valor do déficit real: Não vale a pena crucificar mais Manuela Ferreira Leite. A despesa corrente pouco derrapou e na aquisição de bens e serviços houve uma quebra de quase 15%. O grande problema, a par da não receita fiscal, é que a aquisição de bens de capital aumentou 30,4 por cento e os passivos financeiros cresceram 55 por cento. Expressões como leasings, factorings, autarquias, regiões autónomas e afins não devem ser exógenas a tal fenómeno. É tudo uma questão de pulso, ou falta dele. Pulso do Primeiro-Ministro claro está. A propósito, alguém em seu perfeito juízo acredita que Durão e este Governo são o melhor que o PSD tem para dar ao País ?...
Sobre os franceses, e as suas maluquices, poucas palavras que o essencial já foi dito no Abrupto, na Rua da Judiaria e no Aviz: Uma coisa são os sinais exteriores, o véu, o crucifixo, o Kippah, a roupa cor de laranja, whatever, outra que devia ser totalmente diferente são as questões verdadeiramente civilizacionais. Um destes dias alguém citava um artigo imbecil no Le Figaro onde um colunista partia da questão do véu e conseguia chegar à raiz judaico-cristã do Ocidente (!).
Uma coisa são os sinais exteriores que cada um é livre de ter como, quando e onde quiser (e nenhum dos sinais em causa, e em discussão, ofende o próximo, de perto ou de longe), outra totalmente diferente é a desconfiança contra a civilização, no seu sentido mais lato. Como alerta Pacheco o real problema é que ...
Misturar o descrito acima com véus, kippahs, cruzes e afins, como está a ocorrer em França, como se fosse tudo o mesmo plano, é tapar o sol com uma peneira e um alegre passo para o abismo já que não deixa quaisquer margem para a integração. E é essa a verdadeira questão: Como é que se chega a um compromisso entre todas estas diferentes culturas.
De novo sobre Portugal, o Público hoje descobre que "três em cada quatro portugueses não querem mais estrangeiros no país e dois terços concordam com a expulsão dos imigrantes ilegais". Pois é, cinco séculos depois a história quer-se repetir. Há muitos anos atrás um imbecil chamado D. Manuel I, por via da execução de contrapartidas, com os Reis Católicos, por um casamento, acordadas pelo seu antecessor, que não durou muito por via de um certo acidente equestre, despachou todos os judeus de Portugal para o exílio acabando assim com os Descobrimentos e evitando a hipótese de Portugal ter iniciado a revolução industrial com dois séculos de avanço.
Agora, como aquando da expulsão dos judeus de Castela, Portugal recebe uma injecção de capital intelectual (e como bonús de humildade) vinda da Europa de Leste. A paga é o rancor, a dor de cotovelo, os resultados das sondagens e claro o enfase nas máfias. O facto de sem essa gente o país não dar um passo é um pequeno detalhe, como outro pequeno detalhe é que temos a mais baixa taxa de licenciados da Europa mas a mais alta taxa de licenciados desempregados da mesma Europa e, quem não ligar a este último detalhe os resultados da sondagem acima mencionada ou é demagogo ou anda a dormir ...
Publicado por Manuel 22:15:00