Notável a prosa que se cita abaixo, do Diário Económico e com a vénia devida, sobre a guerrilha interna no sector da economia e arredores...

A seita

António Cunha Vaz

Conta-se que Mobutu Sesse Seku era um homem determinado na gestão do seu país.  E para que o povo não fosse prejudicado por alguma hesitação na gestão da coisa pública muitas são as histórias sobre medidas que, na Europa, só são comparáveis em dureza às que Manuela Ferreira Leite toma em defesa do controlo do défice ou à que o Senhor Prodi tomará, estou certo, em relação à França e à Alemanha. E de Mobutu em concreto se diz que, desconfiando da lealdade de um dos membros do seu governo, convocou um conselho de ministros ao qual não compareceu. Mandou, em seu lugar e com poderes para sanar a situação, um acólito do exército que, na dúvida, “demitiu” permanentemente de funções todo o elenco governamental. Ao autor destas linhas aconteceu que três cheques lhe foram passados e todos os três devolvidos. Contactou o facínora sobre quem tinha os créditos informando-o que os iria depositar no dia seguinte. Não conhecendo, ao tempo, o Presidente Mobutu, contentou-se com a resposta: “Ó dr., deposi-tá-los amanhã é uma desonestidade da sua parte porque sabe muito bem que não têm cobertura”. E esta relação entre a política e a economia não foi aqui trazida a despropósito. Diz-se que há um plano maquiavélico para derrubar o Ministro da Economia, substituindo-o, em posto, por candidatos de vária origem, como institutos públicos, empresas públicas e mesmo multinacionais ou institutos superiores de educação pós-licenciatura.

Diz-se que o ministro é mau, que cada semana que passa é mais um tiro no pé, que a Portucel foi o fim, que a ligação aos espanhóis é excessiva, que este plano da CGD em Espanha é para facilitar a vida aos ditos cá dentro, que quem o determinou foi o Primeiro-ministro na reunião com Aznar, enfim …que o Primeiro já lhe retirou dossiers, entre outras maldades. Diz-se, com igual frequência, que um presidente de um instituto público - que se prepara ou que está a ser preparado com afinco para ser membro do governo - teria afirmado perante colaboradores que o seu ministro “é um ministro de passagem, o próximo é muito melhor e até já foi patrão dele;” e “…, asseguro que durante esse outro tempo nunca vi o tal ministro fazer nada que o destacasse.” E o que faz o ministro? Convoca uma reunião com os vários presidentes de institutos públicos ou empresas participadas pelo Estado ou, ainda, restantes candidatos ao seu lugar? Falta à reunião e manda uma qualquer sétima escolha para secretário de estado demiti-los sem ser definitivamente, como Mobutu, claro - e põe cobro à situação?
Não! A grande diferença entre Carlos Tavares e Mobutu é o profundo sentido democrático que move o primeiro. E o Ministro tem dado uma grande lição. Se estou errado é que é pena e tudo o que eu julgava estratégia de Ministro da economia pode não passar de uma grosseira fuga de informação, só comparável àquela que aconteceu quando Veiga Simão decidiu - também com profundo espírito democrático - divulgar a lista dos espiões.

É que só um apurado sentido de democracia participativa pode justificar que os jornais de fim-de-semana, num momento em que está mais que nunca acesa a disputa entre um Ministro e alguns dos seus tutelados, sejam nutridos com tanta notícia apetitosa e tanta informação confidencial. E a novela promete continuar, porque explicar devagarinho é garantia do palco que, quer o ministro, quer os seus putativos sucessores apreciam. Fala-se de negócios imobiliários entre empresas participadas pelo estado e amigos dos seus dirigentes, bem como de divergências entre comissões de trabalhadores das mesmas empresas e a actual gestão, ilibando de responsabilidades as gestões anteriores, como que a pedido. Da suposta existência de uma nova confraria, a caminho - há quem me garanta que a mais de meio do caminho - de ser tão poderosa como a Opus Dei e a Maçonaria, mas integrada por gente que, não querendo correr qualquer risco pessoal, está disposta a vender o país aos espanhóis - o eterno perigo - apenas para garantir um lugar ao sol. São as mensagens sobre o efectivo poder do ministro que não quer deixar de ser ministro e sobre o presidente do instituto público que não é o único candidato a ministro. Sobre alguns de entre os jovens da nova confraria, que, na sua ânsia de gerir confortavelmente o risco que outros correm, também querem o lugar em causa. As notícias de que alguns dos criadores destas jovens criaturas, face ao resultado da sua criação se distanciam delas, lavando as mãos …
Certo é que “Na seita não há papão. Tudo tem explicação”.


para bom entendedor ...

Publicado por Manuel 10:03:00  

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